A Pedra Bruta, o Maço e o Cinzel.

O elemento essencial da missão da Maçonaria é o de formar homens com valores essencialmente éticos, capazes de aspirar a um permanente aperfeiçoamento e ao melhoramento da sociedade.

Desde os ancestrais, a Ordem tem buscado se constituir em uma instituição de seleção e não de massa. Apesar de que a Ordem postula que o homem é perfectível, deve existir um mínimo de condições nos profanos que permitam iniciar este processo, se requer ter uma matéria prima suscetível de tal perfeição. Por frutífero que possa ser este processo docente, não é possível transformar em homem de bem a quem não quer sê-lo ou a quem não possua a vontade decidida de ver claro e de fazer luz em seu espírito.

Se nos remontamos às origens da Maçonaria, nossa Ordem provém de uma iniciação de ofício derivada das corporações de construtores medievais, as que transmitiram sua estrutura, graus iniciáticos e sua simbólica relacionada com a Arte de Construir. Isto significou que o processo de aperfeiçoamento associou à edificação do Templo Universal ao Grande Arquiteto do Universo, princípio espiritual que dirige seus trabalhos e cuja “influência” é transmitida na iniciação ao profano.

Esta construção é simultaneamente interior e exterior; interior enquanto o maçom é ele mesmo um templo, no que se manifesta o espírito, e exterior enquanto é uma pedra do Templo Universal que levanta junto a seus Irmãos de todos os tempos “estendidos sobre toda a superfície da terra”.

Participar desta Obra, ser obreiro ativo nesta construção, requer uma aprendizagem do ofício, o que inclui o manejo das ferramentas e o conhecimento das regras que regem a edificação; esta aprendizagem constitui a base do trabalho interior e supõe um verdadeiro esforço metódico para alcançar certo objetivo, e mais particularmente um objetivo de ordem espiritual tendente à obtenção do Conhecimento.

Desenvolvimento do tema.

O catecismo do Aprendiz define claramente em que consiste seu trabalho, que não é senão “desbastar a Pedra Bruta, a fim de despojá-la de suas asperezas e acercá-la a uma forma em consonância com seu destino”.

Essa Pedra Bruta é o símbolo do Aprendiz, pedra que extraída da pedreira do mundo profano, é levada ao Átrio do Templo, lugar donde trabalham os aprendizes.

A pedra em bruto indica a situação do cosmos anterior à criação, é, portanto, símbolo do caos, da indiferença e passividade. Nesse magma existem distintos estados da matéria, não devemos reduzi-lo nem confundi-lo com o mundo material que conhecemos; em absoluto, o que se indica com isto é que corpo, alma e espírito estão misturados caoticamente, de tal forma que não houver início do trabalho sem trabalhar o que a alquimia chama “a arte da separatória”, isto é, a identificação e extração de cada um destes elementos dos demais.

Desbastar a pedra quer dizer despojar-se dos prejuízos, crenças, opiniões e valores que foram aprendidos e assumidos como próprios, através da educação, costumes e ambientes profanos, mundo a que em seu processo iniciático o aprendiz deve morrer para renascer como Homem Novo.

O desbastamento e polimento da pedra bruta e a meditação permanente deste gesto simbólico, liberará ao Aprendiz de suas ataduras individuais e psíquicas e o conferirá mais além dos sonhos, a possibilidade de se incluir em uma realidade de ordem universal, a de real mediador entre o céu e a terra. Para arremessar semelhante tarefa, o Ofício proporciona ao Aprendiz duas ferramentas essenciais: o maço e o cinzel.

Estas ferramentas foram próprias dos canteiros, foram utilizadas durante milênios nas irmandades de construtores, até que o destino quis que seu simbolismo fosse incorporado ao das Lojas maçônicas, a onde hoje figura nos quadros do aprendiz e do companheiro.

O maço representa a vontade com a que o Aprendiz golpeará e expulsará todos os aspectos psicológicos que formaram sua personalidade individual: sonhos, emoções, cargas, apegos, ilusões, devem ser transformados em Vontade Universal. É a força e a energia do Maço que golpeia todos estes aspectos individuais em um exercício de certeza e de rigor.

Manejar o Maço requer destreza, tem que aprender a graduar a força e a intensidade do golpe. Golpear com excesso ardor, sem ordem nem conceito, descuidadamente, não conseguirá senão desagregá-la em pequenos pedaços, símbolo lindo de uma vida desperdiçada e vã. Se, ao contrário, golpear sem a suficiente força pode fazer impossível o desbastar. Da mesma maneira, golpear com muita rapidez pode chegar a fatigar o Aprendiz e fazê-lo errar a precisão necessária do golpe, golpear com lentidão pode fazê-lo indolente e não digno de pertencer ao ofício. Alcançar acometer a tarefa de desbastar sua pedra com cuidado, aceitando o feito de sua ignorância e de sua necessidade de aprender, é possível que pouco a pouco vá adotando a pedra dando forma: seu ser se irá manifestando; tal é o símbolo.

A segunda ferramenta, complementar do maço, é o cinzel, símbolo da inteligência com a que o Aprendiz, dando golpeadas em suas asperezas individuais, começa a modelar a pedra bruta, através do discernimento que separará o sutil do denso, dirigindo com inteligência a decisão da vontade. Esta inteligência e discernimento, com que dirige com precisão a força do Maço, é a luz que, golpe a golpe, vai penetrando no coração, dissipando as trevas da ignorância e ordenando o caos interior.

Para que esta ferramenta seja plenamente efetiva é necessário mantê-la perfeitamente afiada. Isto é conseguido mediante a meditação e o estudo dos códigos simbólicos correspondentes. Pelo contrário, seu desgaste faz perder sua capacidade de penetração e se faz preciso um novo afiado, giro místico do caminho que deve seguir o aprendiz, sempre propenso a cair no erro e precisar de um novo encaminhamento, submetido ao risco de não persistir em sua tarefa o suficiente, ou de desanimar-se, assim como o Cinzel sem fio se converte em peça inservível e estéril para o trabalho. Então, a hábil mão do mestre deverá entrar em ação, mas só com a missão de orientar, já que o aprendiz deverá revisar constantemente sua preparação e conhecimentos, tendo a obrigação de estar alerta de suas deficiências e desvios; processo gradual até o autoaperfeiçoamento.

Tanto golpear a pedra bruta com o Cinzel que faíscas saltarão depois de cada golpe, signo que deve se entender por que resta ainda no mineral o princípio latente do fogo, graças ao qual a avivando, pode recuperar o estado de pureza original.

Ambos os instrumentos, o maço e o cinzel, apesar de estarem dotados de conteúdos simbólicos diversos, são inseparáveis um do outro; ferramentas dinâmicas que requerem mobilidade para sua utilização, perfeitamente inúteis quando não colaboram nas mesmas obras, denotam uma necessária capacidade organizativa e uma coordenação de quem os utiliza.

Conclusões.

Se estudarmos o trabalho de canteiros e escultores, podemos nos dar conta que este começa com o talhado da pedra propriamente como tal, senão que começa realmente com a eleição da pedra em bruto que será trabalhada. Não todas as pedras existentes servem e as que servem não estão em todas as partes. Buscar, selecionar os materiais e elaborá-las requer planificação e organização de grupo.

Assim como canteiros e escultores, a maçonaria começa seu trabalho com a seleção dos profanos. Busca-se que o iniciado reúna certas características, as quais não são possíveis encontrar em todos os homens, uma rigorosa seleção é prévia para uma docência adequada.

Dado a importância atribuída ao processo de seleção dos profanos, então prudente, perguntarmos: está realmente a maçonaria realizando este processo da melhor maneira?

Não é uma pergunta fácil, e é muito provável que não tenhamos uma única resposta, já que apesar de que a Maçonaria é Una, ao mesmo tempo somos Todos, pessoas que estamos em um constante caminho do autoaperfeiçoamento e que facilmente podemos nos deixar incandescer pelas aparências externas.

É aí onde a pausa deve se impor ao ímpeto, a exploração da estrutura interior das pessoas toma tempo, o exame da fortaleza interior e disposição para o trabalho são critérios básicos nesta seleção.

Por outro lado, se nos focalizarmos no trabalho do aprendiz, este é fundamentalmente realizado sobre a Pedra, a qual não pode ser cumprida de qualquer maneira, antes melhor, deve estar firmada por um caráter sagrado e ritual, sendo o prumo quem o indica como fazê-lo.

O Prumo, por um lado, simboliza a direção e o sentido até onde deve dirigir sua intenção que não pode ser senão vertical e até o Alto e por outro lado e simultaneamente, ao estar suspendida no alto e ser seu sentido descendente, o mostra a atitude de perfeita receptividade que deve presidir sua atividade, não dando nada por sabido e estando aberta a toda possibilidade oferecida pelo próprio processo iniciático.

Enquanto aos trabalhos do aprendiz, o primeiro é levar a ideia de rito a todos os âmbitos da vida e sua cotidianidade pessoal, e o segundo é saber que isto não deve se realizar nunca de maneira literal, de uma forma linear, senão que melhor se tratar de viver ao ritmo do compasso cósmico, advertindo a sacralidade do entorno físico-anímico derivado de um ser espiritual, tão invisível como inteligente.

O aprendiz é por sua vez o sujeito e o objeto de seu trabalho, está chamado a descobrir suas próprias potencialidades, e assim começar o caminho de sua expansão interior, já que estará sendo chamado a transformar-se em um bloco retangular capaz de ocupar exatamente o espaço no edifício que deve se construir, pilar do Templo Universal do Grande Arquiteto do Universo.

Patricio Javier Delgado Pardo

Log.: Fragua N° 128 Valle de La Reina.

Tradução livre feita por: Juarez de Oliveira Castro.