A dona da história.
Quando nascemos, é difícil compreender o mundo de imediato. Leva um tempo até assimilarmos a explosão de cores, cheiros, sons, texturas e sabores espalhados por aí. Quando as informações se acalmam, vêm as primeiras percepções. E uma das lições mais definitivas da vida é uma palavra com três letras: não.
Geralmente chega com um grito: quando a criança leva um objeto pontiagudo à boca, por exemplo. Mas esse alerta é um não amoroso de alguém que quer que sobrevivamos aos perigos do mundo. Um alarme natural da vida até que consigamos ter maturidade para compreender todos os riscos que nos cercam.
É curioso termos inventado uma palavra tão pequena com o forte objetivo de fazer algo parar imediatamente de acontecer. A encrenca não mora aí. O problema são os “nãos” que vão aparecendo nos diálogos, nas situações cotidianas e que pouco a pouco vão paralisando nossas ações. Começam a entoar a negativa por aí como um mantra onipresente que vamos acatando até perder a capacidade de questionar o que significa. Esquecemos que um “não” se parece muito com a palavra impossível: trata-se de uma opinião em relação ao caminho que você pretende escolher. E, como toda opinião, pode estar certa ou não.
Nem tudo é negativo na palavra “não”. Ela impulsiona muitas pessoas por aí. Gente que não faz dela uma lei absoluta. Os grandes gênios da humanidade comprovam isso com suas histórias: do “não é possível fazer isso”, mudaram as suas e as nossas vidas completamente.
Afinal, posicionar-se contra algo nem sempre é sinal de rebeldia. Pode significar, apenas, que se quer ir além do lugar onde o outro quer parar de tentar.
É difícil lutar contra essa maré de “nãos” que recebemos. Às vezes, receber um basta e fere como um tapa na cara. Ou assusta como um balde de água fria. Por isso, nem todo dia dá para receber um “não” de cabeça erguida. Somos humanos recheados de expectativas e de desejos de aprovação.
A grande sacada é enxugar o choro (porque engoli-lo só faz mal) e compreender que ele é o reflexo do que o coração de alguém diz. Por detrás da pequena palavra existe alguém que poderia tomar a mesma atitude – mas não quer ou tem medo pelo que viveu e pelo que você pode viver.
Ao fim do dia, a menina recebeu um grande “não” que ecoou na alma. Olhou para dentro e escutou como a palavra reverberava lá dentro. A palavra não se encaixava, não era lida. Era apenas um temor de quem falou. Valia a pena arriscar nessa vida repleta de desafios. E foi assim que ela aprendeu que o “sim” da gente é mais forte do que qualquer grande “não” que ecoa nos ouvidos.
Além de definir, de uma vez por todas, quem é a dona da história que se conta.
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Autora
Thais Ferreira Gattás.
É escritora. Observadora da vida, tenta traduzi-la com a delicadeza de um buquê de flores. Escreve todas às sextas-feiras para o jornal Notícias do Dia e é colaboradora do jornal Psicologia em Foco. Atua também como criadora de conteúdo e roteirista para os mais diversos veículos de comunicação.