A Alegoria da Caverna e a Tolerância
Tenho reflectido sobre todos os valores na qual a Maçonaria se apoia e que, de alguma forma constituem o elo de ligação entre todos os Maçons.
Reconheço que de todos os valores, me revejo particularmente no da Tolerância, já que parece ter características que deveriam fazer dele uma pedra basilar para o relacionamento entre os humanos:
Nele assenta uma característica que faz do ser humano um “bicho interessante” – a diversidade.
A diversidade e o individual são fundamentais para que a sociedade humana se distinga dum formigueiro – não nascemos pré-definidos e temos a possibilidade de sermos diferentes. Ao longo dos séculos, é a tolerância pela diversidade (quando existe) que tem facilitado os saltos qualitativos da nossa civilização.
- Parece ser de fácil entendimento – creio que, de um modo geral, todos temos uma percepção sobre a tolerância, que não se afasta demasiado da realidade;
- Parece ser de fácil aplicação – basta reconhecer nos outros o direito à diferença,
- Parece ser universal – não se conhecem variações significativas entre as diversas culturas.
- Parece existir em todos os humanos – nunca conheci ninguém que reconhecesse não ser tolerante.
E contudo, é na sua “ausência” que parece radicar a maioria dos desentendimentos que grassam por esse mundo fora – é como se existissem dois tipos de tolerância:
Aquela que todos reconhecemos ter e que é comum a todos e… aquela que praticamos.
Creio que o problema está precisamente aqui – praticamos uma tolerância que parece estar inquinada e influenciada por factores externos ao qual normalmente não reconhecemos a importância que têm.
Tudo isso vem a propósito de ter estado a reler a Alegoria da Caverna de Platão (reproduzida abaixo) e de durante esse processo ter ficado com a sensação de que todos vivemos realmente numa caverna – cada um na sua. Se assim é, então o relacionamento entre as pessoas embora pareça ser próximo, é na realidade muito mais distante, já que “gritamos” de caverna para caverna, cada um tentando fazer com que os outros reconheçam que as nossas sombras é que são as reais.
De facto, qual de nós pode dizer que conhece realmente a realidade? Cada um de nós tem uma percepção da realidade enformada por todas as suas “sombras”, o que a torna necessariamente diferente da dos outros, e é à luz desta percepção (aquilo que conseguimos ver de dentro da nossa caverna) que avaliamos cada acto que fazemos e a forma como nos devemos relacionar com os outros. É também à luz destas “sombras”, que aplicamos a nossa versão de “tolerância” – se a caverna é diferente e se as “sombras” também o são, então talvez resida aqui a razão para, tendo valores comuns, aplicarmos versões “costumizadas” de tolerância.
Acredito que a solução para muitos dos problemas está precisamente em conseguirmos tirar as pessoas das suas cavernas, ou pelo menos, juntá-las numa só. Desta unificação, só poderá resultar um melhor entendimento entre todos.
Como é que isso se faz? – não faço ideia. Deixo esta pergunta em aberto para os leitores do Blog poderem contribuir, se se atreverem a sair da sua caverna …
António Jorge
Fonte: freemason.pt