Tolerância, a frágil dádiva a ser perseguida pelo Maçom


Uma preocupação especial do Maçom, é ou deveria ser a promoção da cultura como embaixadora da verdade, sabedoria e humanidade. Nesse sentido, a parábola do anel de “Nathan, o Sábio” de Gotthold Ephraim Lessing contêm mensagens importantes para os maçons, em especial a ideia de tolerância, na qual pessoas de diferentes visões de mundo ou religiões convivem pacificamente. O Maçom Gotthold Ephraim Lessing erigiu um monumento literário ao seu amigo Moses Mendehlsson, o fundador do Iluminismo judaico, na figura de Nathan, o Sábio.

Tolerância e esclarecimento são muitas vezes empreendimentos difíceis na vida quotidiana. Verdade, sabedoria e humanidade não são conquistadas facilmente nas escolhas que fazemos todos os dias. Aliás, a tolerância, meus irmãos não implica e aceitar passivamente actos violentos, homofobia e preconceitos outros. O acto de tolerar encontra-se no campo das ideias e opiniões.

Num ambiente onde cada um tem o direito às suas próprias convicções, é preciso compreender que, em caso de divergências, não há espaço para ofensas, desmerecimentos e humilhações. Em todos os lugares e épocas, a humanidade foi obrigada a conviver com o ditador, o fundamentalista, o fanático que se julga dono da verdade. É a partir da modernidade e do humanismo que se inicia a virada do pensamento humano, pois se fundam na diversidade e na alteridade, sempre permeados pelo respeito e tolerância. Assim, é imprescindível recorrer à razão, ao bom senso, à dignidade para superar pressões e dificuldades.

Tolerar, meus irmãos, não significa conceder a outrem um direito. Tolerar, oriundo do latim “tolere”, implica carregar, suportar. Na cultura romana, a “tolerantia” representava resistência, qualidade de quem suporta dignamente pressões e dificuldades.

O verdadeiro Maçom deve combater com firmeza actos ou crenças que conduzam todos à barbárie, ao fanatismo e ao fundamentalismo que representam a destruição dos mais preciosos valores que balizam a fraternidade maçónica, quais sejam, os direitos humanos. Para além, é por meio da tolerância que é possível orientar os faltosos a não incorrerem no mesmo erro, notadamente porque aqueles que possuem tolerância, compreendem a clemência e a paciência capazes de afastar a soberba e a iniquidade daqueles que estão distantes dos ideais maçónicos.

Somente por meio da tolerância será possível solidificar a almejada fraternidade entre nós. Para tanto, como bem explicitou André Comte-Sponville no seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes: “a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria, dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são nem uma coisa nem outra. Pequena virtude, mas necessária. Pequena sabedoria, mas acessível“. 

Assim, é no compromisso fraterno e solidário, de forma desinteressada, exercido no quotidiano das nossas vidas é que comprovaremos se colocamos em prática os fundamentos da Maçonaria: verdade, sabedoria e humanidade. Reflictamos!

Rui Badaró – V. M. da Justa e Perfeita Loja de São João 680, S.E.M. Schroder, GLESP

Fonte: https://www.freemason.pt/