A Cultura e o apagão


Pertenço a uma geração que teve o resquício da aculturação francesa e que se aprendia latim no Ginásio e grego no Curso Clássico. Enveredei-me por esse caminho. Tenho minhas próprias convicções da diferença na qualidade de ensino daquela para esta época.

Nossa intelectualidade abeberava-se na influência das escritas francesas, com Jean Paul Sartre, Marcel Proust, André Maurois, para citar alguns, por exemplo, dos mais badalados da época. O primeiro livro que li foi na adolescência chamado “Memórias” desse último escritor, que em 1947 adotou em definitivo como sendo aquele o seu nome oficial. Guardo até hoje passagens notáveis dessa obra.

Certa vez pedi a um de meus filhos que cursava Direito que me auxiliasse em uma curiosidade,  indagando sutilmente para alguns colegas de bancos escolares quem foi Sartre, Proust e Maurois. Apenas um ouviu falar em Sartre, outro em Alain Prost (o ex-corredor de F-1) e nenhum de André Maurois. Mas falaram em Zeca Pagodinho e Jota Quest e sua banda.

A França era tão admirada que se conhecia mais sobre a história de Paris do que a capital americana. Nas últimas décadas, entretanto, o domínio político-social americano fez o idioma inglês disparar rapidamente como a língua estrangeira primordial.

Pedagogos advertem-nos sempre para a globalização do trivial e dos “portáteis” cujos IPad , IPhone etc., povoam nosso espaço linguístico, levando os universitários até à incapacidade de conjugar verbos.

Enquanto não houver uma política educadora eficaz, nosso jovem continuará lendo pouco e mal, quiçá somente o necessário. O que mais fará é correr os olhos atrás das letras e dos “Google-net” sem compreender muito do que está lendo.

A convivência com o livro já não existe. Com o dicionário muito menos. A propósito, você tem algum na sua estante? Ou será que no lugar dele existe algum disco novo do “Queens of The Stone Age”?

Dias passados jornal de expressão nacional noticiava a preocupação da possibilidade de algum apagão pelos desgovernos que se sucedem. Pus-me a sonhar: será que desse apagão voltariam algumas lamparinas no lugar dos horários televisivos para quem sabe, alguém descobrir quem foram Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust, Jean-Paul Charles Aymard Sartre e Emile Salomon Wilhelm Herzog?

Jeronimo Borges

Fonte: JBNews Nº 1.237 de 21 de janeiro de 2014