A busca, no simbolismo, pelo modelo do mestre perfeito.
Distante das luzes da cidade, é possível olhar para o alto e contemplar algo além das nuvens. Pontos de luzes como que fixos a nos mostrar a imensidão. Assim, não é difícil imaginar a existência de uma Ordem nas estrelas.
Já pela manhã, além das nuvens, observa-se um ponto de luz que ilumina a terra e gira em torno dela. E nesta observação, imaginar a presença desta luz estabelecendo uma Ordem na terra: as estações do ano; tempo de plantar, tempo de colher; tempo de operar, tempo de espera. Na vida, a presença da Luz do Sol como fator essencial.
Os antigos ao reconhecerem a importância da estrela que nasce e morre todos os dias, tal qual a fênix mística, lhe devotou uma adoração, o rito solar. Rito referenciado, de forma subjacente, na maioria das sessões maçônicas simbólicas.
A importância do rito solar é melhor compreendida quando se observa que apenas uma estrela determinava a ordem na terra; sendo que a noite, a Lua apenas devolve a luz que recebeu do Sol. Logo, uma só Ordem nos Céus, uma única ordem na terra, uma única ordem na clã, na família.
Enfim, o ordenamento do Delta: na base as famílias, e a autoridade dos chefes de família; na sala de aula a autoridade do mestre; no hospital a autoridade do terapeuta;... no pais a autoridade do chefe de estado; no vértice superior do Delta, no Reino dos Céus, a autoridade do Grande Arquiteto do Universo.
Este ordenamento era tido como natural, pois aparentemente era assim em toda a natureza. Todavia, não passava de uma idealização. Que começou a ruir quando os dados empíricos revelaram que era a terra que girava em torno do sol, e não o contrário. Daí para frente, os modelos para descrever o macro e o microcosmo passaram a ser elaborados a partir de dados empíricos e experimentais. Do mesmo modo a autoridade do pai foi questionada e poder na família foi compartilhado com a mãe. Assim, também, a autoridade do Rei foi questionada e o poder dividido em três.
Mas, antes desta revolução empírica na produção do conhecimento e na divisão do poder, o Rei Salomão que herdara do pai um império e recebera como revelação de Deus, do Senhor dos Exércitos, as determinações de como construir um Templo à Glória do Grande Arquiteto do Universo, resolveu construí-lo.
Entretanto, embora o povo do Rei Salomão conhecesse a arte do pastoril e a arte da guerra, não conhecia a arte da construção de um Grande Templo. Assim, Salomão precisou solicitar a colaboração do Reino de Tiro, o que foi atendido, tendo sido encaminhado à Cidade da Paz o virtuoso arquiteto, dentre os melhores do reino, o Mestre Hiram.
Toda uma grande narrativa é apresentada na Lenda de Hiram, e é nela que se fundamenta a maçonaria simbólica. Hiram é a encarnação do Mestre Perfeito e como tal propõe e impõe uma ordem nos trabalhos: a cada um conforme o seu dom, sua habilidade, sua competência...seu mérito.
Da ordem de distribuição dos trabalhos e da sua hierarquia, derivou a revolta dos que não se beneficiavam dela. Um número múltiplo de três obreiros, colados no grau de companheiro, se insurge contra a Ordem na Construção do Templo. Desejavam obter pela força, e não pelo saber, a palavra sagrada só confiada aos obreiros colados no Grau de Mestre.
Dos revoltosos, três se encarregam da missão de tomar pela força a palavra que revela o secreto da Ordem, resultando no martírio do Mestre Perfeito e na perda da Palavra Sagrada. Em decorrência, outro conduziria os trabalhos, e para tanto uma nova palavra foi escolhida; desde então, a palavra sagrada original foi perdida, e até hoje o templo está inconcluso.
O que poderemos apreender desta narrativa? Em geral encontramos uma infinidade de respostas, conforme o entendimento dos escritores maçons (ou não) que se dedicam a estudar a Ordem Maçônica. É como se a Lenda de Hiram fosse apreendida em conformidade com o nível de consciência de cada um. Como os níveis são diversos, diversas as interpretações.
Alguns obreiros quando exaltados ao Grau de Mestre ficam satisfeito com a palavra substituta, por mais que seja sugestivo o lembrete de que "a carne lhe desprende dos ossos". Embora fique por demais evidente que a nova palavra não contém o Logos, é por demais cômodo se imaginar um Mestre, já que foi exaltado como tal pelos seus irmãos.
Outros entendem que a palavra perdida deve ser encontrada. Portanto, a exaltação se constitui, em verdade, a revelação que lhes foram confiada é, tão somente, um certificado que todos continuam na condição de "eternos aprendizes". Estes continuam a trabalhar no simbolismo, no que une, na espera de um dia alcançar a iniciação plena nos mistérios maçônicos.
Todavia, as duas opções apresentadas não esgotam as escolhas. Outros propuseram diferentes extensões da narrativa original, e consolidaram diferentes ritos plenos de novos graus iniciáticos. Os tamanhos das extensões dependem do rito e, consequentemente, do número de graus iniciáticos que lhe foram acrescidos.
Na narrativa proposta no Rito Adonhiramita a extensão da Lenda original passa, antes, por uma modificação da mesma. Não só pela nova denominação da lenda. Mas, principalmente, pela identificação do Grande Arquiteto do Universo com o Deus Amor, anunciado pelo apóstolo Iohanan.
Neste espaço aberto ao diálogo, nada mais posso acrescentar ao não iniciado na Arte Real, todavia, muito já foi revelado ao obreiro da Maçonaria Simbólica.
Talvez, como uma chave para os que buscam a Palavra perdida, sugiro que leiam, mais uma vez, os cinco primeiros versículos do hino de Iohanan que ecoam, ainda hoje, nas organizações maçônicas, que em geral prescrevem a abertura dos seus trabalhos, no nível de aprendiz, mediante a leitura do prólogo do livro de Iohanan para anunciar que quem as anima é a Palavra Sagrada.
1. No princípio: o Logos, o Logos está voltado para Deus, o Logos é Deus.
2. No princípio, ele está com Deus.
3. Todas as coisas foram feitas por meio dele; sem ele: nada.
4. Ele é a vida de todo o ser, a vida é a luz dos homens.
5. E a luz brilha nas trevas, mas as trevas não conseguem alcançá-la.
No princípio o “davar” – palavra hebraica equivalente à palavra grega “logos” - a promessa, a ação, a ordem... Ordem que dá forma e consistência a todas as coisas. A informação estrutural.
Melquisedec, ao Vale do Mirante, transcorridos 23 dias, sete meses e 2015 anos da revelação da Luz.
Fonte: https://hiranmelo.blogspot.com/2015/07/a-busca-no-simbolismo-pelo-modelo-do.html