A Paz vem de você mesmo. Não a procure em sua volta
A paz é, talvez, uma das buscas mais constantes da humanidade. Desde tempos remotos, reis, filósofos, religiosos e povos inteiros buscaram-na como um ideal supremo, um estado de harmonia universal que pudesse trazer descanso às almas inquietas e segurança às sociedades. Entretanto, muitas vezes essa busca foi direcionada para fora — em tratados políticos, em alianças, em templos, em conquistas materiais ou mesmo na submissão de uns sobre outros. O resultado, quase sempre, foi o contrário: guerras em nome da paz, opressões justificadas como caminho para a ordem, ilusões que se desmanchavam na primeira dificuldade.
O equívoco está em acreditar que a paz é algo a ser encontrado no mundo exterior, quando, na verdade, ela nasce no interior de cada ser humano. Procurar a paz fora de si é como buscar água em um deserto: o que se encontra, quando muito, são miragens. A verdadeira paz não pode ser imposta por leis, nem adquirida por posses, nem garantida por instituições. Ela é fruto de um trabalho silencioso, paciente e profundo de autoconhecimento e de equilíbrio interior.
A paz que vem de dentro não depende das circunstâncias externas. Ela não é a ausência de problemas, mas a capacidade de enfrentá-los sem perder a serenidade. Não é a eliminação de conflitos, mas a maturidade de lidar com eles sem se deixar consumir pelo ódio ou pela vingança. A paz interior é uma postura, uma disposição da alma que nos permite atravessar tempestades sem naufragar, porque a bússola interna está firme.
Buscar a paz fora de si mesmo é condenar-se a uma eterna frustração. O mundo exterior é instável, mutável, sujeito a forças que fogem ao nosso controle. Quem deposita sua tranquilidade no comportamento dos outros, no reconhecimento social ou na posse de bens materiais, viverá sempre à mercê da instabilidade. Hoje poderá estar feliz, amanhã profundamente perturbado. A paz interior, ao contrário, é como um manancial constante, que permanece a despeito das circunstâncias, porque sua fonte está no próprio ser.
Mas essa paz não surge do nada. Ela é resultado de um esforço consciente. Exige disciplina mental, cultivo da reflexão, prática da gratidão e da aceitação. Exige também o exercício da virtude, porque não pode haver paz em um coração dominado pela inveja, pela cobiça ou pela mentira. É por isso que os grandes sábios de todas as tradições sempre ensinaram que a verdadeira batalha do homem não é contra o mundo, mas contra si mesmo.
Quando compreendemos isso, nossa relação com os outros também se transforma. A paz interior irradia-se, silenciosamente, como uma luz que influencia aqueles que estão ao redor. Um homem em paz não é passivo, mas firme; não é indiferente, mas compassivo. Ele não precisa impor sua tranquilidade, porque ela se expressa naturalmente em suas palavras e gestos. Dessa forma, a paz que nasce dentro de um indivíduo se converte, pouco a pouco, em uma paz que contagia famílias, comunidades e até sociedades inteiras.
Assim, a grande lição é simples e, ao mesmo tempo, profunda: se queremos um mundo em paz, precisamos primeiro conquistar a paz em nós mesmos. Não adianta esperar que líderes, governos ou circunstâncias externas nos ofereçam aquilo que só pode ser cultivado no coração. Cada um é responsável por esse trabalho silencioso e intransferível.
A paz vem de você mesmo. É uma semente que já existe em seu interior, esperando apenas ser regada com atenção, cuidado e perseverança. Não a procure em sua volta, porque o mundo não pode oferecer o que só você é capaz de construir. E uma vez encontrada, essa paz se tornará a sua maior força, um tesouro que nenhuma tempestade poderá roubar.
Nilo Sergio Campos