A luz seja dada ao Neófito!

A luz seja dada ao Neófito [4] – O que significa? Significa uma caminhada solitária em busca da maioridade, do esclarecimento.
Segundo Kant [1], aufklärung, ou esclarecimento, significa a saída do homem da sua menoridade [2], da qual o culpado é ele próprio. A menoridade é a incapacidade de fazer uso do seu entendimento sem a direcção de outro indivíduo. O homem é culpado desta menoridade se a sua causa não estiver na ausência de entendimento, mas na ausência de decisão e coragem de se servir de si mesmo sem a direcção de outrem. Sabia que existem alguns que, mesmo iniciados, nunca encontraram o esclarecimento e tecnicamente permanecem profanos [3]?

Querido irmão neófito que golpeastes a pedra bruta [5] por três vezes e a olhastes por fora, pelos seus aspectos materiais e deformidades. Peço-vos que me acompanheis ao centro dela. Num arroubo de imaginação visualizai a mesma por dentro, procurai alcançar o centro dela. Este exercício é resultado de observação importante que se faz na Maçonaria, onde a maioria dos símbolos []6 destaca algo muito importante no centro. O que imaginais encontrar lá no centro da pedra bruta, que sois vós mesmos? Vossa espiritualidade! A espiritualidade é o centro. Cada Maçom a possui a sua própria maneira. Mantenhais sempre este lugar sagrado livre de conspurcação, porque todo corpo de Maçom é considerado templo vivo da manifestação da presença do Grande Arquitecto do Universo [7] .

Em tudo na vida buscai o centro. Por exemplo: buscai a Justiça pelo centro, da forma correcta e equilibrada. Considerai que Justiça sem força é fraca, tíbia, inexistente; e a Justiça que é só força tende a ser truculenta, bruta, aviltante. E quantos foram trucidados pela Justiça por insignificâncias, e outros tantos, grandes criminosos, estão soltos nas Ruas. Para obter a verdadeira Justiça, procurai um ponto de onde todas as características necessárias se equilibram. Buscai Justiça a partir de um ponto que equilibra a força a ser aplicada para que resulte em verdadeiro crescimento e esclarecimento. Fugi dos extremos! Excesso de cultura sem Sabedoria [8] poderá tornar-vos enfunados de orgulho, soberbos; Força [9] sem comedimento e em excesso poderá tornar-vos escravo do trabalho, dos sistemas que escravizam; exageros na busca da Beleza [10] poderão levar-vos a uma vida cheia de lascívia e vícios. Procurai o centro! Esclarecimento é o estabelecimento de limites e consta da busca do centro, com uma força interna que equilibre todas as tendências externas de vossa prospecção à verdade. Buscar o centro é procurar o equilíbrio na busca da verdade! E mesmo a verdade que achardes, desconfiai dela; porque como resultado de tudo estar em constante mutação, não existe verdade absoluta. Colocai-vos no centro, num ponto equidistante de vossas capacidades, e cercai-as com vossos próprios limites. Dentro destes limites colocai as virtudes, e como estais no centro, onde rege vossa espiritualidade, estareis cercado de virtudes, elas ficam bem próximas. Para além da sebe que criastes, dos limites que estabelecestes, colocai os vícios. E ficai no centro vendo os vícios afastarem-se cada vez mais.

O caminho da maioridade na Maçonaria exige: trabalho, disciplina e dedicação. O trabalho de ler, estudar, pensar. A Disciplina deve ser férrea ao dividir o tempo entre as actividades. Não vos esqueçais de também que estais numa via de duas mãos, ao mesmo tempo em que outros vos alimentam eles também poderão necessitar de vosso apoio, mesmo que seja apenas para encostar a cabeça no vosso ombro e chorar, ou abraçar-vos e sorrir. A Dedicação deve levar a não perder nenhuma sessão. Desta presença depende vosso crescimento. E o farás na companhia de irmãos que te amam e comungam o mesmo amor fraterno. Este conhecimento não é obtido em livros, é resultado da dinâmica de grupo [11] das reuniões em loja. Sendo o homem é um ser social por excelência, o poder do grupo é o que transmite o verdadeiro conhecimento que devereis buscar. E usai sempre de vossa espiritualidade para vos centrar. Buscai o centro, o equilíbrio harmonioso de todas as vossas tarefas, e em consequência encontrai vossa maturidade, vossa maioridade.

Querido irmão aprendiz Maçom, “A luz seja dada ao Neófito” significa esta caminhada ao centro de si mesmo e ninguém a poderá fazer por vós. Desejo-vos boa viagem! Que o Grande Arquitecto do Universo nos guarde a todos, e nos guie nesta jornada que só terá fim quando a luz dos nossos pensamentos se apagarem! Que assim seja!

Charles Evaldo Boller

Notas
[1] Immanuel Kant, conferencista, filósofo, professor e teólogo alemão. Nasceu em 22 de Abril de 1724, Königsberg. Faleceu em 12 de Fevereiro de 1804, Königsberg com 79 anos e 284 dias de idade. Um expoente na história da filosofia. A sua principal obra, Crítica da Razão Pura 1781, aborda a oposição entre o racionalismo cartesiano e o empirismo. Kant mostra que o conhecimento do mundo exterior é fruto tanto da experiência – Posição empirista; como dos conceitos metafísicos – O racionalismo. Aos 16 anos ingressa no curso de teologia da universidade da sua cidade natal. Escreve os seus primeiros ensaios em 1755, influenciado pelos tratados de física de Newton e pelo racionalismo do filósofo Leibniz. A partir de 1760, distancia-se desta corrente e declara-se seguidor da moral filosófica de Rousseau. Em 1770, torna-se professor de lógica na Universidade de Königsberg e enfrenta dificuldade para expor as suas ideias por causa da oposição do luteranismo ortodoxo. A sua principal obra, Crítica da Razão Pura 1781, aborda a oposição entre o racionalismo cartesiano e o empirismo. Kant mostra que o conhecimento do mundo exterior é fruto tanto da experiência posição empirista como dos conceitos metafísicos o racionalismo. Entre 1788 e 1790, escreve Crítica da Razão Prática e Crítica do Juízo, sobre a teoria do conhecimento. Influencia a geração de filósofos que o sucedeu, conhecida como Escola do Kantianismo e Idealismo;
[2] Menoridade, estado ou condição daquele que ainda não atingiu a maioridade; período da vida em que um indivíduo é menor, não podendo exercer directamente os actos da vida civil; período de tempo durante o qual uma pessoa é menor de idade;
[3] Profano, de pro, fora ou antes, e fanum, templo ou sagrado. Aqueles que a Maçom qualifica como não iniciados nos seus mistérios;
[4] Neófito, iniciante, aprendiz de qualquer ofício; novato, principiante;
[5] Pedra Bruta, significa a personalidade rude do aprendiz Maçom, cujas arestas ele aplana, e que lhe cabe disciplinar, educar e subordinar à sua vontade. É a imagem alegórica do profano antes de ser instruído nos mistérios Maçons;
[6] Símbolo, representação convencional de algo; emblema, insígnia; aquilo que, por um princípio de analogia formal ou de outra natureza, substitui ou sugere algo; aquilo que, num contexto cultural, possui valor evocativo, mágico ou místico; elemento descritivo ou narrativo ao qual se pode atribuir mais de um significado, do qual se pode fazer mais de uma leitura;
[7] Grande Arquitecto do Universo, para a Maçom é um conceito da existência de um princípio criador; o que permite à Maçom congregar todos os credos e religiões sem conflitos; pode ser o Deus da cristandade, o Jeová dos judeus, o Alá dos muçulmanos; o Tat védico; o Brahma dos hindus; o Osíris dos egípcios; Astarté dos Babilónios; o Odin dos escandinavos; Belém dos celtas; o Apolo dos gregos; ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de tudo que existe; O criador de todas as coisas; o alfa e o ómega; o princípio e o fim; nas religiões primitivas, designação dada às forças ocultas, aos espíritos mais ou menos personalizados; princípio absoluto, realidade transcendente ou Ser primordial responsável pela origem do Universo, das leis que o regulam e dos seres que o habitam, fonte e garantia do Bem e de todas as excelências morais;
[8] Sabedoria, uma das colunas que sustentam o templo. Representado pela figura de venerável mestre;
[9] Força, uma das colunas que sustentam o templo. Representado pela figura de primeiro vigilante;
[10] Beleza, uma das colunas que sustentam o templo. Representado pela figura de segundo vigilante;
[11] Dinâmica de grupo, estudo da conduta dos seres humanos em grupo. A dinâmica de grupos estuda a estrutura e o funcionamento dos grupos sociais e os diferentes tipos de conduta adoptados pelos seus membros. O termo foi definido pelo psicólogo Kurt Lewin, psicólogo alemão. Nasceu em 1890. Faleceu em 1947 com 56 anos de idade. Contribuiu para o desenvolvimento da psicologia de Gestalt. Entre os seus livros destacam-se: Princípios de topologia psicológica (1936) e Teoria dinâmica da personalidade(1935);

Bibliografia
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média, Volume 1, ISBN 85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;
BERKENBROCK, Volney J., Dinâmicas para Encontros de Grupo, ISBN 978-85-326-2916-6, primeira edição, Editora Vozes Ltda., 148 páginas, Petrópolis, 2008;
Dicionário Electrónico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, 2001;
Enciclopédia Microsoft Encarta, 2001;
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 550 páginas, São Paulo, 1989;
LIMA, Lauro de Oliveira, Dinâmicas de Grupo, na Empresa, no Lar e na Escola, Grupos de Treinamento para a Produtividade, ISBN 85-326-3151-7, primeira edição, Editora Vozes Ltda., 310 páginas, Petrópolis, 2005;
Paraná, Grande loja do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito do Grande loja do Paraná, Grande loja do Paraná, 44 páginas, Curitiba, 1975;
WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland, O Corpo Fala, A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não-verbal, ISBN 85-326-0208-8, 33ª edição, Editora Vozes Ltda., 288 páginas, Petrópolis, 1994.

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