A NOSSA VIDA FAZ SENTIDO?

De um modo geral, a questão do “destino do homem” tem a ver com a procura humana de estrutura e sentido e com a certeza da nossa morte. Os seres humanos são os únicos animais que sabem que vão morrer e há muito que procuram formas de consolação e de alcançar uma suposta eternidade.

Esta procura de sentido e de conforto face à finitude foi explorada pelas religiões organizadas, que prometem aos crentes uma vida eterna após a morte. Esta passagem para uma outra vida após a morte está relacionada com um “plano divino”, com aquilo a que a dogmática religiosa chama predestinação: no plano de deus ou deuses (porque foram muitos ao longo da nossa história) é assegurada ao ser humano uma missão, um sentido, um lugar no universo; a sua vida tem um sentido.

A explicação científica da origem da vida humana ensina que ela provém da evolução. Esta teoria - que explica de forma clara, rigorosa e elegante a nossa existência - indica que a nossa espécie provém de um tronco comum a todas as espécies vivas e que chegou a ser o que é através de um processo de seleção natural em que sobrevivem os organismos cujas mutações genéticas respondem mais adequadamente às exigências do meio natural.

Na natureza não existe qualquer objetivo, qualquer plano. O homem, visto desta forma como uma espécie natural, não tem destino. A vida humana, tal como a vida da natureza e a vida do cosmos, não tem sentido.

Assim, a famosa pergunta “Para onde vamos?” é, deste ponto de vista, uma pergunta sem resposta ou uma pergunta que não deve ser feita.

A filosofia, quando confrontada com a questão do destino do ser humano, salienta que este é livre e que, através da sua liberdade, acompanhada da responsabilidade pelas consequências dos seus atos, dá um sentido à sua existência. Há quem invente uma predestinação imposta pelos deuses para não se perder, para se agarrar à vida apesar do conhecimento irremediável da sua mortalidade. Mas estas crenças supersticiosas não são necessárias: a nossa fragilidade é suficiente para dar sentido e estrutura à nossa vida.

Nada dá mais sentido à vida do que a constatação de que cada momento de consciência é um dom precioso. É por causa da nossa passagem finita pela existência que somos capazes de construir projetos éticos sólidos e criar formas maravilhosas de arte e de ciência.

Não precisamos de deuses para construir formas de convivência com os outros e para fundamentar as nossas criações e destruições.

Como disse o filósofo Albert Camus: a vida humana não tem sentido, mas a grandeza do homem está em vivê-la como se tivesse.

ROGELIO RODRÍGUEZ MUÑOZ
Licenciado em Filosofia e Mestre em Educação, Universidade do Chile

Oriundo da Revista Occidente - Setembro de 2024
Santiago-Chile