A Maçonaria em Construção


 

As mais diversas organizações maçônicas possuem um corpo de conceitos em comum. Trataremos neste artigo de alguns destes conceitos relativos à Maçonaria em Construção.

As organizações maçônicas trabalham para a construção de uma sociedade onde um governo, organizado da melhor maneira possível, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz. Assim o objetivo último é a obtenção de uma sociedade justa e perfeita; o mundo sagrado em contrapartida ao mundo profano em que atualmente vivemos.

Este mundo sagrado é simbolizado nas sessões maçônicas pela loja e pelo rito observado nos trabalhos em loja aberta. A busca da sociedade justa e perfeita fundamenta-se na crença de que existe a possibilidade de relacionarmos uns com os outros de modo fraterno. Existe a possibilidade da construção de uma sociedade de irmãos livres e iguais perante a Ordem.
A metodologia empregada para a realização deste projeto de mundo justo e perfeito não contempla conspiração e nem revolução pela força. Ao contrário, devem-se observar as leis do estado em que a organização maçônica encontra-se estabelecida. A crença é na eficácia do exemplo: constroem-se lojas justas e perfeitas no meio da sociedade atual – injusta e imperfeita; no mundo profano.

- Os gritos que ouvimos: as denúncias, os processos judiciais, as tentativas de correções, as punições, etc. Os gritos que ouvimos nos lembram que não existe outro lugar para começarmos a construção da sociedade - que desejamos para nós e para os nossos filhos - além daquela em que existimos.

Esta atitude em busca uma vida plena de paz sem fugir das  situações concretas do mundo em que vivemos vem caracterizando  as organizações maçônicas ao longo dos séculos. Nunca é demais lembrar que é a partir do interior que algo pode mudar. Não é negando o mundo que nos cerca – sem audição para os gritos - que poderemos mudar. Nós também somos parte deste mundo e destes gritos.

As organizações maçônicas preceituam que se for aceito que no  interior de cada obreiro existe a possibilidade de realização da utopia maçônica – um mundo justo e perfeito -, então mediante uma nova atitude de acolhida do que cada um é por inteiro, será possível ser mãe e, simultaneamente, parteiro do novo. Parece complicado, mas é simples, só conhecendo o que somos e nos respeitando neste conhecimento, poderemos evoluir na direção de uma vida melhor.

A tradição, atualizada no cântico do poeta Jean-Yves Leloup, nos lembra que para chegar ao oásis é necessário atravessar o deserto.

Modelo proposto: a Maçonaria destinada aos escolhidos ou eleitos mediante critérios de méritos.

A maçonaria concreta somos todos nós, os obreiros regulares ou não. Isto é equivalente a constar que as pedras com as quais estamos construindo a maçonaria, somos nós mesmos. Mas, se continuarmos, muitas vezes, sendo imperfeitos e injustos, pedras brutas, a sociedade que construímos não poderá ser justa e perfeita. Portanto, para o projeto tenha êxito é necessário lapidar as pedras.

Lapidar a Pedra Bruta.

A primeira tarefa é lapidar as pedras brutas, que somos nós mesmos. Este trabalho sobre a pedra bruta consiste em ocupa-se de si mesmo visando se conhecer melhor. Buscar o aperfeiçoamento pessoal. Cuidar de si mesmo. Esta condição poderíamos simbolicamente associar ao grau de aprendiz maçom - aquele que busca conhecer para amar.

O mestre Leloup lembra que antes de querer amar os outros, antes de querer amar a Deus, é preciso cuidar de si mesmo. Amar a si mesmo. Mas, não se trata de amar o que sonhamos ser. Não se trata de amar o que pensamos ser. Trata-se de amar o que realmente somos. Isto significa que devemos nos amar, mesmo sabendo que somos um composto de erros e acertos. Um composto de virtudes e vícios. Um composto de luz e sombra.

Portanto, o grau de aprendiz para cada obreiro consiste em conhecer o que ele é e a partir daí se amar apesar de reconhecer que é diferente do que pensava ser. Se amar significa não ter medo deste conhecimento. Lembremos que o medo conduz ao contrário do que o amor proporciona. O amor liberta, o medo aprisiona.

O caminho que leva ao “conhecer a si mesmo” deve conduzir ao “aceitar de si mesmo”. Aceitar o nosso corpo, as limitações da nossa inteligência, das condições concretas da nossa existência. Enfim, aceitar os nossos limites como condição para tornar nossos potenciais em ação transformadora. A aceitação de si mesmo é essencial, porque nada poderemos construir na direção da utopia, se não nos aceitamos como somos a cada instante. Conhecer e aceitar o que se conhece constituem as duas primeiras etapas do grau de aprendiz.

A terceira etapa da lapidação da pedra bruta, ainda no grau de aprendiz, surge naturalmente após as duas primeiras etapas e consiste na confiança em si mesmo. A consequência do conhecimento e da aceitação de si mesmo é o enraizamento do maçom. Este enraizamento são os alicerces da construção da maçonaria e é o que nos permite permanecer de pé diante das dificuldades e das adversidades. O conhecimento e a aceitação proporcionam, além da confiança, a humildade. Os pés no chão, na terra, as raízes do maçom.

O mestre Leloup nos seus versos nos faz acreditar que quando o obreiro conhece e aceita o que é – os seus os limites e as suas possibilidades. Quando o obreiro está seguro de quem ele é, não precisa mais nada acrescentar. Não precisa provar a cada instante que é forte, que é verdadeiro no que faz. Não que seja possuidor da verdade absoluta, mas que a sua própria existência é verdadeira.

Neste ponto surge a atitude do desapego. O outro tem o direito de nos conhecer, como também tem o direito de não nos conhecer. Assim, não estaremos reféns de elogios nem de calúnias. O desapego consiste em não nos identificar com as imagens que os outros fazem de nós. Isto porque, conhecendo os nossos limites e possibilidades, nos reconhecemos como filhos do mesmo Criador. Reconhecermos que somos frutos da Árvore da Vida.

Hiran Melo