Na mesa de um banquete filosófico

Num banquete entre o estoicismo, hedonismo, epicurismo, como filosofias de uma busca pelo “ideal filosófico de felicidade e sabedoria” para o ser humano…

Qual seria o sistema ideal de sabedoria para se atingir a felicidade?

Na Grécia Antiga e Clássica, entre o Estoicismo de Zenão de Cítio (335-264 a.C.) e o outro extremo, o do Hedonismo de Aristipo de Cirene (435-356 a.C.), em busca de um ideal filosófico para a felicidade, propugnar-se-ia, elevando ao equilíbrio e a harmonia dos meios, (dentro da famosa solução do “meio-termo” feliz – que harmoniza tudo na vida, – e isso me faz lembrar o conto do afinar da cítara e da conclusão e análise de Sidarta Gautama (Buda), sobre o caminho da felicidade, assim como também o da Ponderação e da Prudência Maçónicas), ficaria eu, numa primeira análise, com o Epicurismo, de Epicuro de Samos (341-270 a.C.). Pois, em relação aos extremos, em se buscarem Sabedoria e Felicidade, nessas perspectivas propostas, não acreditaria, a princípio, que em estando num “polo” filosófico seria feliz e/ou muito menos sábio.

Ser “um frio” ou buscar ser indiferente diante dos sofrimentos e prazeres da vida (Estoicismo), ou “irresponsável”, um gozador inveterado a todos os prazeres ilimitados (Hedonismo), a fim de se obter o “ápice” da “verdadeira felicidade humana”, não seriam, ao meu reflectir, sábios caminhos para se atingir a felicidade, posto que somos seres éticos, humanos e sensíveis. Prefiro não ir nem tanto aos “céus absurdados”, nem tanto às “profundezas das depressões do inferno de Dante”, nem tanto ao “profundo mar de Neptuno”, e nem tanto à “terra, dos simples mortais”, ou, como dizem os maçons, “nem tanto ao zénite e nem tanto ao nadir”… – Preferirei aqui e porquanto, a Razão.

Penso que, estar “apático” às sensações de prazer ou dor, como propõem os estoicistas diante do “inevitável” e intangível, para uma postura da indiferença sábia e, consequentemente, ter a virtude acima dos prazeres da vida, ou, ainda, ser indiferente aos sentimentos ou dores para se atingir a verdadeira sabedoria, não me leva a crer que seja um ideal de vida saudável ou considerado sensivelmente humano, intrínseco, imanente da própria natureza do ser humano. Modestamente, questiono aos meus pequenos botões: – Isto seria o caminho para se atingir realmente a Felicidade? Prefiro analisar o verdadeiro BEM e o fazer do verdadeiro BEM no tripé: o EU – o OUTRO, e o MUNDO, levando felicidade e sentindo-se feliz em fazê-lo, com Prudência, e Sabedoria. – Fantásticas são as Borlas Maçónicas e suas Virtudes Cardeais! (FORTITUDE, PRUDÊNCIA, JUSTIÇA, TEMPERANÇA).

Por outro turno, se formos ao outro pico, a 180° graus da nossa reflexão filosófica, ora em marcha, agora ao Hedonismo, donde se preconizaria o prazer acima das virtudes austeras e o prazer como prioridade para a “suprema felicidade do homem”, não constituir-se-ia, ao meu ver, realidade responsável e ética para a resolução dos problemas pessoais e muito menos o de uma sociedade com regramento ético e legal. Muito menos ainda, possa o hedonismo trazer uma convivência harmoniosa ou equilibrada dos seus entes, sem, contudo, haver enormes fardos de egoísmos ou “cegueiras prazerosas”, do “prazer pelo prazer”, gerando sofrimentos, vícios e viciados inúmeros, e um ciclo danoso e enormemente conflituante à vida do homem frente às suas regras sociais e de ordenamento legal. Portanto, também não aceitaria, também, o Hedonismo, nem como homem individual, ou ainda, em hipótese alguma, como homem Maçom, como filosofia norteadora para a vida do ser humano racional e ético, nem mesmo, particularmente, entendo, jamais, (e inadmissível o é), que seja utilizado como argumento, mesmo que superficial aplicável por um Maçom, que “vence as suas paixões; combate vícios e submete a sua vontade, buscando a Sabedoria, Felicidade e Harmonia”.

Por findo, mas nunca definito filosoficamente, entre somente esses três pratos de uma mesma propositura nesse banquete filosófico fraternal, elegeria, apetecer-me-ia então o Epicurismo como a “Lei do Meio”, da Harmonia entre os factores que ora servimos. Optaria pelo ideal de se ter prazeres moderados e comedidos, não com a cegueira da antiética imprudente, sem um crivo austero racional, ou de desrespeito à ética dos valores morais ou, por outro extremo, assumindo uma pseudo-postura de sábio, que em sendo “um ser indiferente”, frio, apático às realidades, aos sentimentos e dores humanas, “conquiste” essa “sabedoria” e “felicidade”. Não seriam essas as posturas sábias assumidas como meio de se alcançar a suprema felicidade ou sabedoria, mas sim assumindo-se por uma postura reflexiva, uma postura sábia do desfrutar dos prazeres da vida, de modo consequente e responsável, em que o homem vive como “homem” e não como “coisa ininteligível” ou “fera irracional e insaciável”, pois para a “coisa”, a vida seria feliz e plena, posto que é simplesmente “coisa”, e as suas necessidades (da “coisa”), ou estariam satisfeitas ou ainda repletas de eterna insaciedade, por não ter, talvez, até mesmo qualquer necessidade passiva de reflexão filosófica (indiferença = “qualquer coisa é a mesma coisa”) e assim valeria ao vegetal ou animal se as suas necessidades básicas fisiológicas e de instintos forem e estiverem satisfeitas.

Entretanto, para o homem, o mundo terá que ser sensível e humano, posto que ele é homem e humano, é sensível por natureza, e não “coisa”, “fera” ou “vegetal”, para o homem, faz-se necessário, para que ele se sinta parte harmoniosa do meio, e, portanto, ser um sujeito não-indiferente e que possa ele sentir ou atingir a Sabedoria e sentir-se a si mesmo como tal e consciente de que nada sabe e que precisa ainda e sempre, constantemente aprender (o “Conhece a ti mesmo”, utilizado, também, por Sócrates). OU, noutras palavras, bem mais objectivas, “ser Sábio” e não ser um “néscio da indiferença estoicista”, ou, ainda, um “glutão de prazeres hedonistas” para se atingir a Felicidade. É preciso, portanto, o homem reflectir e usar da Razão e da Prudência nos seus actos, para atingir a Sabedoria, e com ela, consequentemente a verdadeira Felicidade.

Em verdade, o home sábio e feliz deve ser um partícipe activo nos prazeres e nas sensações humanas, inerentes ao espírito e natureza humanos, dentro da racionalidade reflexiva, e, portanto, dentro de regras sociais eleitas e aceitas por ele próprio e pela maioria, em sociedade, e desfrutando de felicidade racional consequente. Esta constitui, – ao primeiro deleite da reflexão desse banquete filosófico, toda a vida saudável do Homem: A busca da Felicidade junto à Razão, no gozo em individual, momentaneamente, e também em colectividade, compartilhado em grupo ou em sociedade. Filosoficamente não pode haver Felicidade em algo que não seja sábio, pois geraria sofrimentos pelas imprudências dos seus actos ou indiferença aos mesmos. Seria uma ilusão de um néscio e não a verdadeira Felicidade de um sábio.

A Felicidade é um dom colectivo e, apenas numa hipótese sobre “a Felicidade como um dom colectivo”, não se pode ser feliz ou indiferente, como homem e como sábio, em ver ou saber que o OUTRO não é feliz, muito embora, você possa ser feliz. Logo, nesse sentido, a Felicidade não é um produto de sabedoria advinda de algo inconsequente ou frio, mas do compartilhamento humano e feliz e da recepção de compartilhamento feliz consigo (EU), com o outro, com os outros (MUNDO); e quando não se compartilha uma felicidade, não há tal felicidade plena. Não há Felicidade – “dom colectivo” e participante em que não se possa compartilhar o “pão” das alegrias ou migalhas de satisfação quotidiana deste mesmo “pão”, – pois o homem é por excelência um ser social. Assim, seria um paradoxo absurdo ou uma patologia mental o homem ser feliz por si mesmo, para si mesmo, somente em torno de si mesmo, bastando-se a si mesmo e não ter a felicidade de compartilhar a própria felicidade, ou em estar feliz, indiferentemente se os seus estejam infelizes – por isso ser a felicidade, na sua plenitude, um dom colectivo, plural e compartilhado; dom “companheiro” fraternal (“cum panis” = companheiro que come do mesmo pão, dividido em harmonia).

Assim…, cogito que, considerando nesta mesa de banquetes os pratos reflexivos filosóficos apresentados, o Estoicismo, o Hedonismo, e o Epicurismo, como formas de se buscar um ideal da verdadeira felicidade e sabedoria, o melhor das escolhas para se saborear a inicial busca de algo que talvez encontrássemos como uma “forma”; um “ideal” de felicidade e sabedoria, com ponderações aos prazeres e sensibilidade às coisas da vida, estaria na iguaria do prato do Epicurismo e a sua busca da felicidade, atrelado aos gostos à Razão e à Prudência das coisas, sempre com vistas ao desiderato maior da SABEDORIA, como na citação no Templo de Delfos, que aqui me valho, no que expressa: “Conhece a ti mesmo”.

“Finalmente”, a Filosofia não acaba… e a senda da especulação filosófica é infinita, assim como os Degraus da Escada de Jacob. Cabe-nos, portanto, o convite de reflectir criticamente, e despojados das nossas paixões e paradigmas do absoluto correcto e preestabelecido, buscando, nós mesmos, os arrazoados caminhos das nossas felicidades e os melhores sabores no banquete dos ideais de felicidade e sabedoria, individual e colectivamente, que o Grande Arquitecto do Universo sempre nos agracia.

Assim sendo, nesse banquete… “– Sois servido, Irmão?” Que prato vos apetece?.

Alexandre Fortes, M∴M∴(I∴) – CIM 285969 – A.R.L.S. Ir. Cícero Veloso N° 4543 – GOB-PI

Fontes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estoicismo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hedonismo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Epicurismo

Publicado: https://www.freemason.pt/na-mesa-de-um-banquete-filosofico/