Baruch Spinoza: Deus e (ou) Natureza.

 

Baruch de Spinoza, ou Benedito (Bento) de Spinoza, nasceu em Amsterdam no ano de 1632 e faleceu em Haia em 1677, portanto com 45 anos. Seus antepassados, por terem emigrado para Portugal, foram obrigados a converterem-se ao Cristianismo, porém ao voltarem para a Holanda, Baruch teve educação judaica.

Por ter vivido numa época bastante conturbada social e politicamente nos Países Baixos, questionou o modelo de Deus defendido por sua religião.

Aos 24 anos foi chamado pelo chefe da comunidade espiritual de Amsterdã para discutir suas ideias, que eram incompatíveis com o espírito religioso judaico, já que mesmo com pouca idade, influenciava fortemente a comunidade pensante da região.

Spinoza achava que os dogmas rígidos e os rituais vazios eram as únicas coisas que mantinham o cristianismo e o judaísmo vivos.

Ele foi o primeiro a fazer uma interpretação "histórico-crítica" da bíblia. Como a Sinagoga tentava de todas as formas provar seu "ateísmo", Baruch, que não era ateu, redigiu um texto com o nome de "Apologia para Justificar uma Ruptura com a Sinagoga", a qual lhe custou o cherém (excomunhão, para os judaicos), com os seguintes dizeres: "Pela decisão dos anjos e julgamento dos santos, excomunhamos, expulsamos, execremos e maldizemos Baruch de Spinoza...  Maldito seja de dia e maldito seja de noite; maldito seja quando se deita e maldito seja quando se levanta; maldito seja quando sai, maldito seja quando regressa... Ordenamos que ninguém mantenha com ele comunicação oral ou escrita, que ninguém lhe preste favor algum, que ninguém permaneça com ele sob o mesmo teto ou a menos de quatro jardas (3,6 metros), que ninguém leia algo escrito ou transcrito por ele".

À medida que sua situação foi piorando, ele foi abandonado até por sua família, que queriam deserdá-lo por sua heresia. Todas estas resistências que ele teve que enfrentar, levaram-no à uma vida reclusa, modesta e quase totalmente dedicada à filosofia.

Ele ganhava seu pão polindo lentes, o que simbolicamente pode significar que ele queria ver o mundo sob uma ótica diferente, que é uma das grandes tarefas dos filósofos.

Entender o conceito de Deus (ou Deuses) e de tudo que este (s) representa (m), modo de interferência na vida das pessoas e de como entendemos isto, sempre foi um dos grandes atrativos dos filósofos, teólogos e outros pensadores ao longo de toda a história da humanidade.

 Para discutirmos a visão espinozeana de Deus, precisamos primeiramente definir alguns conceitos propostos por Spinoza em sua filosofia cartesiana, bastante baseada em um de seus precursores, o filósofo René Descartes.

A diferença é que o primeiro é considerado monista, ou seja, para ele a substância é uma "mesma e única coisa", enquanto o segundo considera substância como sendo duas coisas separadas: pensamento e extensão (dualismo). Para melhor entendermos esta questão de monismo, temos que verificar alguns conceitos definidos na Parte I de Ética de Spinoza, aonde ele descreve três importantes pontos para definir substância, atributo e modo: -

"Por substância compreendo aquilo que existe em si mesmo e que por si mesmo é concebido, isto é, aquilo cujo conceito não exige o conceito de outra coisa do qual deva ser formado". - "(...) aquilo que, de uma substância, o intelecto percebe como constituindo a sua essência". (definição de atributo) -"(...) as afecções de uma substância, ou seja, aquilo que existe em outra coisa, por meio da qual também é concebido". (definição de modo).

 Spinoza consegue, com estas definições, mostrar que a relação substância - atributos - modos representam a maneira da existência das coisas, ou seja, representam a essência da existência, e ainda que a substância existe por si só. Assim como Descartes, Spinoza também concluía que somente Deus tem o poder de existir por si mesmo, porém quando este diz que a substância, a qual também chama de natureza, pode existir como causa incausada, é que ele compara Deus à Natureza.

Diz ele: "Por Deus compreendo um ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consiste de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita". Com esta definição, ele chega à sua clássica afirmação "Deus Sive Natura" (Deus, ou seja, Natureza), que em outras palavras corresponde à ideia da totalidade de Deus como única substância existente.

Com esta interpretação de Deus imanente, Spinoza rompe com as mais importantes organizações religiosas, como o judaísmo, catolicismo e as emergentes religiões protestantes na sua época, já que estas religiões consideram Deus como transcendente, ou seja, encontra-se em um certo universo separado, e o mundo uma criação Sua. Em suas palavras: "Deus não é um manipulador de fantoches". A esta definição de Spinoza chamamos de panteísmo, pois como Deus e o mundo são a mesma coisa, o mundo então é a expressão absoluta da potência de Deus.

Desde os primórdios, a religião, ciência e filosofia sempre tiveram conceitos, convergentes ou divergentes, sobre os mais complexos assuntos, dentre eles o princípio criador da humanidade.

Quando em outubro de 2013 foi anunciada a descoberta do bóson de Higgs, também chamada de partícula de Deus, o Modelo Padrão foi comprovado, o que ajuda a explicar tudo o que sabemos sobre a formação do universo. Apesar da nomenclatura utilizada para esta partícula ter sido modificada ao longo do tempo (inicialmente era Goddam particle - Maldita partícula), ela foi batizada com o atual nome, pois é considerada a partícula fundamental para a formação de toda e qualquer matéria. Em última instância, sem esta partícula não teríamos átomos, moléculas, não teríamos vida.

Na busca do conhecimento, uma célebre citação de Spinoza diz: "Nada estimo mais, entre todas as coisas que não estão em meu poder, do que contrair uma aliança de amizade com homens que amem sinceramente a Verdade".

Perguntado, certa vez, se acreditava em Deus, Albert Einstein respondeu: Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe Desta forma, acredito que na busca da verdade, podemos analisar este conceito de criação de tudo que existe e nos cerca.

A maçonaria tem como exigência a crença em um princípio criador, o qual chamamos de Grande Arquiteto do Universo, independente qual seja este princípio.

Desta maneira acredito na importância de estudarmos os diversos conceitos desenvolvidos pelos importantes filósofos que tentaram analisar a relação entre Deus e a humanidade.

Autor:

Ir... Maurício José Girardi.

ARLS... Acácia Riosulense nº 95 (GLSC) - Rio do Sul – SC.

Bibliografia:

Gaarder, Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Tradução João Azenha Jr. - São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA - Complemento I à 1ª Instrução de Mestre- Maçom.

3ª Ed. 2009 Spinoza, Benedict de. Ethics Elwes - Part 1. e-Book Version. Phoenix, USA. 2001. Disponível em: https://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2686. Acesso em 03/01/2014.

GIRARDI, João Ivo – Do Meio-dia à Meia-noite – Vade-mecum Maçônico. 2ª Ed., Blumenau: Nova Letra Gráfica e Editora Ltda, 2008.

GIRARDI, João Ivo - Maçonaria: Bóson de Higgs (A Partícula de Deus). Disponível em: https://www.formadoresdeopiniao.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20834:maconaria -boson-de-higgs-a-particula-de-deus&catid=66:templo&Itemid=136. Acesso em 07 de janeiro de 2014.

Fonte:  JB News.