A arte da convivência

É comum escutar que mexer com gente é difícil. E é assim porque somos diferentes, como também somos legítimos, livres e autônomos. O modo como enfrentamos esse drama e a habilidade com que vivenciamos os conflitos relacionais é que nos torna competentes para lidarmos com gente.

Em nossa educação foram instalados repertórios de conduta com três estados de comportamentos relacionais: o salvador da pátria, o perseguidor e a vítima. Esses estados, igualmente disponíveis, vão se hierarquizando al longo de nossas experiências e um deles obtém nossa preferência.

É comum vermos pessoas tipicamente salvadoras da pátria - tipo deixa que eu resolvo - e outras vestem-se de perguidores - especialista em dificultar as coisas para si e para os demais. E ainda há os que se consideram vítimas de tudo e de todos.

A atração de polos opostos

O mais interessante é que cada pessoa encontra em seus relacionamentos o contraponto ideal para dar sustentação ao repertório preferido: salvadores da pátria acercam-se de vitimizados, vitimizados buscam perseguidores, e esses, por sua vez, associam-se facilmente aos vitimizados. 

 

Foram instalados três estados de comportamentos em nossa educação:

o salvador da pátria, o perseguidor e a vítima. Igualmente disponíveis, hierarquizam-se até um deles obter a preferência.

 

 

No entanto, a saúde relacional requer que sejam rompidas estas alianças táticas para que cada um reconheça em que estado de comportamento relacional está atuando e ser capaz de neutralizar os resultados inefetivos que tais estados produzem.

Visões diversas sobre o mesmo fato

Dois exemplos: primeiro, diante da ocorrência do diabetes pode-se interpretar a doença a partir das restrições que ela traz, ou vê-la como um professor que nos impulsiona a aprender a cuidar da saúde de forma saudável. A primeira interpretação, do tipo vítima, vê na doença as impossibilidades e a falta de sorte. A outra, do tipo salvador, interpreta-a no domínio do otimismo. Qual das duas está certa? Não sei.

No entanto, o que se espera de relações saudáveis é ver ambas as interpretações como formas possíveis e que têm algo a nos acrescentar. Segundo, pode-se avaliar a perda de um emprego como falta de sorte (vitimização), ou como uma oportunidade para uma nova carreira, um ano sabático, etc (salvador da pátria).

Identificar o que se sente

Se quisermos ter relacionamentos saudáveis, sermos capazes de geri-los com efetividade e, se nosso objetivo é melhorar a convivência humana, temos que entender que lidar com os outros é tão difícil quando lidar conosco e que mudar o outro é mais complicado do que parece. Uma dica: identificar as coisas que sentimos e sobre as quais não somos capazes de falar. 

 

 

Se quiser ter relacionamentos saudáveis, ser capaz de geri-los e, se o objetivo é melhorar a convivência, tem que entender: 

lidar com os outros é tão difícil quanto conosco.

 

 

Quando me calo diante de uma situação que me incomoda, altero meu padrão emocional o que, dependendo da intensidade do incômodo, inviabiliza o relacionamento. Identificado o incômodo, buscar ajuda para estabilizar-me emocionalmente e desenhar uma conversa efetiva com o agente causador do incômodo.

Conversar evita os conflitos

Portanto, perguntar sobre o que nos incomoda, descobrir o agente gerador e ser capaz de abrir com ele uma conversa efetiva são os pontos-chave para tornar as relações menos conflituosas. O processo deve ser aplicado em todos os domínios de nossa vida, com pais, filhos, chefes, amigos, companheiros, colegas.

Conversar, esse é o segredo dos bons relacionamentos, mesmo porque, haverá um tempo que conversar será a única coisa que nos restará fazer.