A LENDA DO COLAR


Diz a lenda que um pai deu à filha um colar de diamantes de alto preço. Misteriosamente, alguns dias depois, o colar desapareceu. Falou-se que poderia ter sido furtado, ou que talvez um pássaro tivesse sido atraído pelo seu brilho e o levado embora.

Fosse como fosse, queriam o colar de volta, e o pai ofereceu uma grande recompensa a quem o encontrasse. A notícia logo se espalhou e todos começaram a procurar o colar.

Um rapaz das redondezas, ao passar por um lago muito sujo, viu nele algo que brilhava intensamente, e logo se lembrou da jóia e da recompensa por ela oferecida.

Colocou a mão sob os olhos para proteger-se do sol e certificou-se de que era mesmo o colar, no fundo do lago. As águas, entretanto, eram muito sujas e cheiravam mal. Pensando na recompensa, o rapaz venceu o nojo e tentou alcançar a jóia com uma das mãos. Parecia que a pegaria logo, mas ela sempre escapava.

Insistiu várias vezes, tentou com as duas mãos, e nada. O colar sempre lhe fugia. Com muito nojo, mas sempre pensando na recompensa, o jovem entrou dentro do lago, sujando-se e respirando aquela água poluída.

Um senhor idoso passou no local, e vendo o esforço do jovem, penalizado com a sua situação, perguntou o que estava acontecendo.

Preocupado e com medo de que o velho pudesse querer também o colar para receber a recompensa, o rapaz nada disse.

O velho, então, garantiu a ele que poderia dizer o que estava acontecendo, que ele não diria nada a ninguém.

- O senhor promete? - perguntou o rapaz.

- Pode confiar em mim, meu jovem. O que tem de tão importante neste lago imundo, que faz com que você se suje tanto para pegar?

Então, o rapaz contou ao senhor a história da recompensa e disse que precisava levar o colar para receber o dinheiro.

O velho balançou a cabeça e disse:

- Não precisava nada disto. Você não precisaria mergulhar nestas águas fétidas, sujando-se tanto e correndo risco de pegar uma doença. Bastaria olhar para cima.

Sem entender, o jovem olhou para cima e viu o colar nos galhos de uma árvore à beira do lago, cujo reflexo ele tentava pegar.

Assim é a vida. Às vezes, mergulhamos no lodo em busca de um reflexo, de uma ilusão de felicidade, sem nos darmos conta de que ela pode estar no alto, sem conseguirmos ver. Olhemos para cima.

 

 

Valdete Braga

Fonte: Jornal "O Liberal"