Ao Aprendiz desapontado

 

A Maçonaria não pede para ser aceita cegamente. Ela apela para a discussão e a luz.

 

O objeto deste texto não é de refutar todas as falsas alegações dirigidas contra a Maçonaria, nem de desenvolvê-la ou provar-lhe todos os princípios, e ainda menos procurar converter, às suas ideias, aqueles que professam opiniões contrárias, mas de dizer, em algumas palavras, visão própria, o que ela é e o que não é o que admite e o que reprova.

 

A Maçonaria na sociedade - Um fato constante é que, em nenhum país, a Maçonaria nasceu na camada baixa da sociedade; por toda a parte, ela se propagou de alto a baixo da escala social; é nas classes mais esclarecidas que está ainda  quase exclusivamente difundida, e as pessoas iletradas nela estão em ínfima minoria. 

 

A Maçonaria é uma doutrina filosófica onde se é adepto por opção, somente porque se simpatiza com seus princípios e professá-los é como ser judeu, católico, protestante, budista, espírita e etc.

 

A Maçonaria proclama a liberdade de consciência como um direito natural: reclama para os seus como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e pede para si a reciprocidade. Consequentemente com os seus Princípios, a Maçonaria não se impõe a ninguém; quer ser aceita livremente e por convicção. Expõe sua doutrina e recebe aqueles que vêm a ela voluntariamente.

 

Não procura desviar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé, e a que essa fé basta, mas àqueles que, não estando satisfeitos com aquilo que se lhe deu, procuram alguma coisa que considere melhor. Tempos difíceis surgem, vez ou outra, exigindo maior atenção e resposta pronta de nossa parte.  Por isso, eventuais situações menos agradáveis representam prova a ser enfrentada, testando a nossa maneira de ser e agir.

 

Se os que clamam injustamente contra os maçons se aprofundassem mais no sentido das palavras proclamadas em seus Princípios Fundamentas e Postulados, reconheceriam que Maçonaria é fundamentada no Amor que afasta os erros e as ilusões da ignorância, conduzindo as coisas à realidade, e mostrando o limite do possível e do impossível.

 

O direito de exame e de crítica é um direito imprescritível, ao qual a Maçonaria não tem a pretensão de se subtrair, como não tem a de satisfazer todo o mundo. Cada um, pois, está livre para aprová-la ou rejeitá-la; mais ainda seria necessário discuti-la com conhecimento de causa; ora, a crítica não tem, senão muito frequentemente, provado a ignorância de seus princípios mais elementares, fazendo-lhe dizer precisamente ao contrário do que ela diz, atribuindo-lhe o que nega, confundindo o que ela aprova e o que ela condena.

 

A coisa é tanto mais fácil que nada tem de secreto; seus ensinos são públicos, e cada um pode controlá-los. Porém, há quem pretenda adquirir, em algumas horas, a ciência do infinito! Que ninguém se iluda. O estudo da Maçonaria é imenso; é todo um mundo que se descortina à nossa frente.  Isso exige tempo, e muito tempo para ser aprendido. Somos alunos permanentes (eternos aprendizes) e, nesse sentido, tudo o que vemos, ouvimos ou lemos, pode ser útil para nós. A cada dia, a cada inusitado pode mudar nossa maneira de entender a Maçonaria e a própria vida. 

 

Nesse sentido admito que uma pessoa cuidadosa, lúcida e plena de conhecimento, até possa encontrar facilidade em analisar o ritual de seu Grau. Basta estar de coração aberto que a inspiração chega! O que não o habilita a se arvorar pleno conhecedor de Maçonaria, porque, no primeiro Grau, por exemplo, estamos no jardim de infância do conhecimento da Arte Real. Resumindo: “maçom que não estuda não é maçom; é simpatizante.

 

Os que se retiramA Maçonaria não sendo um passatempo, um acessório da noite, para os que estimam a vida material, sua presença torna-se inoportuna e incômoda. Devemos alinhar entre os desertores da Maçonaria aqueles que se retiram por que:

 

- ela não reconhece por seus adeptos senão aqueles que colocam em prática os seus ensinos, as suas instruções de cada Grau. Todas as Instituições ou doutrinas têm o seu “Judas”, a Maçonaria não poderia deixar de ter os seus;

 

- por falta de saberem esperar para chegarem ao ponto, os muito apressados, e os impacientes, comprometem as melhores causas. Não se pode exigir de uma criança (Aprendiz) o que se pode esperar de um adulto (Mestre), nem de uma jovem árvore plantada o que produzirá quando estiver com toda a sua força; 

 

 - a sua maneira de ver não corresponde ao mundo de sonhos que tinham imaginado nem aos seus interesses pessoais que não foram compreendidos; seus valores são monetários, seus desejos são físicos;

 

 - levianos e negligentes ingressaram pelo atrativo da curiosidade, na esperança de se beneficiarem, mas com a condição de que isso não lhes custe nada; 

 

  - não encontraram na Ordem uma porta aberta à descoberta de coisas ocultas, que viessem ajudá-los a fazer fortuna, suprir sua ignorância e lhe dispensar do trabalho material e intelectual;

 

 - suas ambições e interesses pessoais foram confundidos, suas pretensões iludidas;

 

 - ficaram desapontados por comportamentos inapropriados de alguns maçons.

 

Nada há a se lamentar nesses desertores, porque as pessoas frívolas são por toda a parte descartáveis. Fazem número nominalmente, mas não se pode contar com elas.  Enaltecem a Maçonaria enquanto têm a esperança de dela tirar um proveito qualquer. Para esses a solidariedade é uma palavra vã, a fraternidade uma teoria sem raízes, a abnegação em proveito de outrem um logro, o egoísmo com sua máxima: cada um por si, um direito natural, a vingança um ato de razão; a felicidade está para o mais forte e os mais espertos.

 

Com essa doutrina, cessam todas as relações sociais, a solidariedade, a fraternidade, não sendo nada antes, nada serão depois. É a mais numerosa categoria dos desertores, mas se concebe que não se pode, conscientemente, qualificá-los de maçons. São egoístas que não assimilaram na Iniciação o fogo sagrado do devotamento e da abnegação.

 

Os que permanecemPor sua própria essência, a Maçonaria é imperecível, porque ela repousa sobre as leis da natureza, responde as legítimas aspirações do homem e toca em todos os ramos dos conhecimentos físicos, metafísicos e da moral; as questões que ela abarca são inumeráveis. Aos que passaram pela Iniciação maçônica e se desviaram, quais os sinais pelos quais reconhecemos os que se acham no bom caminho?

 

- reconhecê-lo-eis pelos princípios da verdadeira caridade, pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal e pelo triunfo de seus princípios que eles ensinarão e praticarão;

 

- são verdadeiros maçons que merecem este nome os que aceitam por si mesmos, todas as consequências do juramento prestado;

 

- são reconhecidos pelos esforços que fazem para se melhorarem, sem negligenciarem, senão com razão, os interesses materiais são para eles, o acessório e não o principal; 

 

- sua verdadeira convicção é calma, refletida, motivada; ela se revela como verdadeira coragem, pelos fatos, quer dizer, pela firmeza, perseverança e, sobretudo, pela abnegação; 

 

- não se desgastam nunca com os obstáculos que encontrem no caminho, as vicissitudes, as decepções são provas diante das quais não se desencorajam nunca, porque o repouso é o preço do trabalho.

 

Assim se explica a facilidade com que certas pessoas assimilam as ideias maçônicas. Essas ideias não fazem senão despertar nelas as que já possuíam; são maçons de nascimento como outras são poetas, músicos, matemáticos. Elas compreendem da primeira palavra, e não têm necessidade de fatos materiais para se convencerem. Incontestavelmente, é um sinal de adiantamento moral e do princípio espiritual. Por isso, é que não se vêem entre eles, nem deserções, nem desfalecimentos.

 

A Maçonaria não pode escapar à lei da criação. Implantada sobre um solo ingrato, é preciso que haja suas más ervas, seus maus frutos. Mas também, cada dia se roçam, se arrancam, se cortam os maus ramos.

Não é lógico nem razoável imputar à Maçonaria abusos que ela mesma é a primeira a condenar, e os erros daqueles. O erro da crítica está em confundir o bom e o mau, o que muitas vezes sucede pela má fé de alguns e pela ignorância do maior número. Mas a distinção que uma tal crítica não faz, outros a fazem.

Aos desfalecidos ela diz: coragem; e como esperança suprema, deixa entrever, mesmo aos mais ingratos.

 

Deixemos falar os dissidentes, berrar aqueles que não podem se consolar por não serem os primeiros: todo esse pequeno ruído não impedirá a Sublime Ordem de fazer invariavelmente o seu caminho; é uma verdade, e, como um rio, toda verdade deve seguir o seu curso.

                                         

 

Valdemar Sansão