Benjamin Sodré: O "Velho Lobo"
A revista "O Tico-Tico", que no passado foi a principal publicação infantil deste país, abrigou, em 1922, uma coluna de ESCOTISMO, na qual, sob o pseudônimo de "VELHO LOBO", o nosso Benjamin Sodré dava sua importante contribuição para a formação moral da juventude brasileira. Logo, ele também publicou o "Guia do Escoteiro", destinado a orientar os escoteiros para tarefas úteis e proveitosas em sua caminhada evolutiva, fato reconhecido, na época, por personalidades marcantes tais como Coelho Neto, Rui Barbosa e Olavo Bilac.
O nosso patrono, com efeito, mostrou-se merecedor de inúmeras homenagens, pela importância das missões desempenhadas com zelo e competência inexcedíveis. No livro de sua filha, Dora Sodré, há 62 títulos de condecorações obtidas por seu pai entre 1932 e 1982, outorgados por várias Escolas, Lojas Maçônicas, Prefeituras, Câmaras Municipais, Associações, Clubes, Academias, Ministérios e pela Presidência da República. A Universidade Gama Filho prestou-lhe homenagem, dando seu nome a belíssimo Parque Desportivo.
Filiado à Loja "Regeneração Catarinense", era conhecido como o "IMPOLUTO MAÇOM", dadas suas qualidades de caráter e de coração. Foi eleito membro honorário e escolhido Deputado da Assembléia Legislativa do Grande Oriente do Brasil, chegando a exercer o cargo de Grão-Mestre.
Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate e, ainda, durante um naufrágio, salvou bravamente dois colegas oficiais e um marinheiro, lutando contra as condições adversas do mar.
Preocupado com a formação moral de seus discípulos na Escola Naval, fez uma síntese, enumerando os conselhos que ficariam no Código de Honra do Aspirante, do qual destacamos: "Entusiasmo – Coragem – Moral. /Não temer o ridículo. /Enfrentar as dificuldades é o meio mais seguro de vencê-las. /A verdade padece mas não perece. /A própria Eternidade não pode reparar a perda de um minuto. /Não esconder os bons sentimentos, nem deixar de levar adiante as boas idéias, por mais que sinta o peso do riso e as críticas dos outros."
Atleta, jogou pelo Botafogo de Futebol e Regatas e incentivou sobremodo o esporte náutico. Fundou, com seu irmão mais velho, Emmanuel, e alguns amigos, no quarto ano do Colégio Alfredo Gomes, o Carioca Football Club, que mais tarde se transformou no Departamento Infanto-juvenil do Botafogo e no próprio Botafogo Football Club.
Quando o Brasil estava em guerra contra os países do eixo, (Alemanha-Itália) foi encarregado de comandar o petroleiro Marajó, único da frota brasileira a transportar de Trinidad, nas Antilhas, o combustível necessário à nossa Esquadra. Apesar de ser presa cobiçada pelos submarinos inimigos, o Marajó foi levado a bom termo, cumprindo o nosso Benjamin Sodré a perigosa missão. Isto foi em 1940/41.
Com a vida ligada aos Escoteiros, à Marinha e à Natureza, e dotado de fina sensibilidade e misticismo, Benjamin Sodré deixou-nos um texto, inspirado por ocasião da celebração de uma missa rezada em 28 de setembro de 1948 na igrejinha da Boa Viagem (Niterói), pelo Bispo D. João da Mata:
Eis o texto:
"Há 12 anos eu sou o sineiro da Boa Viagem. Sineiro convicto, emocionado. Entretanto, todos sabem que não sou religioso. Se o Bispo fizesse alusão a isso, como eu responderia? Diria que faço tudo por Zi (apelido carinhoso da esposa), que tanto tem se dedicado à sua linda capelinha. É a ela que eu sirvo, trabalhando pela igreja. Mas, também, é verdade que venero as imagens no que elas simbolizam: a Virgem Maria representa a Bondade e o Amor Infinitos das Mães; minha mãe, minha esposa, minhas filhas. São Jorge, o padroeiro dos escoteiros, é o cavaleiro indômito, exemplo de fortes virtudes; São José, Santa Joana D'Arc... Jesus sintetiza a moral cristã, que eu sigo como moral, como seguiria as normas de Confúcio, Buda e todos os grandes filósofos moralistas pregadores. Os padres, sempre os olhei com simpatia e admiração; são homens que se sacrificaram por um ideal de fé, privando-se do que a vida tem de mais belo, por amor ao próximo. Por todos esses motivos, sou há 12 anos, com convicção, o sineiro da Boa Viagem. E não creio que alguém assista à Missa com maior emotividade do que a minha. Oh! O que aquela capelinha representa na minha vida!... Aquela igrejinha é muito nossa e, por ela, por amor a Zi, tudo farei."
Benjamin Sodré era filho do General Lauro Sodré, o primeiro Governador do Estado do Pará, após a promulgação de sua Constituição política. Quando a família já estava residindo no Ceará, para onde o casal mudou devido a razões de saúde, a esposa de Lauro Sodré, Da. Theodora Almeida Sodré, deu à luz a Benjamin Sodré, em 10 de abril de 1892. O pai de Benjamin foi também deputado estadual na Constituinte de 1891, três vezes senador pelo Pará e uma vez pelo Rio de Janeiro. Seu avô materno, coronel D’O de Almeida foi comandante do Forte de Óbidos em Belém.
Escritor e poeta, Benjamin Sodré legou-nos algumas páginas inspiradas, de puro lirismo... Este é um trecho do texto que chamaríamos de "Contemplando a manhã":
"...Sem nos apercebermos, enquanto o espírito está suspenso na contemplação maravilhosa, quase as sombras foram afugentadas... Uma franja avermelhada coroa, agora, todo o Oriente. A mata despertou toda... Os trinados multiplicam-se, são incontáveis... O mar está azul. Nas ilhas, a vegetação vai tomando o colorido habitual... Surgem os primeiros rumores da vida humana... O sino da ilha bate, sonoro, cadenciando o sino da alvorada... Mais alguns segundos, o sol irrompe, prodigioso, pondo por todo o mar, em todas as árvores, uma faixa forte e viva de luz dourada... Vida!... Vida!... Tudo estréia em intensa vida, com o ressurgimento do Grande Fanal Criador!..."
SEBASTIÃO ANTONIO BASTOS DE CARVALHO