A Liberdade

 

Sempre me tem chamado a atenção a liberdade como integrante da tríade que identifica a Maçonaria. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, essa inquietude estou moldando no trabalho que pretendo mostrar em Loja, porque sobretudo é um conceito que tem muita relação com meu trabalho de advogado.

 

Liberdade, não só é um clamor pelo qual marchou o povo colombiano para mostrar aos grupos à margem da lei que costumam sequestrar compatriotas para tê-los como reféns, seja por dinheiro ou por motivos políticos, com o fim de ter mercadoria humana para negociar a liberdade de seus camaradas legalmente detidos debaixo da potestade  da justiça, representante de um dos órgãos do poder no país, é muito mais que isso, implica liberdade de mobilidade, de expressão, de cultos de religião, de pensamento, etc; devemos assimilar como contraria a qualquer posição dogmática ou de imposição hierárquica, mas este escrito não está encaminhado a definir por separado cada um destes conceitos de liberdade. 

 

A Liberdade não deve ser confundida com libertinagem, posto que assim como a propriedade está limitada pelo interesse geral e a propriedade alheia, os seres humanos têm um limite ao exercício de nossa liberdade e é o que impõem as regras da ética, da moral social e a liberdade alheia. 

 

A liberdade está definida na Enciclopédia Jurídica OMEBA 1 [1][1] como:

“No sentido da filosofia do espírito dá-se o nome de liberdade ao estado existencial do homem no qual este é dono de seus atos e pode autodeterminar-se conscientemente sem sujeição a nenhuma força ou coação psicofísico interior exterior”. 

 

Da mesma maneira, em seu Programa de Direito Criminal, o Doutor Francesco Carrara 1[2][2] opina que “depois do direito à vida a liberdade individual é o direito mais apreciado do homem”. 

 

A liberdade é um dos direitos humanos fundamentais de primeira veneração, isto é, dos reconhecidos primariamente entre os direitos sociais e políticos contidos nas declarações de direitos das revoluções burguesas da segunda metade do século XVIII, na declaração de Direitos do povo de Virgínia (USA) de 12 de junho de 1776, e na declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789.

 

O termo motivo deste trabalho também tem sido tratado pela augusta instituição maçônica e é um dos pilares que definem ao maçom como homem livre e de bons costumes; o Dicionário Enciclopédico da Maçonaria [3][3] a define como: “Um dos três princípios que compõem o lema emancipador e regenerador da franco-maçonaria. Direito inerente à natureza humana e que concede ao homem a faculdade de trabalhar como melhor lhe pareça, pelo qual é dono e responsável dos atos. A liberdade tem a natureza por princípio, a justiça por regra, para salvaguardar a lei; seus limites morais estão contidos nesta sublime máxima que a Maçonaria coloca em primeiro termo: O que não queres para ti, não o queiras para o outro”

 

Para atuarmos em Loja como maçons limitamos nossa liberdade de comportamento e nos cercamos à Liturgia. Para trabalhar em loja devemos nos vestir com os roupas previstas para nossos graus e ofícios; em nossas sessões existe constitucional, e tradicionalmente a liberdade de expressar nossas opiniões e tratar os temas que exponha o irmão dentro dos trabalhos multidisciplinares que se dão quando nos reunimos pessoas de diferentes profissões e ocupações; somente nos está proibido falar em nossas reuniões litúrgicas de religião e política, o que tem sua explicação por se tratar de assuntos que geram paixões insanas, por se tratar de sentimentos íntimos. Tão subjetivos que em alguma ocasião alguém me disse: “É que Deus é um estado d’alma e o convencimento de sua existência levo-o dentro de mi”.

 

Contrário à liberdade são os dogmas, que são as proposições que se têm como firmes, certas e princípios intangíveis de alguma ciências. Quando se trabalha maçonaria sob o império de alguns dogmas devemos dizer que não somos livres, pois essa maçonaria está sob influência por preceitos que se têm como certos sem se demonstrar sua veracidade, somente se admitem como válidos porque disse alguém, ou pelos denominados usos e costumes. 

 

Em meu longo caminhar maçônico tenho sentido que apesar de ser a liberdade um dos postulados da maçonaria, os maçons têm muitas limitações ao respeito, e é porque apesar de tudo o que se diga, a nossa é uma ordem baseada em dogmas, antigos limites ou LANDMARKS, aos que ninguém pode se atribuir uma origem certa ou com certeza, quantos são em realidade o quais de tantos listados existentes são os verdadeiros, ou se devemos seguir algum dos escritos ou todos eles, incluídos aqueles que existem por tradição oral; entretanto estes amigos limites não devem ser acolhidos cegamente sem ter em conta a época e o momento social em que foram escritos ou tidos como tais, já que ter postulados do século XVIII vigentes no século XXI é desconhecer o desenvolvimento da sociedade.

 

No meu conceito, para que exista verdadeira liberdade na maçonaria devemos deixar de lado os dogmas e assim ser verdadeiramente livres. Uma sociedade que se aprecia de progressista não pode estar baseada e conceitos arcaicos como considerar a mulher um ser incapaz ou de menores conhecimentos que os varões; tão pouco podemos asseverar a olhos cerrados, como o fazem os landmarks, que “a Maçonaria é a Instituição orgânica da moralidade”. Não, a maçonaria é uma sociedade formada por homens e como tal é imperfeita, ou melhor, nela não cabe a perfeição como se diz na liturgia do primeiro grau, sem que implique isto que está afirmando que os imorais podem ser maçons ou que devemos preencher nossa loja com pessoas de reputação duvidosa. Pelo contrário devemos ser estritos no trabalho de seleção dos novos irmãos, muito rigorosos, buscando assim preservar a moral maçônica, daí o importante que tenha sido para esta Grande Loja o programa de universitários impulsado pelos dois últimos grandes mestres, já que é mais fácil polir a pedra bruta na juventude que na velhice. Bem vindo o engrandecimento baseado na juventude e capacidade de seus membros que se respira nas lojas irmãs. Estamos ansiosos dizendo que praticamos uma Maçonaria dogmática e progressista, mas considero que enquanto apegamos nossa militância maçônica a dizer, para finalizar uma discussão sobre temas que não têm totalmente esclarecidos, “isto é assim porque já o Irmão X o disse”, ou a aduzir em algum debate é que isto é assim por estar contemplado nos usos e costumes maçônicos, não podemos, então, dizer que respondemos a concepções livres e adogmáticas.

 

Minha posição é que os usos e costumes maçônicos são uma guia não valorizado, mas não têm a verdade revelada, a maçonaria discute temas humanos e sociais, é uma espécie de sociologia que estuda o ser e a consciência social para refletir no polimento da pedra bruta de cada um de nós, por tanto seu conteúdo é aberto e para ser verdadeiramente livre devemos atuar com verdadeiro convencimento sobre o assunto tratado.

 

As Potências Maçônicas elegem as suas diretorias democraticamente, e esta é outra forma de liberdade que nos permite eleger e ser eleitos sem imposições. Neste aspecto nossa Grande Loja é soberana e são bem vindas todas as candidaturas que se apresentam a consideração da família maçônica, mas aqueles que aspiram a ocupar os cargos de direção maçônica devem ter como oriente, que foram escolhidos para fomentar a Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre todos os Irmãos sem discriminações odiosas, praticar a tolerância armado da chama, reconhecendo e aceitando que em nossa Grande Loja existem duas vertentes, uma tendência maçônica ortodoxa e conservadora e outra liberal e progressista mas entre as duas devem reinar sentimentos de fraternidade e respeito pelas ideias de cada uma, já que assim se conserva um equilíbrio a todas as Luzes sãs para a Instituição, que termina sendo mostra de liberdade de pensamento e expressão.

 

Outro aspecto a destacar sobre a liberdade neste oriente é a autonomia das lojas para selecionar seu quadro de obreiros, escolha em que deve primar as virtudes e interesse maçônico, sem nenhuma outra consideração que possa chegar a ser sinalada como politiqueira, os irmãos que resultem escolhidos devem dirigir e assinalar os trabalhos que se vão a tratar durante as sessões anuais, e oxalá possa ver como maçom que se respeita sem crítica alguma que cada loja receba visitas de irmãos ou irmãs sem considerar sua origem, somente tendo em conta sua condição de maçons regulares de acordo à definição que traz nossa constituição, isto é, somos regulares por estar afilhados a uma loja devidamente reconhecida, não por que outros digam quem são regulares e quem são irregulares desconhecendo este último conceito. 

 

Em fim, a liberdade, queridos irmãos, é poder vir a uma loja verdadeiramente livre a expressar minhas opiniões sobre um tema tão amplio e estar convencido que estas expressões podem não ser a verdade revelada mas sim servem para abrir a consciência e o pensamento dos irmãos na busca da liberdade e poder gritar, sou maçom, sou livre, possa expressar minhas ideias com liberdade sem ofender a ninguém e as minhas são igualmente respeitadas. 

 

* FREDDY ANTONIO SILVA FERNANDEZ,  

Resp:. Logia Simb:. Nueva Estrella del Caribe Nº 3

 

[4][2] FRANCESCO CARRARA, Italiano padre del derecho penal clásico, humanizador de la pena.

[5][3] Diccionario Enciclopédico de la Masonería, Tomo 2, pag. 714, escrito y ordenado por LORENZO FRAU ABRINES. Editorial del Valle de México 

Resp:. Logia Simb:. Nueva Estrella del Caribe Nº 3 

Tradução livre feita por: Juarez de Oliveira Castro