Luz e trevas – o poder transformador do conhecimento

Introdução

Luz e Trevas são expressões bíblicas, constam no Pentateuco hebraico (livro da Génese), onde são expressos com grande propriedade os dois polos antagónicos: Conhecimento, gnose, esclarecimento, organização e verdade representados pela LUZ e desconhecimento, caos e ignorância representados pelas TREVAS. Essa alegoria aparece em outros clássicos como “O mito da caverna” de Platão, “Corpus Herméticus” de Hermes Trismegisto. Também aparece em vários outros mitos de criação na forma de “no princípio era trevas e fez-se a luz”. A história corrobora designado de “Idade das Trevas”, o período em que tivemos poucos avanços gerais do conhecimento humano e “Iluminismo”, para a época em que a humanidade retomou seu avanço evolutivo.

Desde os primórdios, a história nos mostra que os filósofos e os grandes iluminados que imprimiram grandes transformações em nossas sociedades batiam sempre nessa mesma tecla: A maior riqueza de uma pessoa não são seus bens materiais, mas sim o seu conhecimento. As pessoas que detém essa preciosidade, possuem o que é mais importante para a sua evolução pessoal, espiritual e consequentemente, para a evolução da humanidade.

Um dos caminhos para o entendimento acerca de um assunto, é o estudo dos antagónicos (tese e antítese) nesse caso, Trevas (ignorância) e a Luz (conhecimento). Em alguns casos quando se estuda os opostos busca-se um caminho intermediário, nesse caso não é assim, pois nós buscamos o caminho extremo do Conhecimento. A Luz.

As trevas da ignorância

A expressão “ignorância” apresenta três definições bem distintas a saber: a Falta de conhecimento, sobre assuntos em geral ou sobre um assunto específico; a Crença naquilo que não é verdadeiro em elementos amplamente conhecidos como falsos (falácias, sofismas, superstições, etc.); e o Estabelecimento de conceitos próprios e singulares sobre si próprio e sobre as coisas, baseados nos dois conceitos anteriores (desconhecimento ou conceitos errados). Em outras palavras: o ignorante é aquele que não sabe e não sabe que não sabe.

A ignorância advém do fato de sermos criativos. A criatividade tem um grande poder benéfico quando usada no sentido investigativo, mas traz em seu bojo um efeito colateral bastante maléfico que é a possibilidade de permitir definir e justificar qualquer coisa a nosso modo e com falsos princípios (aporias e sofismas). E nesse sentido, temos uma sólida cultura e tradição universal que nos parece ingénua e até benéfica, mas que à luz da verdade são falsas, como o papai Noel, coelho da páscoa, cegonha, etc.

Outra faceta importante acerca da ignorância, agora no sentido de desconhecimento, é que a ignorância é infinita (sempre se pode aprender algo novo), enquanto o nosso conhecimento é finito (nunca aprendemos tudo sobre algo) e isso tanto ocorre a nível pessoal quanto a nível colectivo. Com essa afirmativa, podemos compreender a fundo o pensamento de Sócrates, quando afirmava “só sei que nada sei” e que a sua maior sabedoria estava no fato de ter essa consciência.

Como Maçons portanto, precisamos conhecer os caminhos para se chegar ao entendimento do quanto somos ignorantes, para depois projectarmos e construirmos um edifício virtuoso sobre bases sólidas da nossa ignorância. Essa é uma visão bastante mais abrangente para os conceitos “Conheça-te a ti mesmo”, “V.I.T.R.I.O.L”, “desbastar a Pedra Bruta”, entoados fortemente desde a nossa Iniciação.

O dueto Ignorância e Conhecimento é tema recorrente de estudo de muitos pensadores no decorrer dos tempos. Karl Popper em “As Origens do Conhecimento e da Ignorância” reafirma de forma clara a ideia de Sócrates quando descreve que:

“Quanto mais aprendemos sobre o mundo, quanto mais profundo o nosso conhecimento, mais específico, consistente e articulado será o nosso conhecimento do que ignoramos – o conhecimento da nossa ignorância. Essa, com efeito, é a principal fonte da nossa ignorância: O fato de que o nosso conhecimento só pode ser finito, mas a nossa ignorância deve necessariamente ser infinita. (…) Vale a pena lembrar que, embora haja uma vasta diferença entre nós no que diz respeito aos fragmentos que conhecemos, somos todos iguais no infinito da nossa ignorância”.

A consciência da nossa própria ignorância, não nos é dada gratuitamente, ela tem um preço, temos que conquistá-la com muito trabalho, assim como tudo o que tem algum valor na vida é fruto de esforço, paciência e dedicação. Nossa tendência é crer que as coisas de fato são como elas de início nos parecem ser (a primeira impressão é a que fica). Para nós é muito mais fácil acreditar nas coisas da forma como nos sãos colocadas, do que parar para pensar seriamente sobre o assunto e chegar à nossa própria conclusão, para depois fixar essa conclusão em nossa mente. Jamais devemos entoar “só sei que nada sei” como um mantra conformista, devemos efectivamente nos esforçar para compreendê-lo a fundo e utiliza-lo como um ponto de partida para uma nova era pessoal na busca do conhecimento.

O pseudoconhecimento

Não é preciso buscar aquilo que já temos. Assim, se pensamos ter o conhecimento, também pensamos não precisar buscá-lo. Daí ocorre que nos iludimos a respeito desse nosso pseudoconhecimento e essa ilusão é o maior bloqueio para a obtenção do verdadeiro conhecimento.

Não há melhor prisão do que aquela que não parece ser uma prisão. Para que possamos nos libertar de nossas amarras, antes devemos nos dar conta de que estamos amarrados. Para que tentemos alcançar o conhecimento, antes devemos nos dar conta da nossa ignorância. É somente depois dessa descoberta, é que podemos nos colocar no caminho da busca do conhecimento. Se estivermos aprisionados, todo o enfeite acrescentado à nossa prisão servirá apenas para esconder ainda mais a natureza dessa nossa prisão. Nenhum enfeite afixado nas paredes da nossa prisão, servirá para derrubá-la, nenhum ornamento nos libertará. A liberdade precisa começar pelo desnudamento de nossas cadeias, pelo desmascaramento das nossas ilusões que nos confundem, pela autoconsciência do nosso pseudoconhecimento. Voltamos ao Mito da Caverna de Platão.

Que tipo de prisão é exactamente essa prisão formada pelo pseudoconhecimento? É uma prisão mental, é o nosso espírito, são as nossas ideias e o nosso raciocínio que estão neste cárcere. Como se chama essa prisão? Preconceito, estreiteza de espírito e indolência são alguns de seus nomes. Como podemos escapar de tais prisões? Pela crítica atenta e activa dos preconceitos, pelo esforço consciente e incessante no sentido de ampliar os limites de nosso espírito, pelo questionamento das nossas próprias ideias e pelo aguçamento do nosso raciocínio. Se quisermos ser mais práticos, podemos nos livrar da prisão do pseudoconhecimento através do nosso desenvolvimento intelectual, do estudo guiado (geral e específico), da boa e saudável leitura, do auto estudo e através de um planeamento pessoal da busca de conhecimento.

A luz do conhecimento

Francis Bacon preconizava: “Conhecimento é poder”. Quanto mais sabemos, mais poder teremos. Falamos do “Poder” no sentido mais amplo, não apenas “ser chefe”, ou “ser líder”; quem conhece mais escolhe melhor, decide melhor, se comunica melhor, possui mais subsídios de convencimento, conhece melhor as verdades e não se deixa levar pela primeira impressão, consegue interpretar os fatos cotidianos com base nas premissas fundamentais e verdadeiras.

O aumento acentuado da escolaridade das pessoas observada nesse último século, aliado aos esforços dos governos em eliminar o analfabetismo, o advento da internet e o uso do computador e do smartphone, está permitindo um grande avanço no caminho do aperfeiçoamento e do conhecimento, mas também do pseudo-conhecimento. É uma faca de dois gumes que devemos saber como usar. Muitas pessoas porém, ainda não tem condições, estímulos e principalmente interesse em completar um curso superior, fazer uma especialização ou mesmo um curso para aprender uma aptidão específica. Pensam dessa forma, as pessoas que estão em condições inferiores na escala social, e nas ocupações das organizações e são justamente essas pessoas as que mais precisam melhorar os seus conhecimentos.

Precisamos cultivar e propagar a inquietude, fazer provocações, buscar sempre mais conhecimento, nunca parar, nunca se dar por satisfeito com o que foi conquistado em matéria de conhecimento. O saber precisa ser buscado e transmitido a todo momento, com qualquer idade e em qualquer lugar. Devemos entrar na escola uma única vez e jamais sair dela, estudar a vida toda, porque o nosso aprendizado nunca está completo. É preciso buscar sempre mais. Nessa questão devemos ser egoístas no bom sentido.

Há ainda o fato importante a ser compreendido nessa busca do eterno conhecimento: Quanto mais conhecimento possuímos, maior é a nossa responsabilidade, connosco e com a sociedade e isso em uma escala ampliada, torna o nosso mundo cada vez melhor e mais justo pelo acúmulo, transmissão e troca do conhecimento.

Conclusão

Por vezes ouvimos “Só sei que nada sei”, como se isso fosse uma espécie de lei natural intransponível ou ainda uma frase mágica do tipo “Abre-te, Sésamo”, que quando dita abre automaticamente as portas da caverna da ignorância e nos coloca em contacto com a Luz do conhecimento.

A frase socrática na verdade nos conduz ao início de um grande e longo processo de conquista dos tesouros do conhecimento, especialmente os espirituais, pois lembramos que para Sócrates o verdadeiro ser (homem) é o seu espírito (a alma).

Apresentamos a seguir, algumas frases que nos mostram de maneira simples e didáctica o que é a ignorância e quais são as suas consequências em nossas vidas:

“A ignorância é a noite da mente: mas uma noite sem lua e sem estrelas.” (Confúcio);
“Preguiça e ignorância revoltam-se sempre contra aplicação e talento.” (Gaspar Melchor de Jovellanos);
“Só há uma treva: a ignorância.” (William Shakespeare);
“Os verdadeiros carácteres da ignorância são a vaidade, o orgulho e a arrogância.” (Samuel Butler)
“A luz só é evitada por escaravelhos, ladrões e ignorantes.” (Paolo Mantegazza);
“Quase todos os tolos julgam ser apenas ignorantes.” (Benjamin Franklin);
“A doença do ignorante é ignorar sua própria ignorância.” (Amos Bronson Alcott);
“A diferença entre os sábios e os ignorantes é a mesma que há entre os vivos e os mortos.” (Aristóteles);
“O conselho é muito mal recebido pelos que dele mais necessitam, os ignorantes.” (Leonardo da Vinci);
“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” (Sócrates);
“Nada perturba tanto a vida humana como a ignorância do bem e do mal.” (Cícero);
“Muitos homens passam por sábios graças à ignorância dos outros.” (Autor desconhecido);
“Não há nada mais terrível do que uma ignorância activa.” (Goethe);
“Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão.” (Lao Tsé);
“Não acredito na sabedoria colectiva da ignorância individual.” (Thomas Carlyle);
“É o medo o mais ignorante, o mais injusto e cruel dos conselheiros.” (Edmund Burke);
“Um tolo instruído é mais tolo que um tolo ignorante.” (Molière);
“Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância.” (John F. Kennedy);
“A maior de todas as ignorâncias é rejeitar uma coisa sobre a qual você nada sabe.” (H. Jackson Brown);
E para concluir, ouso deixar a minha frase acerca da ignorância no rol desses ilustres pensadores:

“Meu conhecimento é finito enquanto a minha ignorância é infinita, logo, sou muito ignorante” (Carlos Roberto Pakuczewsky) .

Carlos Roberto Pakuczewsky
ARLS∴ "Templários da Arca Sagrada" N° 90 (REAA)

Bibliografia

Burdzinki, Júlio César, artigo “O Valor da Ignorância” in espacoacademico.com.br;
https://pt.wikipedia.org/ consultado em 2 dez 2014;
Apostila de Companheiro. Loja Templários da Arca Sagrada – Blumenau – 2012.

Publicado: https://www.freemason.pt/