A Caminho de um futuro sem empregos

Em um artigo de opinião no The Wall Street Journal, o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers reavivou um debate que eu tive com o futurista Ray Kurzweil, em 2012, sobre o futuro sem empregos.

Ele ecoou as palavras de Peter Diamandis, que afirma estarmos a passar de uma história de escassez para uma era de abundância. Em seguida, ele observou que as tecnologias que tornam possível tal abundância estão permitindo a produção de muito mais produto usando muito menos pessoas.

 

Em tudo isso, Summers está certo. Dentro de duas décadas, teremos energia quase ilimitada, alimentos e água potável; avanços na medicina nos permitirão viver vidas mais longas e saudáveis​​; robôs conduzirão os nossos carros, fabricarão os nossos produtos e se desvencilharão das nossas tarefas.

 

Não haverá muito trabalho para os seres humanos. Carros auto conduzidos estarão disponíveis comercialmente até o final desta década e, eventualmente, dispensarão os motoristas- do jeito que os automóveis dispensaram o cavalo e a charrete- e vai eliminar os postos de trabalho de motoristas de táxis, de ônibus e caminhões. Drones vão tirar os empregos dos carteiros e entregadores.

 

Os debates da próxima década serão sobre se devemos permitir que os seres humanos dirijam nas vias públicas. Os enervantes seres humanos colidem uns com os outros, sofrem acessos de raiva nas estradas, agem selvagemente em engarrafamentos e precisam ser monitorados pela polícia de trânsito. Sim, também não vamos precisar mais de guardas de trânsito.

 

Robôs já estão substituindo trabalhadores na fabricação. Robôs industriais avançaram ao ponto em que podem fazer o mesmo trabalho físico dos seres humanos. O custo operacional de alguns robôs é agora menor do que o salário de um trabalhador chinês médio. E, ao contrário de seres humanos, os robôs não se queixam, não se filiam a sindicatos nem ficam distraídos. Eles prontamente trabalham 24 horas por dia e exigem um mínimo de manutenção. Os robôs também tomarão os empregos dos agricultores, farmacêuticos e balconistas de supermercados.

 

Sensores médicos em nossos smartphones, nas nossas roupas e banheiros em breve estarão monitorando a nossa saúde de minuto-a-minuto. Isso, combinado com registros médicos eletrônicos, dados genéticos e do estilo de vida irão fornecer informações suficientes para que os médicos se concentrem na prevenção das doenças ao invés de curá-las.

 

Se houver necessidade de medicamentos, poderão ser receitados com base no genoma da pessoa ao invés de ”um-tamanho-serve-para-todos” como atualmente. O problema é que há agora tanta informação que os humanos nem conseguem efetivamente analisar. No entanto, médicos baseados em inteligência artificial podem, como o Watson da IBM. O papel do médico muda para proporcionar conforto e compaixão- não para diagnosticar a doença ou receitar medicamentos. Em outras palavras, computadores também estarão assumindo alguns dos empregos dos nossos médicos, e não precisaremos de tantos médicos humanos como temos hoje.

 

Será como o futuro que o CEO da Autodesk, Carl Bass, descreveu certa vez para mim: "A fábrica do futuro terá apenas dois funcionários: um homem e um cão. O homem estará lá para alimentar o cachorro. O cão vai estar lá para impedir o homem de tocar nos equipamentos ".

 

Summers está errado, entretanto, quando crê que os governos podem fazer o mesmo que fizeram na era industrial: “criar trabalho suficiente para todos que precisem labutar por renda, capacidade de compra e dignidade”. Eles mal e mal conseguem acompanhar os avanços que estão ocorrendo na tecnologia, que dirá desenvolver políticas econômicas para o emprego. Mesmo os tribunais estão lutando para entender as questões éticas e legais de tecnologias avançadas.

 

Nem eles, nem os nossos legisladores chegaram a definir como proteger nossos dados e informações pessoais, controlar monopólios de serviços a cabo e de Internet, regular os avanços na genética e medicina, e como taxar  a economia compartilhada que empresas como Uber e a Airbnb abrigam. Como irão os legisladores lidar com o desmantelamento de indústrias inteiras em períodos mais curtos que os ciclos eleitorais? A era industrial durou um século, mas as mudanças dela resultantes ocorreram ao longo de gerações. Agora temos incubação de empresas no Vale do Silício sacudindo setores basilares, tais como cabo e  radiodifusão, hotéis e transporte.

 

O recado está claramente no quadro de avisos sobre o que está por vir. No entanto, mesmo os economistas mais brilhantes-e futuristas- não sabem o que fazer sobre isso.

 

Em seu debate comigo, Kurzweil disse: "A automação sempre elimina mais empregos do que cria, se você só olhar para as circunstâncias muito próximas ao redor da automação. Isso é o que os Luditas viram no início do século 19 na indústria têxtil, na Inglaterra. Os novos postos de trabalho vieram pelo aumento da prosperidade e novas indústrias que nem foram previstas”. O argumento-chave de Kurzweil era o de que, assim como não pudemos prever os tipos de empregos que foram criados, não podemos prever o que está por vir.

 

Kurzweil é certo, mas o problema é que, não importa quais sejam os empregos do futuro, eles certamente exigirão mais habilidade e educação – os robôs podem se encarregar de todo o trabalho duro. Fabricantes que estão querendo trazer a produção de volta já se queixam de que não conseguem encontrar número suficiente de trabalhadores qualificados nos EUA para suas fábricas automatizadas. Empresas tecnológicas que escrevem software também se queixam da escassez de trabalhadores com as habilidades que eles necessitam. Não seremos capazes de retreinar a maior parte da força de trabalho com rapidez suficiente para assumir os novos empregos em indústrias emergentes. Durante a revolução industrial, foram as gerações mais jovens que foram treinadas, e não os trabalhadores mais velhos.

 

A única solução que eu vejo passa pelo encurtamento da semana de trabalho. Talvez possamos trabalhar de 10 a 20 horas por semana, em vez das 40 de hoje. E com os preços das necessidades e daquilo que hoje consideramos bens de luxo caindo exponencialmente, podemos não precisar de toda a população trabalhando. Há certamente uma possibilidade de distúrbios sociais por causa disso; mas podemos também criar o futuro utópico com que temos há muito sonhado, com uma expressiva parte da humanidade focada em criatividade e esclarecimento.

 

Independentemente disso, na melhor das hipóteses, temos outros 10 a 15 anos, em que há um papel para os seres humanos. O número de empregos disponíveis vai na verdade aumentar nos EUA e Europa antes de começar a diminuir. A China está defasada no tempo, porque tem uma economia baseada na produção e aqueles postos de trabalho já estão desaparecendo. Ironicamente, a China está acelerando este fim, abraçando robótica e impressão 3D. À medida que a fabricação volta para os EUA, novas fábricas precisam ser construídos, os robôs precisam ser programados, e nova infra-estrutura precisa ser desenvolvida. Para instalar o novo hardware e software em carros já em uso existentes para torná-los auto-conduzidos, necessitaremos de muitos novos mecânicos de automóveis. Precisamos fabricar os novos sensores médicos, instalar painéis solares cada vez mais eficientes e escrever novos softwares de automação.

 

Assim, o futuro é muito brilhante para alguns países a curto prazo, e no longo prazo é incerto para todos. A única certeza é que muita mudança está por vir para a qual ninguém realmente sabe como se preparar.

* Vivek Wadhwa é um membro no Centro de Governança Corporativa Arthur & Toni Rembe Rocha, da Universidade de Stanford; Diretor de Pesquisa do Centro de Empreendedorismo e Comercialização de Pesquisa da Escola Pratt de Engenharia da Universidade Duke; Membro Emérito da Universidade da Singularidade. Ele é autor de "The Immigrant Exodus: Por que a América está perdendo a corrida global para capturar talento empresarial", nomeado pela revista The Economist como O Livro do Ano de 2012, e "Mulheres Inovadoras: mudando a cara da tecnologia", que documenta as lutas e triunfos da mulher. Ele foi nomeado pela revista Foreign Policy como Pensador Global TOP-100 em 2012. Em 2013, a revista Time o listou como uma das 40 Mentes Mais Influentes em tecnologia. 

 

Originalmente publicado no Alerta Total (www.alertatotal.net) e texto traduzido por Carlos Bollmann de Bruns para o Alerta Total.