A força do silêncio

O silêncio está presente desde o começo da vida maçônica. Talvez a coisa mais avassaladora na mesma Câmara de Reflexão seja o silêncio, ainda mais do que a decoração macabra ou a escuridão.

Quando se está lá sozinho, tão predisposto a entrar em algo novo, ao mesmo tempo temido e desejado, cerado por aquele silêncio sepulcral, ouve-se dentro de si mesmo como se nunca pode tê-lo feito, e parte do que se escuta é aflitivo.

Durante a permanência na Coluna do Norte, se aprende o valor do silêncio e é convidado a praticá-lo. Descobre-se quão valioso é ser capaz de poder aprender, especialmente quando a aprendizagem, como é o cado, refere-se a questões transcendentais como refletir sobre o profundo simbolismo que nos é mostrado e explicado.

 

Aprende-se que o silêncio não é apenas possível com referência à palavra, mas também que se pode guardar silêncio na mente e no coração, isto é, em pensamentos e emoções.

 

A eliminação do diálogo interno opera verdadeiros e surpreendentes milagres, a tal ponto que se torna possível mudar de comportamento com um simples esforço para eliminar todas aquelas palavras que acrescentamos, em nosso interior, a eventos desagradáveis ou irritantes. De fato, a origem do aborrecimento, da ira, dos desejos de vingança, da melancolia e de muitos outros sentimentos e emoções negativas surgem mais adequadamente do nosso diálogo interno do que dos próprios fatos. Só se requer o hábito para interromper antecipadamente o processo. É o diálogo interno que confere poder às pessoas e às coisas para nos ofender ou irritar.

 

Por outra parte, o silêncio interior é frequentemente quebrado com palavras mentais, e a palavra, apesar de ser um instrumento muito útil para a comunicação formal, é uma grande traidora por sua concreção forçada e seu poder de fixar ideias, reduzi-las, simplificá-las e, portanto, limitar seu crescimento, seu potencial.

 

Nosso comportamento obedece a nossa vontade, mas na maioria das vezes existem interferência, tanto externas quanto internas, que modulam e modificam nossas respostas e movimentos.

 

Se o ambiente supõe um condicionante do comportamento, o ruído interno é um fator determinante fatal. Para permitir, então, que a vontade seja fielmente traduzida no comportamento correspondente, é essencial eliminar ou minimizar essas interferências do fórum interno, pois além disso não temos muito controle sobre o entorno, é o domínio interno que melhor garante a capacidade limitativa para se expressar.

 

Tantos outros inimigos do homem, denominados pecados pelas religiões, vícios pelo que supõem do hábito do distanciamento do bem, cadeias para o crescimento do homem em geral e do maçom especialmente, requerem a ajuda do silêncio interior para murchar.

 

Acaso a inveja não precisa do contínuo alimentos de pensamentos negativos em que o cobiçado é constantemente exaltado e constantemente comparado com a revisão das próprias necessidades? É que a ambição não cresce cada vez que nos repetimos o pouco que somos e repassamos a lista de vantagens que nos reportaria o poder e a riqueza?

 

Não necessita o ódio, para não se extinguir, que o pensamento seja lembrado, repetidas vezes, quão grande foi a ofensa?

 

Bem se não molharmos todas essas ervas daninhas, elas desaparecerão infalivelmente. E é que as palavras, mesmo aquelas que não são pronunciadas, têm atributos de decretos para nosso cérebro.

 

Além disso, aquele que pratica o esvaziamento do pensamento, seja meditando, fazendo ioga ou absorvendo-se em uma tarefa ou contemplação, sabe que, do silêncio, brotam revelações impensáveis. Se eles vêm de nós mesmos, do nosso verdadeiro ser nu, ou se é conhecimento de algum modo flutuante e herança de qualquer um que possa ouvir com um espírito calmo, é algo que não altera o valor do conteúdo.

 

O silêncio não é sinônimo de sabedoria, mas é um ingrediente inicial e sempre essencial. Silêncio para não ofender, para não errar, para não deter o crescimento criativo, para escutar, para aprender, para evitar ser reativo e subsequentemente manipulável. O silêncio para amar, porque o amor é feito de atos e não de palavras.

 

Que grande expoente da amizade é poder compartilhar os silêncios sem se sentir envergonhado ou violento!

 

Do que foi dito até agora, parece uma vantagem ser mudo ou desinteressado. No entanto, a palavra deve ser dita em ocasiões precisas, aquelas em que, citando o poeta, tuas palavras sejam mais belas que o teu silêncio.

 

Mas a palavra será correta se nasce do silêncio, não do ruído. E longe de produzir apatia, o silêncio que permite é manifestar-se à vontade sem impedimentos. Tampouco é preciso um silêncio constante das emoções, embora talvez seja esse o caminho do nirvana, mas, a partir de um espírito calmo e limpo de impurezas negativas, podemos exercitar com vantagens um diálogo interno que nos ajude a ser proativos.

 

Qualquer um que pratique um jogo simples que consista em pensar em algo bom sobre cada pessoas que se cruze qualquer dia em um passeio na rua, para encontrar um aspecto positivo ou característico em cada rosto e corpo, sentirá uma alegria interior que parece vir do nada de repente vai se ver sorrindo placidamente.

 

Existem uma palavras especialmente importantes, palavras mágicas que nosso pensamento deve buscar e utilizar. É sobre os nomes dos demônios, dos nossos demônios. Desde os tempos primitivos, o homem usa o procedimento mágico de nomear o que ele teme, e com isso ele obtém um tipo de controle sobre o temível, a força de controlar diretamente seu medo.

 

A nomeação de demônios frequentemente leva ao desaparecimento de seu poder na tradição das histórias. Bem, o ruído interno é inventado por uma infinidade de pensamentos, ideias e emoções mal estruturadas por nossa mente, não totalmente articuladas ou reconhecidas, muitas vezes relegadas à sombra por nossa auto-estima ofendida.

 

Frustrações, preconceitos, informação não processada, tudo isso ameaça permanentemente nossa liberdade de exercer ação negativa.

 

Extingamos esse ruído pernicioso pela exploração atenta do nosso emaranhado mental e a subsequente nomeação de cada um desses fantasmas.

 

Descobriremos com alegria que eles se tornam menores, que perdem o vigor e a capacidade de nos impedir de agir de maneira correta e eficaz. Atribui-se a Buda a recomendação de limpar nossa mente pouco a pouco, assim como deve ser feito em nossa casa, porque a poeira que acumula todos os dias acaba se tornando uma pilha fedorenta de lixo. A limpeza da mente tem um brilho específico: o silêncio.

 

A ignorância supõe falta de conhecimento, mas acima de tudo supõe um excesso de incompetência, assim como a desinformação é mais perniciosa do que a simples falta de dados.

 

E a ignorância, no seu mais alto grau, gosta de ser exibida com um excesso de palavras, palavras que perdem muito e muitas vezes machucam. Portanto, o silêncio é uma arma inestimável contra a ignorância.

 

Não acrescentemos à nossa própria ignorância o ruído de palavras vazias, porque outras não podem deixar esse estado, porque então as palavras nos farão perder a oportunidade de ouvir, de compreender o conhecimento.

 

Embora geralmente haja um tráfego duplo, aferente e eferente, simultaneamente, em nossa relação com o entorno, não é menos verdade que a qualidade de cada caminho melhora com a concentração, com o foco, ou seja, quando se minimiza um dos caminhos. 

Assim, quando queremos nos apropriar de algo externo, como a informação, devemos reduzir nossa atividade de exteriorização, da mesma forma que não há melhor ajuda para nossas ações do que ignorar o ruído externo. Desta forma, o silêncio é uma garantia de eficácia na aprendizagem.

 

O conhecimento também vem da reflexão, da digestão íntima da informação. Sem este processo interno, a informação não é capaz, por si só, de gerar conhecimento.

 

Não devemos repetir a importância do silêncio interior para que essa assimilação criativa ocorra de forma eficiente e adequadamente articulada.

 

Para terminar este panegírico sobre o silêncio, gostaria de convidar a uma reflexão. Na linguagem verbal vem dar uma importância primordial às palavras, o que parece até um axioma.

 

No entanto, vamos notar a importância dos silêncios, sem o qual o discurso careceria de sentido em seu aspecto formal, e mesmo em suas conotações.

 

Sabe-se da enorme eficácia dos silêncios eloquentes que ditam um discurso ou uma conversa, dotando-os de força e capacidade de persuasão.

 

Sem silêncio não pode haver diálogo, não apenas por razões óbvias de alternância no uso da palavra, mas porque não há maior facilitador da expressão alheia, que o silêncio próprio. A comunicação verbal requer do silêncio tal como o precisa a música, que é, talvez, a mais maravilhosa forma de romper o silêncio, exceção feita de uma doce palavra.

 

Juan Sánchez Joya

 

Fonte: https://www.seg33esp.org/

 

Tradução livre feita por Juarez de Oliveira Castro