A fórmula de felicidade tem apenas duas palavras

 

Ao menos essa é a conclusão de um estudo feito em Harvard. Um dos mais longos já realizados.

 

Ser feliz é ter uma carreira invejável construída a partir de trabalho árduo? Ou é simplesmente ter paixão pelo que se faz? A felicidade está na fama, sucesso e dinheiro? Ou ser feliz mesmo é viver à base de sexo, drogas e rock and roll?

 

Não. Nenhuma dessas alternativas nos aproxima da felicidade. Ao menos segundo um dos estudos mais duradouros de todos os tempos e que, apesar de já ter sido divulgado em 2012, segue pertinente e gerando novas descobertas.

 

Acredito que o trabalho continua relevante por três motivos. A primeira razão é o tema que ele aborda. Editora do LinkedIn, Claudia Gasparini especulou sobre os motivos que levaram a uma febre recente de cursos que pretendem ensinar a felicidade em universidades americanas. Estaríamos menos felizes ou, quem sabe sequer entendemos o que é felicidade?

 

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“É prerrogativa da grandeza proporcionar enorme felicidade com pequeninos dons”

Friedrich Nietzsche

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O segundo motivo é pela duração desse estudo feito na Harvard University Health Services e que é admirável: 75 anos monitorando a vida de centenas de homens nos EUA com o objetivo de acompanhar diferentes trajetórias de vida e conseguir mapear a trilha para uma vida longa e feliz. As pesquisas começaram em 1938 com diferentes turmas de alunos da universidade. Foram feitos exames físicos e um acompanhamento contínuo ao longo desses vários anos com base em questionários e avaliações médicas.

 

O terceiro motivo, é claro, são as conclusões da pesquisa e as reflexões que ela provoca. A resposta não poderia ser mais simples. Bons relacionamentos são as duas palavras capazes de prolongar a vida e tornar as pessoas mais felizes e saudáveis. Família, amigos, as pessoas do bairro, do trabalho, das comunidades as quais pertencemos. Os laços que criamos com outros seres humanos são mais importantes do que qualquer outro valor ou bem material.

 

Sinto muito se uma resposta tão singela possa frustrar quem esperava uma receita mais espetaculosa. A mágica é simples. Ou, talvez, não tão simples assim, se considerarmos a quantidade de gente que permanece perdida ou em busca da felicidade por caminhos tortuosos.

 

O estudo mapeou pessoas de diferentes classes sociais. Gente que era pobre e ficou rica, gente que perdeu tudo, gente que lutou na guerra e até quem se tornou dependente químico. Essa longa pesquisa aborda dois tipos de situações. Aquelas que podemos controlar, como questões genéticas ou da classe social que herdamos, e outras que estão mais ao nosso alcance. Segundo Robert Waldinger, professor de psiquiatria da escola de medicina de Harvard, “as escolhas que fazemos na fase adulta são os mais importantes indicadores de uma vida longeva”.

Quem tem uma infância dura enfrenta mais dificuldades quando adultos, mas isso não indica, necessariamente, que esses efeitos serão permanentes. Waldinger afirma: “pessoas que se sentem satisfeitas com seus relacionamento aos 50 anos, são as mais saudáveis quanto completam 80”.

 

Um dos pontos levantados por ele é sobre como as pessoas convivem com os problemas e as decepções do dia a dia. O casamento é citado como uma forma saudável de superar as adversidades, com a ressalva de que uma relação sem afeto pode ser pior que um divórcio.

 

Em sua apresentação desse estudo para o TED (vídeo acima), o professor explica como é impossível evitar as discussões e desentendimentos de um casal, mas que um relacionamento com uma base forte ajuda a superar as dificuldades. Uma das conclusões dos cientistas envolvidos é que  bons relacionamentos oferecem segurança e conforto capazes de gerar benefícios físicos e mentais.

 

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Veja bem: não se trata de impedir que os problemas apareçam, mas saber como lidar com eles ao longo da vida.

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O professor afirma que ganhar 7.500 dólares ou 7.5 milhões de dólares impacta “significativamente pouco” na felicidade. 

 

A fama (e a invasão de privacidade que a acompanha) também não é a chave de uma vida sã e feliz. Mas elas ajudam a entender por que o maior obstáculo à felicidade é justamente nossa condição humana.

 

Tendemos a gostar mais e, muitas vezes buscamos, soluções rápidas e objetivos que qualquer outro pode alcançar, enquanto cultivar bons relacionamentos é mais complicado. Exige paciência, persistência e enfrentar uma trajetória cheia de percalços.

 

Pode parecer clichê, mas a ciência indica: a verdadeira felicidade exige o esforço de uma vida inteira.

 

Rodrigo Focaccio

 

 

Publicado originalmente em Linkedin.com