A busca da verdade

O verdadeiro sábio, o pensador, o iniciado, rende-se à verdade que reconhece superior ao seu entendimento, com humildade. Ao iniciado cabe a constante busca da verdade.

Mas onde procurá-la?

 

As Instruções de nossa Ordem ensinam-nos que:

  • Devemos buscar a verdade dentro de nós mesmos.
  • Conhece a ti mesmo” – isto é, aperfeiçoa-te, consulta a tua consciência para descobrir quais são os fundamentos do teu comportamento; descobre o erro e livra-te dele.

A consciência da própria ignorância representa para o homem a verdadeira sabedoria, porque o espírito é libertado dos preconceitos adquiridos. Removendo o erro, a mente estará livre para buscar a verdade. Porém, ela jamais será completa, sendo, portanto, uma tarefa interminável.

 

O homem sábio é aquele que busca a verdade por toda a vida. Nessa tarefa estará se aperfeiçoando a cada dia. Mas, não é fácil descobrir essa verdade dentro de nós.

 

Os primeiros filósofos gregos, por exemplo, buscaram-na na Natureza. Os sábios de Mileto queriam encontrar a origem de todas as coisas. Na água, no ar, no fogo e na terra, elementos que entram na composição de todas as coisas materiais. Contudo, o tempo mostrou a ingenuidade de tais meditações. Sócrates foi quem nos convidou a olhar para dentro de nós mesmos, pois a verdade está dentro do nosso espírito. (Apologia, Platão).

O “Conhece a ti mesmo”, é, pois, o primeiro mandamento da filosofia antiga; a reflexão do homem sobre si mesmo.

 

A busca da verdade exige um esforço intelectual rigoroso e metódico, que nos obriga a eliminar os nossos preconceitos e medos, pois, não é fácil encarar a verdade encontrada, uma vez que ela desafia a nossa sensação de segurança.

 

A verdade nos obriga a olharmos fixamente diante do espelho e meditar sobre os fundamentos de nossas ações.

 

Muitas vezes notamos que nossos pensamentos, sentimentos e ações são confrontados com a verdade, gerando a sensação de perda. Contudo, a coragem pode superar esta fase. Esse trabalho intelectual exige coragem e humildade, uma vez que não é fácil admitirmos nossos próprios erros, criando um conflito que nos impede de alterá-los, sendo essa a primeira dificuldade para o homem que quer ter o espírito livre.

 

A verdade, esse mistério inatingível, que nos atrai com força irresistível, é muito vasta, muito vivaz, muito livre e muito sutil para deixar-se prender, imobilizar e petrificar na rigidez de um sistema filosófico. Devemos ter cuidado em não aceitar concepções apriorísticas sem antes utilizar a “maiêutica” para exames e conteúdo da verdade.

 

Devemos esquecer-nos de tudo aquilo que não nos é próprio e, em seguida, concentrarmo-nos, descendo ao âmago dos próprios pensamentos, a fim de aproximarmo-nos da fonte pura da Verdade, instruindo-nos, não só pelas sábias lições dos Mestres, mas, principalmente pelo exercício da Meditação.

Há de se ter consciência que NUNCA SABEREMOS, eis a VERDADE!

 

O Conhecimento

 

A busca da verdade requer conhecimento e saber, que envolve não só o uso da razão, mas, também, exige um pouco de intuição.

 

O verdadeiro pensador não é o que sabe muito, mas o que tem um espírito livre. É o que sabe pensar por si mesmo. É o que se esforça para ser cada dia melhor.

 

Conhecer-se a si mesmo” é só o primeiro passo que nos permite iniciar uma nova vida em busca do aperfeiçoamento. É um trajeto que não tem fim.

 

A Prática da Virtude

 

O “Conhece-te a ti mesmo” contém, ainda, um segundo mandamento: “Busca a verdade e pratica a virtude

O homem só atinge seus objetivos quando se liberta do erro e compromete-se com o ideal de vida. Busca a verdade e pratica o bem. Esse é o sentido pleno do “constrói-te a ti mesmo.

 

Diante do exposto chegamos à conclusão que existe uma identidade entre o saber e a virtude. O homem só pode ser virtuoso quando conhece a verdade. Quando consegue livrar-se dos temores será capaz de fazer o bem. O “Conhece-te a ti mesmo” tem, pois, um alcance moral. Somos convidados a rever os impulsos que desencadeiam as nossas ações e se estamos em conformidade com os princípios da moralidade e da justiça.

 

Ensinamento Simbólico

 

O homem livre é o resultado de um treinamento não-dogmático. Conhecer é uma viagem que nunca acaba. É um processo de constante e incessante busca. A história mostra que toda vez que o homem tentou alcançar a verdade através do dogma, a ideia atrofiou, e o tempo, para ele, estagnou. O dogma é a transformação da ideia – o que seria fecunda e libertadora – transforma-se em coisa morta ou nos leva à escravidão.

 

Mais uma vez o homem sábio precisa de toda a sua coragem para fugir da tentativa irracional que se interpõe no caminho de seu aperfeiçoamento. Ele sempre obterá recompensas e logo descobre que a verdade e a virtude estão associadas com a beleza, que propicia a harmonia, o equilíbrio e a consistência.

 

Não existe maior prazer do que a paz interior, a convivência fraterna e o diálogo iluminador.

 

Nos postulados de nossa Ordem estão assentes os valores da fraternidade e da tolerância como forma de aperfeiçoamento.

 

Por isso a preciosidade do ensino simbólico. Em seu conteúdo, os símbolos para serem desvendados; imagens que sugerem o despertar dos sentidos, no princípio, intuitivamente; ao longo do tempo será completado intelectualmente.

 

As imagens do Templo, as alegorias e as cerimônias se tornam sinais para aqueles que conseguem penetrarem seus múltiplos significados.

 

A educação simbólica por não ser dogmática, possibilita-nos múltiplas visões e criação de novas interpretações, contribuindo, assim para a realização da grande obra.

 

Conheça a si mesmo e pratica a virtude. Esse convite a uma vida bela resume a essência do pensamento filosófico. Isso também é obrigatório para guiar a vida ética e intelectual do homem sábio.

 

José Airton de Carvalho

Mestre Maçom (Instalado), membro da ARLS Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte.

 

Publicado originalmente em https://opontodentrocirculo.com/