Aprendiz para um mundo novo

Um mundo novo vai aos poucos tomando forma no pensamento mundial. A Pandemia em que vivemos vai acordando uma boa parcela da humanidade para uma realidade que precisamos ver. Alguns manterão com certeza o pensamento de que não é preciso tanta preocupação, ou melhor dizendo alguns não se vão mesmo preocupar.

No entanto nós todos por mais teimosos que sejamos podemos agora ter a certeza da nossa fragilidade humana.

Ao sermos levados perante a Maçonaria para sermos nela iniciados somos colocados em diversas situações, justamente para acordar em nós a dimensão de vida para a qual fomos criados.

A Dimensão Terra coloca-nos na Câmara de Reflexões onde entramos em sintonia com o material de que fomos feitos. Esta dimensão ajuda-nos a sentir a firmeza do solo, a perceber o mundo das formas físicas e materiais. Fechados naquela sala onde a presença física ou simbólica do tempo, da morte, e de tantas realidades que nos cercam e atingem somos levados a refletir. O simbolismo da Terra acorda em nós o sentido de cautela, de resistência e de persistência. Naquela pequena sala levamos o choque de um mundo que percebíamos mas, preferíamos não ver. Então, um novo caminho se abre a nossa frente e sem querer nos descobrimos pensando: O que preciso manter na minha vida? O que preciso tornar prático? O que preciso produzir? Construir? Qual as limitações que tenho? Quais os limites que preciso impor na minha vida? Qual a minha capacidade de resiliência? Uma verdadeira explosão. Esta explosão por mais resistentes que sejamos provoca em cada um de nós um despertar e só com o tempo e dedicação poderemos ou não ir tornando esses ensinamentos consistentes, perseverantes, cautelosos, responsáveis e firmes. Só lembro caros irmãos que isto não acontece como mágica. Não acontece sem dor. Não acontece se nos deixarmos levar pelo materialismo, pela superficialidade, pela preguiça e até por achar que continuar sem enxergar é mais cómodo.

A Pandemia continua a mostrar-nos que muita coisa ainda será possível se não firmarmos o pé na realidade das nossas vidas.

Na segunda viagem da iniciação vivemos a experiência do Elemento AR.

O Ar traz para nós a experiência da Renovação. O Ar traz vida para as nossas células. Todos nós continuamos sentindo a dificuldade de usar uma máscara. O incômodo que isto causa, a sensação de impotência, de dificuldade para se comunicar. Sabemos que a Terra se torna mais fértil quanto mais arejado é o ar que nela circula. Quanto mais renovado, mais capacidade traz para o plano mental. O Ar faz-nos refletir que a vida só se renova quando nos libertamos do velho, do já estabelecido, para aceitarmos nas nossas vidas novas formas de pensar, ser e estar. Este é o desejo da Maçonaria para cada Maçom, para nos tornarmos pessoas que transmitem o Bem, pessoas que se mobilizam, se agitam pelo Bem. Pessoas livres e de bons costumes que ajudam a criar em torno de si, em todas as suas realidades a fome do Bem. Mas, caros irmãos o Ar também nos pode trazer a imprevisibilidade, a instabilidade. O AR pode trazer-nos a realidade do que é volúvel, inconstante. O quanto já sentimos tudo isto nas nossas vidas. O AR pode fazer-nos pessoas cordiais, claras, optimistas, luminosas como pode também tornar-nos pessoas instáveis, desonestas, inconstantes. Quantos ensinamentos recebidos antes mesmos de nos tornarmos Maçons. É preciso levar em conta que dependendo do lugar, do momento, das realidades as energias que vem pelo AR podem nos afectar e muito, de uma forma positiva ou negativa.

Na segunda viagem entramos em contacto com o Elemento Água. A Água traz-nos a sensação de frio, húmido, morno. Está intimamente ligada à nossa emoção. Se pensarmos no Oceano como símbolo do povo, da humanidade vemos a dimensão do trabalho que a Maçonaria nos convida a realizar. O Oceano é instável e muitas vezes está furioso nos mostrando com isso os caprichos da humanidade. A Água traz-nos a noção de flexibilidade, de nutrição e de vulnerabilidade. Ela nos coloca em contato com a diversidade da vida e das muitas energias que nos afetam. A Água reage em contacto com o que é compreensivo, sereno, moderado, confiante e também com a falta de consideração, com a instabilidade das pessoas e da vida e também com as insensibilidades. O nosso corpo tem 70% de água e reage a todas essas energias causando em nós muitas e diversas emoções. Estamos todos olhando para a crise hídrica já presente no nosso hoje. Muitas pessoas já sofrem com essa realidade. Vejam meus irmãos o tamanho do ideal em que nos insere a Maçonaria. O gesto iniciático de mergulhar as mãos na água nos mostra uma visão que vai muito além das nossas comodidades. A Água purifica-nos e nos mostra a responsabilidade de sermos livres e de bons costumes.

Na terceira viagem as chamas purificadoras do FOGO iniciam a nossa pequena transformação de profanos para Maçons. Apenas um vislumbre do imenso caminho a percorrer. Todos se lembram da Iniciação como um passo em direção a um mundo novo e nada cômodo da Maçonaria? O nosso desejo e determinação continuam os mesmos? Penso, meus irmãos que a Pandemia nos colocou a todos novamente na trilha da Iniciação. Um Recomeço. Precisamos reflectir, repensar, rever atitudes e tornar ainda mais real o nosso SER MAÇOM. O Fogo com o seu calor que faz germinar e crescer precisa ajudar-nos a reviver cada dia o nosso entusiasmo, a nossa emoção. O Fogo é impulsivo, criativo, corajoso. Libera em nós o desejo de viver, libera no nosso corpo a vontade de lutar. O Fogo traz transformação por onde passa. Ainda está aceso o fogo maçônico em nós? Ou se tornou um fogo irritadiço, impulsivo, insensato, ciumento e violento? Como está no nosso interior esse Fogo transformador que queima as nossas certezas? Como está esse fogo transformador na nossa realidade familiar, no trabalho, na nossa espiritualidade, no nosso empenho em desbastar a pedra bruta? Como está a nossa dedicação à nossa loja? Com os nossos irmãos? A loja continua sendo para nós Esperança? Ou apenas fuga? Ainda conservamos em nós o interesse de aprender sempre mais ou se tornou apenas um hábito rotineiro que de certa forma alimenta o meu ego? Lembrem dessa promessa que fizemos: – “Senhor! Prometes praticar a solidariedade humana, sempre que possível, amparando a todos, sem ostentação, sem vaidade, sem orgulho, com a verdadeira humildade maçônica, guardando deste ato, profundo segredo?”. Todos respondemos que sim. E a Luz nos foi dada.

Faça-se a luz!
Fomos revestidos com o avental de aprendiz para aprendermos que a simplicidade e o trabalho devem sempre fazer parte da vida de um Maçom. A nossa luta diária. O nosso interesse e dedicação precisam mais do que nunca crescer cada dia, o mundo precisa de cada um de nós.

Que amparados e iluminados pelo Grande Arquiteto do Universo possamos refletir juntos cada vez mais, ajudando uns aos outros com muita confiança e respeito.

Paulo Sérgio Coelho e Silva

Fontehttps://www.freemason.pt/