Não existirá sociedade perfeita se formos todos iguais

Analisando o país nos últimos meses, vi que estamos vivendo tempos difíceis, então, decidi falar de política, não a partidária, mas a política que deveria ser ensinada nas escoas.

Vou iniciar com uma frase e depois discorrer de maneira simples…
“Não existe sociedade perfeita se todos forem iguais; pessoas de um esmo grupo, que pensam de forma semelhante, é um problema para a construção de uma sociedade sadia.”

A frase instiga uma reflexão profunda acerca da complexidade inerente à construção de uma sociedade ideal. A diversidade de pensamentos, perspectivas e habilidades é um componente essencial para a robustez de qualquer comunidade. A uniformidade absoluta de ideias e comportamentos pode, de forma paradoxal, minar a saúde social, comprometendo a capacidade de inovação, adaptabilidade e resolução criativa de problemas.

A diversidade de pensamentos e valores em uma sociedade é um catalisador para o desenvolvimento, uma vez que diferentes perspectivas oferecem soluções diversas para os desafios enfrentados. Essa pluralidade de opiniões não apenas enriquece o diálogo público, mas também contribui para a formação de políticas mais abrangentes e justas. A uniformidade de pensamento, ao contrário, pode resultar em conformismo e estagnação intelectual, impedindo a evolução da sociedade.

Além disso, a presença de grupos homogêneos, cujos membros pensam de maneira semelhante, pode levar à formação de bolhas sociais. Essas bolhas, muitas vezes alimentadas pela falta de exposição a perspectivas divergentes, podem gerar preconceitos e intolerância em relação a quem está fora do grupo. A falta de interação entre diferentes grupos sociais pode contribuir para a polarização e o isolamento, comprometendo a coesão social.

Isso me lembra de uma animação da Disney que assisti com a família nessas férias, “Wish: O Poder dos Desejos”, onde mostra um governante que, “para proteger seu povo e manter o país seguro” recolhe o maior desejo de cada pessoa ao completar 18 anos, fazendo com que a mesma esqueça no momento de entrega. Asha, uma jovem de 17 anos descobre que o rei manipula os sonhos dos seus súditos e decide desafiá-lo; e a história continua. E o que me lembra? Que não devemos confundir promessas com segurança. Todos se tornaram iguais sem o seu maior desejo, e o que acarretou? Um vazio, mesmo que muitos estivessem conformados e outros até apoiassem o governante. No fundo, ele só buscava o poder pelo poder.

A sociedade ideal, portanto, deve buscar um equilíbrio entre a preservação da identidade individual e a promoção da diversidade. A história evidencia que sociedades verdadeiramente resilientes são aquelas que abraçam a heterogeneidade de pensamento. Grandes transformações sociais foram impulsionadas por mentes inovadoras que desafiaram as normas estabelecidas. Contudo, é crucial frisar que a diversidade de pensamento não exclui a importância de valores comuns e de uma ética compartilhada, essenciais para a coexistência pacífica.

Em contrapartida, deve-se reconhecer que o gerenciamento da diversidade de pensamento é um desafio delicado. A promoção do diálogo respeitoso, a educação para a empatia e a criação de espaços inclusivos são pontos imperativos para evitar os perigos da polarização excessiva. A construção de uma sociedade sadia requer, portanto, o equilíbrio entre a preservação de identidades individuais e a promoção de valores coletivos que respeitem e valorizem a heterogeneidade de pensamento.

O ponto em questão é: “Quando se privilegia a uniformidade, corre-se o risco de suprimir a riqueza cultural e as nuances que tornam uma comunidade verdadeiramente vibrante”. Precisamos da diversidade de forma geral, além daquela que mencionada no início, a de pensamento.

A diversidade cultural é um catalisador para a expansão do conhecimento e da compreensão mútua, pois a interação entre diferentes tradições e modos de vida enriquece o tecido social, proporcionando um ambiente propício para a tolerância e a coexistência pacífica. Uma sociedade que celebra suas diferenças está mais preparada para enfrentar os desafios globais, pois é capaz de articular respostas mais abrangentes e integradoras. A diversidade econômica é crucial para garantir a justiça social e a igualdade de oportunidades, já que em uma sociedade na qual todos possuem os mesmos recursos e oportunidades podem resultar em desigualdades disfarçadas, uma vez que diferentes grupos têm necessidades e históricos diversos. A inclusão de diversas camadas sociais no processo decisório e na distribuição de recursos é essencial para promover uma sociedade mais equitativa e resiliente. Na esfera política, a diversidade de opiniões é a essência da democracia, uma vez que uma sociedade onde todos concordam de maneira unânime pode ser sintomática de uma conformidade forçada ou da ausência de liberdade de expressão. A existência de uma multiplicidade de vozes e perspectivas é o que confere vitalidade ao processo democrático, garantindo a representatividade e a legitimação das decisões tomadas em nome de toda a comunidade. A aceitação da diversidade não é apenas um valor moral, mas uma condição “sine qua non” para o florescimento de uma sociedade verdadeiramente avançada e harmoniosa. Isso remete a uma frase que escrevi na última Assembleia da COMAB em Salvador-BA: A coletividade sem a individualidade não progride; é o compromisso individual que fortalece o coletivo.

Em síntese, a ideia era apenas oferecer uma perspectiva crítica e provocativa sobre a natureza da coesão social e à necessidade de reconhecer a diversidade como um elemento crucial na busca por uma sociedade aprimorada. Uma comunidade verdadeiramente sadia não emerge da homogeneidade, mas sim da valorização das distintas contribuições individuais, possibilitando a construção de um tecido social resistente e permeável à evolução constante, pois a uniformidade de ideias representa um obstáculo à vitalidade e à resiliência de uma sociedade. Portanto, é na gestão habilidosa dessa dicotomia que reside o potencial para a construção de comunidades verdadeiramente saudáveis e adaptáveis às complexidades do mundo contemporâneo.

Carlyle Rosemond Freire
Mestre Maçom (Instalado) - ARLS∴ “Terceiro Milênio” Nº 7 - Grande Oriente de Alagoas - GOAL - Membro da Academia Maçônica de Ciências, Letras e Artes - AMCLA - Cad. 113
Fonte: Revista Cultural Virtual “Cavaleiro da Virtude” - Ano XI - Nº 059 - Janeiro 2024