A HUMILDADE, UMA REFLEXÃO

 

A humildade é, senão a mais importante, uma das muitas lições do grau de aprendiz. E uma lição que acompanhará o neófito durante todo o seu percurso maçônico, tornando-se numa das pedras angulares na construção de um templo sólido e duradouro.

 

É a humildade que enfatiza a sabedoria, a força e a beleza. A história da humanidade está repleta de exemplos de indivíduos que se creem superiores as leis do homem e do próprio Grande Arquiteto do Universo.

 

Das cinzas viemos às cinzas retornaremos independentemente do grau, status ou título.

 

O Maçom não respeita o homem pela sua riqueza profana ou sua posição social, mas preocupa-se sim com a qualidade do caráter que este possui. Daí dizermos que o Maçom é igualmente amigo do rico e do pobre desde que sejam pessoas de bem.

 

O pavimento mosaico lembra-nos do potencial humano tanto para o bem, como para o mal. Sendo que a pedra bruta simboliza a nosso estado inicial, cru e imperfeito. Contudo a pedra cúbica demonstra que é possível aperfeiçoar-nos.

 

O Maçom deve aprender que é um erro assumir o manto da liderança sem demonstrar as qualificações necessárias aos seus irmãos.

 

Os verdadeiros lideres não buscam, nem lutam pelo poder, o poder vem até eles, porque é lhes imposto pelos que o rodeiam e nele reconhecem as qualidades para guiá-los.

 

O primeiro passo na direção da aquisição da verdade é a humildade da mente, que nos mostra a nossa ignorância e a nossa necessidade por conhecimento, de modo a estarmos preparados a recebê-lo.

 

“Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mateus 5:3)

 

A lição é difícil, mas também vital. Cito uma passagem do livro de S. João bem conhecida.

 

Quando se preparavam para partilhar a refeição da Páscoa, Jesus aproveitou o momento para ensinar uma lição necessária e os apóstolos jamais a esqueceriam.

 

Ele tomou uma toalha e água e foi, de discípulo em discípulo, lavando seus pés. Isto era. por costume, serviço dos servos mais humildes, mas aqui o criador do universo estava-se humilhando diante de simples galileus. 

 

Quando terminou, ele voltou-se para os apóstolos e perguntou? Compreendeis o que vos fiz? Pois me chamais mestre e o senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu sendo, o senhor e o mestre vos lavei os pés também deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade vos digo que o servo não é maior que do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem aventurados sóis se as praticardes”. Em João 13:1-17

 

Assim sendo, a humildade é uma virtude que duvida que o seja. Pois quem se gabasse da sua mostraria simplesmente que ela lhe falta. A humildade torna as virtudes discretas. É o conhecimento, ou reconhecimento, de tudo o que não somos. Facilmente se envereda pelo caminho da falsa humildade, da gabarolice, da presunção e da soberba.

 

E neste contexto transcrevo um excerto de um texto de um I Italiano, já passado ao Oriente Eterno em 1946, Arturo Reghini e que descreve a sua visão da Maçonaria que o rodeou e que deve servir de alerta para a que a nossa realidade não seja está.

 

Que os maçons dos nossos dias, ouvindo falar de cabala, misticismo, magia, sorria com superioridade, conta menos do que nada porque lhe falta, com raríssimas exceções, competência na matéria: e porque os sorrisos desdenhosos não destroem os fatos. (…)

 

Os maçons contemporâneos têm. Pelas antigas ciências ocultas, a simpatia que o diabo têm pela água benta e, não podendo oficialmente renegar a suas origens, satisfazem-se em renegá-las com os fatos, considerando-as uma espécie de pecado original da Ordem (…).

 

E posto que o elemento jovem, cheio de ardor, não vê à hora de dar um belo pontapé nos velhos símbolos e nos arcaicos rituais, estes se mantêm ainda vivos por duas razões: porque a necessidade de ter uma base comum como plataforma dos múltiplos sinais e palavras convencionais torna necessário conservar a base já universalmente e tradicionalmente aceite, e porque o múltiplo significado dos símbolos derivados da analogia ínsita na filosofia esotérica permite aos maçons não lhe dar senão uma interpretação ética vaga e pouco comprometedora.

 

Mas esta interpretação moral do simbolismo maçônico não salva sequer as aparências. Nem atenua a enorme degenerescência da Ordem, tão reduzida que está ao estritamente necessário e com valor puramente formal, superficial e cerimonial. (…)

 

Os templos já não servem para o culto maçônico, mas para as exercitações retóricas dos mais ou menos caríssimos irmãos. A degeneração é geral. (…). Quando se sabe que as atividades das lojas se resume a banquetes semanais com fraterna embriaguez. A ignorância da história e filosofia maçônica tornou-se tão espessa que não surpreende encontrar erros de simbolismo nos ornamentos do Grande Oriente no Palazzo Giustiniani.

 

Creio ter ficado bem ilustrado, que o caminho da soberba e do egocentrismo bate facilmente a porta do templo. Que é possível que a bajulação barata e a vaidade se sobreponha aos verdadeiros objetivos da ordem.

 

Que ânsia de ostentar medalhas ao peito, aquele avental mais ornamentado e de possuir pilhas de diplomas e honrarias alimentasse, alimente e alimentará o percurso de muitos membros da ordem do passado, presente e futuro. A torre de babel não é o caminho, para quem busca a sabedoria salomônica.

 

Lichtenberg dizia que a humildade teria de ser a virtude daqueles que não tem qualquer outra.

 

Assim, retomo a importância da verdadeira humildade.

 

Sem humildade, não serviremos outros como deveríamos, porque aqueles que são arrogantes e egoístas querem ser servidos, e não servir.

 

Sem humildade, não seremos seguidores. Os orgulhosos querem ser chefes e cobiçam a posição e a influência de outros.

 

Sem humildade não buscaremos realmente a verdade. O homem orgulhoso pensa que já conhece as respostas, e não quer depender de quem quer que seja. A arrogância também impede nosso entendimento da verdade. Se não queremos admitir a necessidade de mudança, ou não queremos aceitar o fato que alguma outra pessoa sabe mais do que nós, nosso orgulho será um bloqueio fatal.

 

Sem humildade, não reconheceremos nossos próprios defeitos. Somos até capazes de enganar nossos próprios corações para não vermos nosso próprio pecado.

 

Sem humildade é difícil aceitar a correção. O que rejeita a disciplina menospreza a sua alma, porém o que atende à repreensão adquire entendimento. Provérbios 12:1 “Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido.”

 

O outro lado deste problema é que a pessoa arrogante também não perdoa o erro dos outros. O orgulho é inerentemente egoísta, e nos torna facilmente ofendidos e lentos a perdoar. Isto cria uma tremenda barreira à fraternidade e amizade. A pessoa que não perdoa não será perdoada.

 

E o que é o verdadeiro Maçom, senão um homem humilde despojado dos preconceitos profanos, consciente das suas limitações, ansioso por crescer e construir o seu templo interior e tornar-se um homem melhor. E procurar humildemente a excelência, a perfeição mesmo sabendo que está fora do seu alcance, mas este fato não o assusta, nem o impede de se lançar nesta contenda.

 

Nelson Rodrigues da Costa 

Mestre Maçom da Respeitável Loja "Nova Avalon" – GLLP/GLRP

Fonte: https://focoartereal.blogspot.com.br/