A corrupção no dia a dia
Antes da Operação Lava-Jato, pouco se ouvia falar em corrupção. Muitas pessoas nem sequer sabiam qual é o seu significado e não se davam conta da influência em toda a sociedade. Mas a pergunta que fica é: quem, de fato, pratica a corrupção?
Será que ela está presente apenas nesse meio, no qual políticos, doleiros, empreiteiras e pessoas de alto escalão são diretamente beneficiados e enriquecem com a sua prática, ou ela pode estar presente nas situações que vivenciamos no nosso cotidiano?
Recentemente, assisti duas produções brasileiras: o filme Salve Geral e a série O Mecanismo. O filme trata sobre uma família que foi desestruturada pelas drogas e uma mãe, viúva, que, para proteger o filho na prisão, alia-se ao crime organizado e passa a integrar um sistema corrupto composto por agentes prisionais, advogados e uma facção criminosa.
Já a série aborda a Operação Lava-Jato e desmistifica a corrupção como um círculo vicioso sem fim.
As duas produções fizeram com que eu passasse a analisar as ações do nosso dia a dia, fazendo-me perceber que nós todos, de uma forma ou de outra, praticamos a corrupção, porém, não nos damos conta disso.
Já parou para pensar em quantas vezes você deixou de tirar uma nota fiscal para não computar no Imposto de Renda? Quantas vezes omitiu uma informação ou, até mesmo, alterou algum dado para conseguir uma bolsa de estudos ou uma tarifa menor de juros em um financiamento habitacional, por exemplo? Já parou para pensar que situações como essas, que pretensões de vantagens como essas, que parecem não ter gravidade, porque diretamente não afetam ninguém podem também configurar situações de prática de corrupção?
Cada ato ou ação que fazemos com o intuito de obter algum ripo de vantagem nos faz corrutos, tanto quanto os políticos, os doleiros e os empreiteiros sobre os quais enchemos diariamente a boca para dizer que o Brasil não tem solução, porque esse “bando” de corruptos segue “mandando” no país.
E qual é a nossa participação em todo esse sistema? Será que se começarmos por nós mesmos não poderemos ser a mudança do nosso país?
Adriane Rangel
Jornalista