A culpa é deles

A minha sogra é psicóloga especializada em crianças e, de vez em quando, vou até sua biblioteca descobrir algum livro que possa contribuir na educação das minhas filhas. Esses dias achei um livrinho que na abertura tinha um desenho. Eram grupos de pais, professores e crianças, um grupo apontando para o outro e dizendo: “a culpa é deles!”

 

Pensei: “que desenho atual!”. Mas quando chequei a data do desenho descobri que era de 1982. Ou seja: nunca chegaremos a um ponto de satisfação plena com a escola. O aprendizado está em constante adaptação, essa é que é a verdade. E nunca chegaremos à escola ideal, precisamos reconhecer. Escolas são tentativas e, certamente, não será uma escola que vai formar seu filho. Serão seus exemplos. Da escola levamos amigos e, se tivermos sorte, professores inspiradores que nos deram caminhos para desenvolver nossas potencialidades. Mas, no final do dia, cada pai poderá ser essa inspiração. 

 

Quando minha primeira filha nasceu e estava chorando nos meus braços pela primeira vez no hospital, fui até o corredor falar com a enfermeira para que me ajudasse a cuidar do bebê. Ela então me disse, educadamente: “agora é com você, papai”. Fiquei assustado naquele momento, mas hoje entendo. Ela queria que eu aprendesse a ser pai sendo.

 

Agora é com você.

 

“A gente precisa parar de ter medo e encarar as questões mais desafiadoras relacionadas à criação dos nossos filhos”.

 

 

 

Não é com a escola, com o tablet, com o celular, com a Peppa Pig, o YouTube ou o Netflix. Não é com a sua sogra ou com os vizinhos que seu filho vai aprender sobre as coisas da vida. Agora é com você. Falar sobre a importância de entender as coisas, sobre estudo, sexo, drogas, consequências do que fazemos, vício em tecnologia bullying. Agora é com você! A gente precisa parar de ter medo e encarar as questões mais desafiadoras relacionadas à criação dos nossos filhos.

 

Se não for assim, será para sempre como naquele desenho. Apontaremos para todos os lados dizendo, eternamente:

“a culpa é deles”.

 

Marcos Piangers

Fonte: Revista Versar

 

Crônica publicada em 12/2017