A Maçonaria e o Exército Brasileiro

 

Maçonaria – Misteriosa e lendária, é uma sociedade fechada, composta de pessoas que professam princípios de fraternidade e que se tratam por irmãos, unidos em suas dificuldades  e em suas aspirações. Reúnem-se em grupos e locais denominados Lojas. Não há distinção entre os maçons – são todos iguais e obedecem à hierarquia da Ordem – não há  competição de sabedoria, nem demonstração de superioridade. O saber não prevalece sobre o não saber, a consciência de cada um é a superfície refletora de seu comportamento, fazendo com que seus recursos materiais e espirituais sejam destinados aos benefícios de muitos, mesmo onerando suas responsabilidades, mas aparando as arestas da paixão, que provoca  os conflitos da alma humana. Os títulos, as comendas e o poder econômico são despojados dos Irmãos, que se tornam puros, ao transpor os umbrais do Templo Maçônico. Assim, são os maçons homens livres de espírito, voltados ao estudo laborioso que garante a tradição maçônica.

 

Os Primórdios da Maçonaria no Brasil

 

Segundo a tradição geral, a “Arte Real” nasceu como uma associação de liturgia com finalidade político-sociais.

 

A notícia que temos do surgimento da primeira Loja, nos diz que foi em Pernambuco, com a denominação mascarada de “Areópago de Itambé”, sendo instalada em 1769, pelo botânico Manoel de Arruda Câmara, ex-frade Carmelita, diplomado em medicina pela Faculdade de Montpellier.

 

Possivelmente os movimentos maçônicos precedem à data em que foi fundado o  “Areópago  da Itambé”, pois  temos notícias da existência de clubes e academias  literárias, cujos membros e ideais se confundiam com as ideias libertário-macônicas.

 

Podemos citar a “Associação Literária dos Selectos”, do Rio de Janeiro, em 1752; da “Academia dos renascidos”, na Bahia, em 1759; a “Socientífica” no Rio de Janeiro, em 1772 e a “Arcádia Ultramarina”, do Rio de Janeiro, em 1786, e quem sabe quantas mais!

 

O “Areópago de Itambé” estava localizado entre os estados de Pernambuco e Paraíba, portanto, fora dos inconvenientes das cidades. Levando-se em conta que é considerada como sendo a primeira Loja Maçônica no Brasil, citaremos o nome de alguns de seus membros: Dr. Manoel de Arruda Câmara, os irmãos Luiz Francisco de Paula e André Dias de Figueiredo, os padres Antonio Velho Cardoso José Pereira Tinoco, Antonio D’Albuquerque Montenegro e João Ribeiro Pessoa  e mais tarde, J. J. Azeredo Coutinho, Bispo de Olinda, Monsenhor Muniz Taveres, padre Miguel Joaquim de Almeida, de alcunha “Miguelinho”.

 

Todos os historiadores e escritores maçons fazem questão de publicar e referir os nomes de clero católico que pertencem ao primeiro movimento maçônico. Não vemos nada de importante e extraordinário nisso, pois a participação do clero deve ser considerada como fator muito natural face, ao objetivo primordial do movimento, que era o ideal  patriótico de liberdade.

 

A inclusão do clero na Maçonaria do Brasil constitui uma prova idônea de que o movimento maçônico teve raízes anteriores a 1738, data da primeira encíclica papal condenando a Maçonaria, que é a “Constituição” “IN EMINENTI” de Clemente XII, de 28 de abril de 1738.

 

Antes de 1738, não era vedado ao clero tomar parte na Maçonaria, portanto não se pode estranhar a sua presença no movimento patriótico libertário, que teve suas primeiras manifestações em 1706, com as guerras civis de Emboabas e Mascates (1706 – 1714) e a revolta de 1720 de Vila Rica, causada pela Carta Régia de 19 de fevereiro de 1719, que ordenara a fundição de todo ouro, proibindo sua circulação no Brasil.

 

A Encíclica “IN EMINENT” não causou qualquer transtorno aos padres maçons os quais continuaram com o mesmo entusiasmo inicial, aumentando de número e ingressando em todas as Lojas que se instalavam.

 

No Brasil, até a proclamação da Independência, não houve motivo para o surgimento de cisões dentro das Lojas, motivadas por princípios religiosos. Havia uma única preocupação, a de libertar o Brasil, evidentemente conservados os princípios filosóficos e morais da instituição.

 

A participação do clero, desde o descobrimento do Brasil até a sua Independência, foi benéfica para o País, pois aquele fazia parte da parcela intelectual, indispensável em todo o processo evolutivo.

 

Até 1822, a Maçonaria não usou a política para conseguir alcançar seus ideais; a luta pela Independência de um povo jamais pode ser considerada como trabalho político. 

 

De 1822 em diante, sim, houve grande atividade política dentro das Lojas, mormente com José Bonifácio, responsável pelo desvirtuamento dos objetivos maçônicos, como a história propaga com fartura.

 

O movimento de libertação não se resumira apenas em libertar o Brasil dos domínios de Portugal, mas também da opressão, intolerância, discriminação e perseguição “religiosa”, representada pelo Tribunal da Inquisição”e do “Santo Ofício”.

 

Essa opressão, intolerância, discriminação e perseguição haviam criado raízes no País e permaneceria mesmo proclamada a Independência, caso os heróis anônimos maçons não estivessem alerta e não procurassem “limpar toda a área”, definitivamente.

 

A Maçonaria  proporcionou ao Brasil um clima de tranquilidade e, na passagem de Colônia a Império e de Monarquia a República, os movimentos foram pacíficos porque souberam imprimir e plasmar aos homens de ideal, bases sólidas de compreensão entre os brasileiros e amor à Pátria.

 

Do “Areópago de Itambé” saíram os emissários que formariam novos núcleos maçônicos em toda parte e em grande número.

 

O sigilo, porém, tornava-se o maior inimigo da história e os detalhes sobre essas inúmeras Lojas perderam-se totalmente. Somente um estudo organizado e oficial poderia, de pesquisa em pesquisa, quiçá descobrir o que ainda nos oculta a história.

 

As autoridades portuguesas, muito bem informadas, provavelmente por meio de infiltração dentro das próprias Lojas, descobriram as conspirações e o “Areópago de Itambé” se dissolveu, em 1801.

 

Aparece no mesmo ano de 1801, na Praia Grande (hoje Niterói) a Loja “UNIÃO, ou REUNIÃO”, eis que existe certa confusão em torno dos dois nomes. A Loja recebeu sua patente do Grande Oriente da Ilha de França e adotou o rito “Adoniramita”. Mais tarde, fundiu-se com as Lojas “Constância” e “Filantropia”.

 

No ano de 1802, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, que participara do “Areópago de Itambé”, fundava na cidade do Cabo, província de Pernambuco, no engenho de Suassuna, a “Academia de Suassuna”.

 

Ao mesmo tempo, em Recife, o padre João Ribeiro Pessoa, também participante do “Areópago de Itambé”, fundava a “Academia do Paraíso”.

 

Em 5 de julho de 1802, instalou-se em Salvador a Loja “Virtude e Razão”.

 

O surgimento dessa Loja provocou a primeira “tempestade” maçônica, pois as Lojas iam surgindo e se filiando ao Grande Oriente de França, causando mal estar ao Grande Oriente Lusitano, alimentado pela Inglaterra, evidentemente.

 

Os emissários portugueses aqui chegados trataram de fundar duas Lojas: “Constância” e “Filantropia”, em 1803.

 

A Loja “Virtude e Razão” permaneceu sem obediência e a Loja “Reunião”, passou a ser pressionada de tal forma que, em 24 de junho de 1805, abateu colunas.

 

Os autores maçons dão versões diversas à missão dos emissários do Grande Oriente Lusitano. Contudo, o interesse da Inglaterra fora, evidentemente, evitar que o Grande Oriente de França pudesse penetrar na América Latina, mormente no Brasil. Eram os ingleses que se serviam de Portugal para seu controle indireto, como mais tarde se serviriam de Hipólito da Costa.

 

Em 2 de agosto de 1806, o Vice-Rei, D. Marcos de Noronha e Brito, fechou as duas Lojas “Constância” e “Filantropia” que tiveram duração efêmera.

 

Em 30 de março de 1807, na Bahia, doze membros da “Virtude e Razão”, em dissidência, fundaram a Loja “Virtude e Razão Restaurada”, nome que em 10 de agosto de 1808 foi alterado para o de “Humanidade”.

 

Com a chegada ao Brasil de D. João, Príncipe Regente, em janeiro de 1808, a Maçonaria começou a ter um período tranquilo, talvez porque com o príncipe tivessem chegado maçons de elevados graus.

 

Em 1809, surgiu em Pernambuco a Loja “Regeneração”, nas proximidades de Olinda, sendo seus fundadores membros que pertenceram ao “Areópago de Itambé”.  

 

Em 1812, em terras fluminenses surgiu a “Distintiva”.

 

É incompreensível que, gozando de relativa liberdade, a partir de 1808, apenas surgisse a Loja “Regeneração”, e durante quatro anos, não fossem instaladas outras Lojas. Forçosamente, há um hiato que, certamente, dias mais dias menos, a história há de esclarecer.

 

De 1812 a 1816 surgiram as seguintes Lojas: “Oficina de Igarassu”, em Pernambuco.

“Universidade Democrática”, em Recife. “Pernambuco do Oriente”, em Recife. “Pernambuco do Ocidente”, em Recife. “Restauração, e “Patriotismo”, em Pernambuco, e “Guatimosim”, em Recife.

 

Em 12 de setembro de 1813, obreiros da Loja “Virtude e Razão” fundaram na Bahia a Loja “União”.

 

As três Lojas, “Virtude e Razão”, “Humanidade” e “União”, no mesmo ano de 1813, instalaram o primeiro “Grande Oriente Brasileiro”, sendo proclamado Grão Mestre, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.

 

Em 1815, no dia 15 de novembro, surgiu no Rio de Janeiro a Loja “Comércio e Artes”, mas não se filiou ao novel “Grande Oriente Brasileiro”, e sim ao “Grande Oriente Lusitano”.

 

Esse fato, que poderia suscitar espécie, talvez fosse devido à influência de Joaquim Gonçalves Ledo, que na época se encontrava em Portugal, e de lá escrevia interessado em fundar Lojas que se constituíssem “Centros de propaganda liberal no Brasil”. “Quando Ledo retornou filiou-se à “Comércio e Artes”, adotando o nome de Diderot”.

 

Essa Loja teve uma grande atuação e desenvolvimento, dando origem a mais duas Lojas surgidas em 1816: “Beneficência” e “S. João de Bragança”. Esta funcionava no Paço Real, no Rio.

 

No Rio, para que as Lojas formassem uníssonas, foi criada uma “Grande Loja Provincial” que as abrangia.

 

Os planos para a revolução republicana estavam prontos e o movimento eclodiu no dia 6 de março de 1817.

 

Houve o fechamento de algumas Lojas, entre as quais a “Humanidade” da Bahia, em 4 de junho de 1817, posto erguesse as suas colunas em 19 de março de 1820, para readormecer em 26 de outubro de 1821 e tornar a reaparecer em 19 de maio de 1834.

 

Sufocada a revolta com muito sangue, D. João VI baixou o alvará de 30 de março de 1818, proibindo o funcionamento das “Sociedades Secretas” em Portugal e em todos os seus domínios, sob as mais severas penas.

 

A Loja  “Comércio e Artes” entrou em recesso a partir de 1818, mas sempre “in viliando”, a Maçonaria passou a ter dois propósitos diversos, posto que não divergentes: A Maçonaria Vermelha que deseja uma república democrática e a Maçonaria Azul que propugnava pôr uma monarquia constitucional parlamentar.

 

Em 1819, surge inspiração de Ledo, a Loja disfarçada em Clube: “Clube Recreativo e Cultural da Velha Guarda” que, no Rio, passa a contar com novos entusiastas da causa libertária.

 

Com  a revolta de 26 de fevereiro de 1821, foi o Clube sumariamente fechado, sendo presos o vice-almirante Rodrigo Pinto Guedes e inúmeros companheiros.

 

Em 24 de abril de 1821, D. João VI retornou a Portugal, deixando como regente a D. Pedro I. Houve relaxamento de vigilância aproveitado pelos maçons, reinstalando-se em 24 de junho de 1821 a Loja “Comércio e Artes na Idade do Ouro”.

 

José Bonifácio infiltra-se na corte e, mercê de sua habilidade política, faz-se amigo de D. Pedro I e da Princesa Leopoldina.

 

“Libertado Ledo da prisão, retornou, esse às atividades maçônico-revolucionárias e dentro da ‘Comércio e Artes”, publica o primeiro jornal que se possa considerar maçônico: “Revérbero Constitucional Fluminense”.

 

Surge o célebre manifesto, obra de José Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo, com oito mil assinaturas, entregue ao Príncipe em 9 de janeiro de 1822, que constitui o primeiro passo, à descoberto, a caminho da Independência.

 

Em 17 de junho de 1822, é criado o “Grande Oriente Brasiliano” e, então a Loja “Comércio e Artes” é desdobrada em três Lojas Metropolitanas, sendo proclamado Grão Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva.

 

Graças a rivalidade, já agora política, entre Gonçalves Ledo e José Bonifácio, funda este o seu “Apostolado”, a “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”, isto em 2 de junho de 1822, participando D. Pedro, com o título de “Archonte-rei”.

 

As três Lojas Metropolitanas passam a usar os nomes: “Comércio e Artes da Idade do Ouro”, “União e Tranquilidade” e “Esperança de Niterói”.

 

Ainda deve-se registrar a fundação da Loja “Seis de Março”, em Recife, em 1821, “Mineiros Reunidos”, em Vila Rica, em 1822, “União e Tranquilidade”, no Rio de Janeiro em 17 de junho de 1822. “Esperança de Niterói”, no Rio, na mesma data e “Le Bouclier de L’Honeur”, no Rio, em 1822.

 

A Independência do Brasil

 

Com o fracasso da Revolução de 1817 e a paralisação momentânea dos trabalhos nas Lojas Maçônicas, os maçons lentamente, mas com entusiasmo, reiniciaram as reuniões, até que a Loja “Comércio e Artes” começou a abrigar novamente os maçons dispersos.

 

O clima de libertação sentia-se tão acentuado que a prudência foi posta de lado e a “trama” foi reatada, evidentemente com parcial conhecimento das autoridades portuguesas.

 

Em 30 de março de 1818, foi expedido um alvará referendado pelo Ministro Tomás Antônio de Vila Nova Portugal, proibindo o funcionamento das sociedades secretas.

 

A Loja “Comércio e Artes” não teve outra alternativa, senão fechar as suas portas.

 

O maçom José Joaquim da Rocha que, em 1813 fundara a “Loja Distintiva”, em Praia Grande (Hoje Niterói), lançando um desafio ao Alvará proibitivo, funda em sua própria casa (Rua da Ajuda) o “Clube da Residência” e chama todos os maçons à luta.

 

Já não se trata de Maçonaria, mas de um verdadeiro reduto de patriotas com a exclusiva finalidade de libertária.

 

Nesse ínterim, em 28 de setembro de 1821, as Cortes aprovam os Decretos de N.º 124 e 125, organizam a estrutura política do Brasil e determinam a retirada do Príncipe Real, Decretos que chegaram ao Brasil em 9 de dezembro de 1821.

 

No Senado, aproveitando o número presente superior de portugueses, aprovaram a viagem do Príncipe D. Pedro, por 53 votos contra 44.

 

Estava consumada a decisão das Cortes e o Brasil, sem o seu Príncipe Regente retornaria à condição de colônia.

 

Naquela mesma reunião, levanta-se o médico Cipriano José Barata, deputado pela Bahia e com ardor pronuncia célebre discurso. Era  o mesmo maçom que lutara em 1817 e que reacendia a chama do patriotismo.

 

Cumpria, agora, a tarefa do “Clube da Resistência” e José Joaquim da Rocha determinou três providências: consultar a D. Pedro como receberia o movimento para a sua permanência no Brasil obter a adesão do maçom José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara e enviar emissário a São Paulo e a Minas para obterem adesões.

 

Coube ao ardoso maçom Coronel Francisco Maria de Barbuda (futuro Marquês de Paranaguá) sondar o Príncipe, obtendo dele a adesão. José Clemente Pereira aderiu ao movimento com entusiasmo; São Paulo e Minas corresponderam à expectativa remetendo por meio dos emissários Paulo Barbosa da Silva e Pedro Dias Paes Leme mensagens de incondicional apoio.

 

Essas mensagens foram divulgadas imediatamente e, no dia 9 de janeiro de 1821, na sala das sessões  do Senado da Câmara, seu presidente José Clemente Pereira pronunciou seu célebre discurso, obtendo do Príncipe D. Pedro esta resposta:

 

“Convencido de que a presença de minha pessoa no Brasil interessa ao bem de toda nação portuguesa, conhecido que a vontade de algumas Províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Cortes e meu Augusto Pai e Senhor deliberem a este respeito, com perfeito conhecimento das circunstâncias que têm ocorrido”.

 

Essa resposta foi repetida de uma das janelas do Paço ao povo. A resposta de D. Pedro não correspondera a expectativa e o Príncipe notando o descontentamento, resolve, horas depois, alterá-la e determinou a José Clemente Pereira que disse ao povo:

 

“Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”.

 

A Divisão Auxiliadora Portuguesa considerou o gesto do Príncipe como ato de rebeldia contra as Cortes e resolveu prendê-lo e conduzi-lo para Lisboa.

 

Avisado, D. Pedro determinou que sua família partisse para Santa Cruz e tomou providências para neutralizar a ação belicosa do General Jorge Avilez.

 

Por outro lado, os maçons do “Clube da Resistência” saíram à rua e sublevaram o povo, dirigindo-se todos, cerca de dez mil pessoas, para o Campo de Santana. Jorge Avilez, notando a diferença de forças, retirou-se  e pediu permissão a D. Pedro para recolher as suas forças para a Praia Grande. Com  a anuência do Príncipe, cessou a tentativa de luta, cujos movimentos alastram-se até o dia 12.

 

Avilez, porém, planejava fortificar-se e aguardar reforço portugueses, mas a 1º de fevereiro o Intendente General  de Polícia mandou cortar todas as comunicações com a Praia Grande, isolando a tropa portuguesa. No dia 12 de fevereiro, a tropa do general Avilez embarcava de retorno a Portugal no navio “União”, capitânea da frota.

 

O movimento engendrado no seio da Maçonaria vencera a primeira etapa.

 

A segunda consistia na obtenção de uma Assembléia Geral Constituinte.

 

Apesar do seu ato de rebeldia, D. Pedro sentia-se, ainda, o Imperador ligado às Cortes, e por isso, ao ser posto a par da pretensão de Gonçalves Ledo, que representava a opinião da Maçonaria, no desejo de ser obtida uma Constituinte Brasileira, escrevia ao seu Augusto pai D. João VI:

 

“É necessário que o Brasil tenha Cortes suas: esta opinião generaliza-se cada dia mais. O povo desta Capital prepara uma representação que me será entregue para suplicar-me que as convoque, e eu não posso a isso recusar-me, porque o povo tem razão, é muito constitucional, honra-me sobremaneira e também a Vossa Majestade, e merece toda sorte de atenções e felicidade. Sem Cortês o Brasil não pode ser feliz. As leis feitas tão longe de nós por homens que não são brasileiros, e que não conhecem as necessidades do Brasil, não poderão ser boas. O Brasil é um adolescente que, diariamente adquire forças. Deve ter em si tudo quanto lhe é necessário, e é absurdo retê-lo debaixo da dependência do velho hemisfério”.

 

A distância, porém, entre o Brasil e Portugal e, considerando a única comunicação a via marítima, proporcionava, aos maçons vantagens.

 

No dia 23 de maio de 1822, o Senado comparecia à presença de D. Pedro e seu Presidente, José Clemente Pereira, lia o discurso redigido por Gonçalves Lêdo e pelo Cônego Junuário da Cunha Barbosa, ilustres membros da Loja “Comércio e Artes”.

 

D. Pedro ouviu o inflamado discurso e vacilante deu a seguinte resposta:

 

“Fico ciente da vontade do povo do Rio e tão depressa a das demais Províncias, ou pelas Câmaras ou pelos Procuradores Gerais, receba, então imediatamente me conformarei com os votos dos povos deste grande, fértil e riquíssimo País”.

 

A Maçonaria agiu apressadamente. Convocou eleições imediatas e foram eleitos para Procuradores do Rio de Janeiro os maçons Gonçalves Lêdo e José Mariano de Azevedo Coutinho que requereram ao Príncipe a convocação da Assembléia Constituinte.

 

O Príncipe rendeu-se à veemência do pedido e a convocou para o dia 3 de junho de 1822.

 

Vitoriosa era a segunda etapa; partiram os maçons para a etapa final: a Independência .

Já livres, sem a presença incômoda do Conde D’Arcos, as Lojas em franca atividade, os maçons decidiram que o Brasil deveria libertar-se de Portugal.

 

Acorreram às Lojas todos os antigos iniciados; os temerosos perderam o receio; os que estavam sob processo, nada mais temiam; os jovens entusiastas da libertação foram imediatamente recebidos até que na memorável sessão de 13 de julho de 1822, na Loja “Comércio e Artes”, foi proposto e aceito o nome do candidato Príncipe D. Pedro recebendo o nome simbólico de “Guatimozin”. Já a 2 de agosto de 1822, foi D. Pedro eleito Grão Mestre, face a sua condição de Príncipe Regente e devido a tática de Gonçalves Lêdo que desejara neutralizar a José Bonifácio.

 

Três dias após sua iniciação, D. Pedro era elevado a Mestre e a 2 de agosto a Grão Mestre.

 

Muitas críticas foram lançadas pela precipitada elevação de Aprendiz a Mestre e a Grão Mestre.

 

Quem não conhece os rituais não sabe que os Aprendizes sentam em um banco sem encosto e em lugar secundário dentro da Loja. Como se sentiria D. Pedro naquela posição? Como poderia receber ordens e lições de seu Ministro, na posição de Venerável dentro da Loja?

 

A Maçonaria jamais poderia diminuir a D. Pedro e melindrá-lo, eis que necessitava de toda sua simpatia e apoio.

 

A elevação de Aprendiz para Mestre depende apenas do conhecimento de “palavra, sinais e toque”. Não será um lapso determinado de tempo, o fator importante para um aumento de “salário”, mormente considerando-se que na Loja “Comercio e Artes” apenas estavam cogitando da Independência e não de cultivar filosofia!

 

A consagração de Grão Mestre não passa de um ato administrativo. A presença do Príncipe na Loja exigia o respeito cerimonioso da época que não podia ser ignorado. O Príncipe exigia tratamento adequado, dentro e fora da Maçonaria.

 

Despertava o dia da Independência, e já os homens passaram a satisfazer as suas aspirações pessoais, surgindo rivalidade e disputas.

 

À Maçonaria não interessava propriamente, a pessoa de D. Pedro, mas, sim, a sua adesão ao movimento revolucionário.

 

Seria desprezar e subestimar a pessoa do Príncipe julgar que entrara na Maçonaria sem conhecer adredemente todo plano da Independência. D. Pedro era uma das figuras no jogo de xadrez que de há muito se jogava.

 

Há muita especulação em torno da admissão do Príncipe na Maçonaria, e os nossos historiadores ainda não se puseram de acordo para esclarecer devidamente todas as circunstâncias e fatos.

 

A 1º de agosto, D. Pedro edita seu célebre manifesto aos Povos do Reino do Brasil.

E ao, mesmo tempo, outro aos Governos e Nações amigas.

 

Esses manifestos, por si só, diziam da intenção de D. Pedro e nada mais se poderia esperar que a Independência.

 

Afirmar que esses manifestos foram redigidos por Gonçalves Lêdo. Isso seria uma injustiça, pois D. Pedro tinha o preparo intelectual e o amor ao Brasil, suficientes para prepará-los.

 

Foi na sessão de 20 de agosto de 1822, na Loja “Comércio e Arte”, que Gonçalves Lêdo proclamou a Independência do Brasil e, se  assim o fez, foi porque sabia perfeitamente da anuência e planos de D. Pedro. Essa proclamação, contudo, fora platônica; era a manifestação inequívoca de que se devera à Maçonaria  a vitória final.

 

Não fora uma vitória da Loja “Comércio e Artes”, pois nas reuniões, desde a fundação do “Clube da Resistência”, marcavam presença delegações de todas as Lojas do Rio de Janeiro.

 

Não podia Gonçalves Lêdo em nome da Maçonaria, tomar decisão de um ato público, pois isso cabia, em nome da Maçonaria, ao seu Grão Mestre e em nome do Brasil, ao seu Príncipe, Protetor e Defensor perpétuo.

 

O grito do Ipiranga de 7 de Setembro não fora uma burla, mas um gesto espontâneo surgido do entusiasmo de D. Pedro. Na sua viagem para São Paulo, recebera um emissário com notícias de Portugal, resposta às suas cartas, dando-lhe conta da Assembléia Constituinte. Portugal não aceitara o ato nacionalista. O momento psicológico surgira e D. Pedro, desembainhando a espada (um reflexo de cerimonial maçônico) gritou: “Independência ou morte”!

 

A declaração da Independência era fato já decidido. Ignora-se a existência da data prefixada, como se ignora o motivo da viagem de D. Pedro.

 

D. Pedro participara do movimento consciente e entusiasticamente; agira como verdadeiro patriota, pronto a enfrentar possível resistência, apesar de diminutas forças portuguesas , já que o General Jorge Avilez fora expulso do Brasil com sua tropa composta de dois mil homens.

 

D. Pedro preparara o ambiente propício, pessoalmente; a Maçonaria conseguira atraí-lo para somar forças. As atitudes de D. Pedro foram sempre coerentes, medidas e acertadas.

O que se pode afirmar, fazendo justiça, é que a Maçonaria, ao conquistar a adesão de D. Pedro, conseguira consumar o ideal da Independência.

 

Chegado a São Paulo, os membros da comitiva encarregaram-se de noticiar a nova e o povo aglomerou-se em torno de D. Pedro, aclamando-o e festejando com entusiasmo a Independência.

 

No dia 14 de setembro de 1822, voltara de São Paulo e, na mesma noite, comparecia à Loja, onde foi empossado Grão Mestre.

 

A 1º de dezembro, foi realizada a coroação numa solenidade pomposa, sendo consagrante o Bispo D. José Caetano da Silva Coutinho, figura proeminente da Maçonaria. D. Pedro proferiu o juramento em latim:

 

“Eu, Pedro I, por graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil juro observar e fazer observar constitucionalmente as leis do Império; defender, conservar e manter a religião Católica Apostólica Romana; observar e fazer observar com todas as minhas forças sua integridade. Assim me ajudem Deus e os Santos Evangelhos”.

 

O juramento tem características maçônicas e, por si, só desmente as injúrias assacadas contra a Maçonaria de que sempre fôra inimiga da Igreja.

 

Surgia o Império do Brasil. E, com o Império, seu primeiro Imperador: D. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga!

 

D. Pedro I vivera com tamanha emoção os acontecimentos que, aproveitando versos do maçom Evaristo Ferreira da Veiga, compôs a música do “Hino Constitucional Brasileiro”, posteriormente, e “Hino da Independência” o vibrante: Já podeis da Pátria Filhos, ver contente a Mãe gentil; já raiou a liberdade no horizonte do Brasil ...

 

É evidente que D. Pedro necessitava comunicar a sua decisão ao seu Augusto pai e o fez em carta impetuosa datada de 22 de setembro de 1822.

 

Cessada a luta para a Independência, e sendo muito prematuro cogitar da República, eis que os homens se desentendem na busca de favores centro do novo Império.

 

Designado ministro, José Bonifácio desentende-se com Gonçalves Lêdo e prepara os elementos necessários para suprimi-lo, bem como ao seu grupo de “maçons”. A posição do também maçom José Bonifácio não está muito bem definida, mas obtém de D. Pedro o decreto de segregação dos seguintes maçons: Domingos Alves Branco Muniz Barreto, João da Rocha Pinto, Luiz Manuel Alves de Azevedo, Thomaz José Tinoco, José Joaquim Gouvêa, Joaquim Valério Tavares, João Soares Lisboa, Pedro da Costa Barros, João Fernandes Lopes, Joaquim Gonçalves Lêdo, José Clemente Pereira, Luiz Pereira da Nôbrega de Souza Coutinho, Januário da Cunha Barbosa e Padre Antonio João Lessa.

 

Alguns foram imediatamente presos; outros deportados, em 20 de dezembro, para a Europa.

 

Porém, em 20 de julho de 1823 foram os acusados absolvidos, com exceção do português João Soares Lisboa.

 

Em 25 de outubro de 1822,  D. Pedro I determinou o fechamento do “Grande Oriente do Brasil”, como “suspensão” provisória.

 

A Maçonaria, no entanto, reagiu e fez ver ao Imperador o absurdo das acusações e, imediatamente, a ordem foi revogada.

 

José Bonifácio, vendo que o Imperador continuava prestigiando a Maçonaria, pediu demissão de seu cargo do Ministro, no dia 17 de julho de 1823.

 

Gonçalves Lêdo refugiou-se na Argentina, onde entrou imediatamente em contato com a irmandade maçônica e permaneceu em companhia do prócer Carlos Alvear.

 

Com a caída dos Andradas, e sua deportação, retornou Gonçalves Lêdo ao Brasil, em 21 de novembro de 1823, e tornando a ocupar a sua cadeira de deputado pelo Rio de Janeiro. Lêdo morreu a 19 de maio de 1847, sem ter participação na abdicação de D. Pedro I, no dia 7 de abril de 1831.

 

José Bonifácio, que já havia ocupado o cargo de Grão Mestre no “Grande Oriente Brasiliano”, foi  eleito a 17 de junho de 1822, posteriormente denominado “Grande Oriente do Brasil”.

 

Com os acontecimentos anteriores, o “Grande Oriente Brasiliano” cessara as suas atividades, dando lugar, em 24 de junho de 1931, ao novo “Grande Oriente Brasileiro”, fundado pelas Lojas “Vigilância da Pátria”, “União” e “Sete de Abril”.

 

José Bonifácio surge e, na mesma data, 23 de novembro de 1831, se dá como reinstalado o antigo “Grande Oriente” e solicita a adesão de Grande Oriente do Passeio, sendo repelido. Desse Grande Oriente fazia parte Gonçalves Lêdo.

 

O “Grande Oriente do Passeio” subsistiu até 1861, e o “Grande Oriente Brasileiro” retornou como única potência, abrigando 63 Lojas e 46 Capítulos.

 

José Bonifácio, em 1831, volta à Câmara dos Deputados pela Bahia e, em virtude do ambiente de verdadeira anarquia na Regência, em 1833, ele é suspenso do exercício da tutoria do Imperador menino, preso e processado como réu de  traição à Pátria e é exilado para a Ilha de Paquetá. É absolvido, mas já com a idade avançada, 75 anos, adoece e morre no dia 6 de abril de 1838.

 

A  Inconfidência Mineira

 

Nos preocupamos em demonstrar a interferência da Maçonaria na libertação do Brasil, por isso  não detalharemos como se iniciou o movimento inconfidente que culminou com o sacrifício de Joaquim José da Silva Xavier.

 

Fixar-nos-emos somente na figura de Tiradentes, para afirmarmos, com fundamento no que dizem os historiadores, de que ele, antes de tomar qualquer iniciativa na participação do movimento, fizera-se maçom. Onde e quando, ainda não conseguimos descobrir, pois há muita divergência em torno dos fatos; em Vila Rica, pelas mãos do Dr. José Alvares Maciel, seja na Bahia ou Pernambuco, numa Loja Brasileira ou Inglesa, o que interessa é que Tiradentes era maçom.

 

Tiradentes, Alvarenga e Francisco de Paula eram tidos como “mazombos”, nome dado na época aos maçons e se reuniam numa chácara de propriedade de Francisco de Paula, que era militar e onde foram traçados os ousados planos de independência.

 

Foi em Tijuco (Diamantina), que Tiradentes  encontrou ambiente propício para fundar uma Loja Maçônica, evidentemente com a finalidade precípua de congregar elementos interessados no movimento revolucionário, fazendo parte José da Silva e Oliveira que cedera sua casa para as reuniões maçônicas. Seu filho, o Padre Rolim, foi o único a ser preso e desterrado daquele grupo, porque fora visto no Rio de Janeiro em companhia de Tiradentes. Quem revelou toda trama foi o também maçom Joaquim Silvério dos Reis, que tudo contara ao Visconde de Barbacena.

 

Tiradentes, na qualidade de Alferes, possuía muitas relações entre os militares, obtendo apoio de muitos deles, dentre os quais seu comandante, o tenente-coronel   Francisco de Paula.

 

Entre Tijuco, Vila Rica e Rio de Janeiro formou-se um triângulo de informações, recebendo, da Europa, notícias sigilosas dos movimentos libertários e evidentemente provenientes da Inglaterra por meio dos contrabandistas de diamantes brutos.

 

O médico José Joaquim Vieira Couto regressara da Europa e estabelecera-se em Tijuco, passando logo a frequentar a Loja maçônica, eis que fora iniciado em Coimbra. Um fato a notar é que, sendo as reuniões feitas dentro da Loja Maçônica, somente os maçons tinham acesso a elas.

 

Pelo fato do movimento revolucionário incluir maçons e ter sido produto de trabalho maçônico, a Inquisição interferiu no julgamento dos que foram presos.

 

Uma autoridade em história, J. Felício dos Santos, em suas Memórias do Distrito Diamantino da Comarca de Serro Frio, espanta qualquer dúvida possível com relação a participação ativa da Maçonaria na Inconfidência, dizendo ele em determinado trecho; “A Inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela Maçonaria. Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros-livres”. E, mais adiante, faz uma descrição a respeito da maçonaria; deve-se ater que Felício dos Santos escreveu as suas memórias em 1864:

 

“A Maçonaria oferecia o tipo de uma sociedade organizada sobre princípios diferentes da sociedade civil: sua base fundamental era a igualdade dos homens. No interior de suas Lojas liam-se, por entre emblemas fúnebres aterradoras máximas como esta: “As distinções humanas aqui são desconhecidas; se ainda as reconheceis, retirai-vos”. Não tinha por fim atacar a religião, como injustamente foi acusada; pelo contrário, uma das perguntas, que se fazia ao neófito, era se tinha uma crença, ao menos o deísmo, para poder ser admitido e filiar-se. Um dos seus principais dogmas era a filantropia. Não sabemos como a Maçonaria se introduzira no Brasil; é certo, porém, que no meado do século passado já funcionava na Bahia o Grande Oriente Maçônico e é um fato que se não pode negar, a sua importante cooperação no trabalho lento, oculto, persistente, para a nossa independência. A Inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela Maçonaria. Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros livres. Quando Tiradentes foi removido da Bahia, trazia instruções secretas da Maçonaria para os patriotas de Minas. Em Tijuco, o primeiro que se iniciou foi o Padre Rolim, depois o cadete José Joaquim Vieira Couto e seus irmãos”.

 

O cadete José Joaquim Vieira Couto também fora perseguido e preso e embora solto mais tarde, faleceu devido o seu estado de saúde ter-se abalado pelas privações do cárcere.

 

Seu sepultamento foi feito de conformidade com o rito maçônico.

 

Foi um irmão desse cadete e de nome José Joaquim que, viajando para Lisboa, entrara em contato pela primeira vez com Hipólito da Costa e foi o causante involuntário da prisão de Hipólito, permanecendo ambos presos em Lisboa durante alguns anos.

 

Tendo Hipólito fugido e tendo José Joaquim sido solto, posteriormente pelo general Junot que conquistara Portugal, foi assassinado pelos portugueses que tentavam reconquistar sua pátria.

 

Desconhecem-se os planos que a Maçonaria elaborara para a revolta e apenas a história consignou o nome daqueles que foram presos. O dia da revolta deveria coincidir com a data da “derrama”, isto é, a cobrança dos “quintos” atrasados. Era o mero pretexto. Conseguida cópia da Constituição norte-americana, foi elaborada uma Constituição brasileira em casa de Cláudio Manuel da Costa, em Vila Rica, e ficara decidido que a Bandeira da nova República seria branca com um triângulo azul, branco e vermelho ao centro, com um índio quebrando grilhões e sobre o triângulo o dístico: “Libertas quae sera tamen” (Liberdade ainda que tardia).

 

Entre os conspiradores, destacavam-se: Tiradentes, Ignácio José de Alvarenga, Cláudio Manuel da Costa, José Álvares Maciel, Domingos Vidal de Barbosa, Carlos Toledo de Coreia e Melo, Manoel Rodrigues da Costa, José de Oliveira Rolim, Padre Rolim e dezenas de outros.

 

A denúncia da conspiração foi apresentada no dia 15 de março de 1789. Barbacena suspendeu a cobrança dos “quintos”, protelando, assim, automaticamente o desfecho da revolta e, com habilidade e infiltrações, conseguiu todas as informações necessárias para efetuar as primeiras prisões. No dia 10 de maio, Tiradentes foi preso e com ele, sucessivamente, todos os suspeitos. Cláudio Manuel da Costa foi encontrado enforcado no cárcere no dia 4 de julho de 1789.

 

Terminado os processos, foram condenados a morte doze conspiradores, cinco a degredo perpétuo e os restantes a degredo temporário.

 

A Carta Régia de 15 de outubro de 1790 comutou a pena dos condenados à morte, substituindo-a pelo degredo para a África, com exclusão de Tiradentes.

 

A 21 de abril de 1790, no Campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro, pelas 11:00 horas, foi Tiradentes enforcado. Seguiu-se o esquartejamento, cortada a cabeça e o “corpo dividido em quatro quartos”. Sua cabeça foi enviada a Vila Rica, onde permaneceu exposta, e as quatro partes foram expostas no trajeto Rio-Minas.

 

Arrasaram-lhe a casa, salgaram o chão do local e declararam infames os seus descendentes.

 

No dia 23 de maio de 1792, a bordo das naus Nossa Senhora da Conceição Princesa do Brasil e Nossa Senhora da Conceição Princesa de Portugal, partiam degredados para África os demais conspiradores, menos os clérigos que haviam sido julgados secretamente pelo Tribunal Eclesiástico, e que seguiram a bordo da Fragata Golfinho para Lisboa a 24 de junho de 1792.

 

Depois de algum tempo de prisão, alguns padres conseguiram o perdão e retornaram ao Brasil e, entre eles, o Padre Rolim.

 

Desconhece-se o número dos conspiradores julgados, condenados e degredados, mas bastaria o fato de terem sido empregados dois navios para que fossem transportados para a África, para calcular-se que o número era grande.

 

Como fato curioso e ainda em discussão, subsiste na cor da Bandeira de Minas Gerais, como se verifica adiante, por ocasião os debates ocorridos no dia 17 de abril de 1956 na câmara dos Deputados.

 

Ultimamente, surgiram notícias de que Tiradentes não usava barbas e houve até uma iniciativa de serem efígies substituídas, mas, tal tentativa foi abandonada sem conhecermos por que razões.

 

Também foi levantada a hipótese de que Tiradentes não fora enforcado, mas sim, libertado pela Maçonaria e conduzido para o Paraná onde mudara de nome, iniciando o tronco dos Brum; Tiradentes teria sido substituído por um malfeitor que já estava condenado à morte; esta hipótese, contudo, não encontra apoio em documento algum.

 

A Maçonaria na Regência e no 2º Reinado

 

A Regência estendeu-se de 1831 a 1840 e o 2º Reinado de 1840 a 1889.

 

Esse longo período de 58 anos foi coberto no Grande Oriente do Brasil pelos seguintes Grãos Mestres:

 

- Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva - de 1831 a 1838. Era, então, cronologicamente o 3º Grão-Mestre.  Antes houvera ele próprio e D. Pedro I.

- 4º Grão Mestre - Visconde de Albuquerque: 1838 a 1850;

- 5º Grão Mestre - Marquês de Abrantes: 1850 a 1863;

- 6º Grão Mestre - Duque de Caxias, assim considerado, por ter vindo como Grão Mestre de uma dissidência do grande Oriente Nacional Brasileiro, a qual se fundiu com o Grande Oriente do Brasil em 1852;

- 7º Grão Mestre - Barão de Cayru (Lavradio): 1863 a 1865;

- 8º Grão Mestre - Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho (Beneditinos): 1865 a 1883;

- 9º Grão Mestre - Conselheiro Joaquim Marcelino de Brito (Lavradio): 1865 a 1870;

- 10º Grão Mestre - Visconde do Rio Branco (Lavradio): 1870 a 1880;

- l 1º Grão Mestre - Marechal Francisco José Cardoso Junior (Lavradio): 1880 a 1885;

- 12º Grão Mestre - Visconde de Vieira da Silva: (Lavradio): de 1885 a 1889;

- 13º Grão Mestre - Visconde de Jari: 1889 a 1890.

 

Ação Maçônica na Regência e no 2º Reinado

 

Vejamos alguns sucessos máximos:

 

- Em 1835, na Guerra do Farrapos, que durou 10 anos, no sul do País, e estabeleceu a    efêmera República do Piratini, Bento Gonçalves, Canabarro e Garibaldi são Maçons.

 

- Em 1837, na Bahia, Francisco Sabino Vieira, o chefe da "Sabinada" e da República Bahiense, é Maçom.

 

- Em 1848, deflagrou-se novo movimento libertador em Pernambuco, a Revolução Praieira, e Joaquim Nunes Machado, seu chefe supremo, é Maçom.

 

Em 1861, na Questão Cristie, o Brasil enfrentou frontalmente a Inglaterra (rainha Vitória) e sustentou a firmeza do Imperador, porque todos os estadistas e todos os grandes do Império eram Maçons, como por exemplo: os barões de Macaúbes, Uruguaiana e Cotegipe; os viscondes de Cayru e Inhaúma, os marqueses de Sapucaia, ltajubá e Abrantes; a Igreja nas suas melhores expressões: Mont'Alverne e o Bispo-conde de Irajá; Silveira Martins, Saraiva e Saldanha Marinho; os dois Rio-Branco; o marquês do Herval, isto é, Osório; e Lima e Silva, o Duque de Caxias.  Ao iniciar-se a Questão Cristie, o Marquês de Abrantes era o Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil.

 

Em 1872, explodiu a Questão dos Bispos: o bispo de Olinda (D.  Frei Vital Gonçalves de Oliveira) e o do Pará (D.  Antonio Macedo Costa) pretenderam expulsar das irmandades os Maçons, que recorreram à justiça, com ganho de causa, sendo os bispos processados e presos por desacato à decisão do Governo.  Em 1875, Caxias assumiu a Presidência do Conselho de Ministros.  Teve a iniciativa de promover a anistia para os bispos que cumpriram pena de 4 anos numa fortaleza.  O Imperador, a princípio, recusou depois atendeu-o, sendo os bispos anistiados pelo Decreto nº 5.993, de 17 de setembro de 1875.

 

Em 1888, a abolição da escravidão.

 

O movimento abolicionista teve origem com o Regente Feijó.  Recebeu sempre o apoio e o vigor dos Obreiros do Grande Oriente do Brasil, e podem ser citados os nomes de inúmeros irmãos, inclusive os negros libertadores de sua raça, como José do Patrocínio, André Rebouças, Luiz Gama, Cruz e Souza e Teodoro Sampaio.

 

- Em 1889, a 15 de novembro, ocorreu a implantação da República. Foi outra assinalada vitória de Obreiros do Grande Oriente do Brasil.  Refere-se aos antecedentes, desde Tiradentes, e chega à Circular de Teófilo Otoni em 1860; Saldanha Marinho foi eleito deputado em 1862; o Manifesto Republicano de 1870, da autoria do Grão Mestre Saldanha Marinho; a fundação do Partido Republicano Paulista e o surgimento no Rio de Janeiro do jornal "A República”; a Convenção Republicana de Itu, em 1873; a eleição de três deputados republicanos em 1885; dois em São Paulo: Campos Sales e Prudente de Moraes, e um em Minas: Álvaro Botelho, todos Maçons; as conferências e os comícios populares de Lopes Trovão.  Silva Jardim, Coelho Lisboa, Macedo Soares, Aristides Lobo, Ferreira Viana, Lauro Sodré; a atuação da imprensa, destacando-se Quintino Bocaiúva em "0 País", Sampaio Ferrano "Correio do Povo" E Rui Barbosa no "Diário de Notícias", a pregação paulista de Ubaldino do Amaral, Américo de Campos, Rangel Pestana, Bernardino de Campos, Glicério, Américo Brasiliense; a contribuição gaúcha de Julio de Castilho e o seu jornal "A federação".

 

Primeiro  Governo Republicano

 

Coube a Quintino Bocaiúva organizar o Ministério.  Em carta dirigida à viúva do general Solon, escreveu Quintino Bocaiúva:

 

“Efetivamente, para a revolução, tratou-se de organizar o Governo Provisório.

 

Deste assunto já nos havíamos ocupado eu e meu ilustre antigo General Glicério (que felizmente está vivo), e o meu malogrado amigo Dr. Aristides Lobo, de saudosa memória.  

 

Quanto a essa organização, recebi eu carta branca, a qual usei.  Tanto o marechal Deodoro, como o Dr.  Benjamim Constant, desconheciam quase completamente o pessoal político republicano.

 

Estando o marechal enfermo e de cama, foi o Dr. Benjamim Constant quem me autorizou a compor o governo com os amigos que eu escolhesse.  Ponderei-lhe, então, que ele e o marechal Deodoro eram já membros do Governo e que eu indicaria os outros amigos que deviam acompanhá-los.

 

Devo dizer que, tanto eu como os outros procuraram escusar-se.  O marechal Deodoro entendia que o Dr. Benjamim Constant devia ser o chefe do governo; o Dr. Benjamim Constant entendia que este posto cabia ao marechal Deodoro.

 

Tendo eu, finalmente, apresentando os nomes dos companheiros que deviam compor o Governo perguntou-me o Dr. Benjamim Constant: "E o senhor ? ao que respondi: "Eu já estou no Governo desde que considero assegurada a República; o meu posto é no O País".

 

Nesse caso, retorquiu-me o Dr. Benjamim Constant: "Eu também ficarei fora.

 

Em seguida, depois de algumas considerações recíprocas, deliberamos ambos fazer parte do Governo Provisório".

(Transcrito das páginas 41 e 42 do livro de Leôncio Correia.  A Verdade Histórica sobre 15 de Novembro).

 

Ficou assim constituído o Primeiro Governo Republicano:

 

- Presidente da República - Marechal Deodoro da Fonseca, maçom.

- Ministro do Interior Aristides Lobo, Maçom

- Ministro da Fazenda e interinamente da Justiça - Rui Barbosa, maçom

- Ministro da Guerra - Benjamim Constant Botelho Magalhães, maçom.

- Ministro da Marinha - Chefe de esquadra - Eduardo Wandenko'K, maçom.

- Ministro das Relações Exteriores e interino da Agricultura, Comércio e Obras Públicas - Quintino Bocaiúva, maçom.

 

Foi, pouco depois, nomeado Ministro da Agricultura, Demétrio Ribeiro, maçom.

 

Como se vê, todos os componentes do nosso Primeiro Governo Republicano pertencia à Maçonaria, entre os quais vários militares.  Foi sobre o espírito maçônico, norteados pelos postulados maçônicos, que os promotores do movimento Republicano trabalhavam  num ambiente de verdadeira fraternidade, como sabem desenvolver os verdadeiros maçons.

 

Não há como negar, a República foi mais um triunfo da Maçonaria imortal.  Ela tem sobrevivido e sobreviverá a todas as bulas e burlas, por mais burlescas que sejam.

 

A Maçonaria ainda não terminou a sua missão.  Aí está a Humanidade sofredora.  Cumpre minorar-lhe a tormentosa existência.

 

Presidentes da República - Maçons

 

Mal.  Manoel Deodoro da Fonseca - Chefe do Governo Provisório posteriormente, Presidente da República, eleito pelo congresso Constituinte.  Foi Chefe do movimento Republicano e 13º Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil.  Fora eleito para governar a República por 2 vezes, 1º e 2º mandato da República.  Nasceu em 4 de agosto de 1827 e morreu em 1892.

 

Mal.  Floriano Vieira Peixoto - fora Vice Presidente em função de Presidente, foi o 2º Presidente da República.

 

Dr. Prudente José de Morais Barros - Político brasileiro, propagandista da República.  Nasceu em 04-10-1841 e morreu em 03-12-1901.  Foi o 3º Presidente da República.

 

Dr. Manuel Ferraz de Campos Sales - Político estadista; Presidente do estado de São Paulo e mais tarde, foi o 4º Presidente da República.  Morreu em 1912.

 

Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves - Advogado, foi o 5º Presidente da República.

 

Dr. Nilo Peçanha - Eminente político, 21º Grão Mestre do GOB, de 1917 a 1919 e foi o 7º Presidente da República.

 

Mal.  Hermes Rodrigues da Fonseca - fôra iniciado em 06-10-1886 e nasceu em 15-05-1855, foi o 8º Presidente da República.

 

Dr. Wenceslau Bras Pereira Gomes - Foi Governador de Minas Gerais quando Presidente da República ofereceu o terreno onde fica construído o Grande Oriente do Brasil (Rio), foi o 9º Presidente  da República.

 

Nereu Ramos - Político - Deputado, Senador e Presidente Interino da República.  Foi o 24º Presidente da República.

 

João Café Filho - Político - Deputado - Senador - Vice Presidente da República.  Foi o 22º Presidente da República.

 

Dr. Jânio da Silva Quadros - Foi Governador de S. Paulo, Tomou posse em 31 Jan 61.  Permaneceu durante 7 meses.  Renunciou em 25-08-61.  Foi o 26º Presidente da República.

 

Ernesto Geisel - Gen Exército - Foi o 4º Presidente da República, após a revolução de 1964 e o 33º Presidente da República.

 

Meus irmãos, nestas breves palavras, tentamos sintetizar a união justa e necessária da Maçonaria com o  Exército Brasileiro, entre o passado e o presente, que, pela evolução natural dos tempos, vem alcançando seus objetivos, segundo os princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Maçonaria e do Braço forte e da Mão Amiga do Exército Brasileiro.

 

Ir... Luiz Alberto Tinoco Cidade 

M...M... - ARLS... "Alferes Tiradentes" nº 20 

Oriente de Florianópolis/SC.

Não há distinção entre os maçons – são todos iguais e obedecem à hierarquia da Ordem – não há  competição de sabedoria, nem demonstração de superioridade. O saber não prevalece sobre o não saber, a consciência de cada um é a superfície refletora de seu comportamento, fazendo com que seus recursos materiais e espirituais sejam destinados aos benefícios de muitos, mesmo onerando suas responsabilidades, mas aparando as arestas da paixão, que provoca  os conflitos da alma humana. Os títulos, as comendas e o poder econômico são despojados dos Irmãos, que se tornam puros, ao transpor os umbrais do Templo Maçônico. Assim, são os maçons homens livres de espírito, voltados ao estudo laborioso que garante a tradição maçônica.