Cidadão Tubaronense

Recebi a árdua missão de falar em nome de pessoas e entidade tão especiais, nascidas em Tubarão ou acolhidas pelos Tubaronenses. Compartilhar algumas palavras sobre o significado deste ato com os homenageados, com os vereadores e com todos e todas vocês não é uma tarefa fácil!

Para tentar desempenhar esta tarefa com êxito, vou pedir a devida indulgência aos homenageados e utilizar de algumas passagens da minha vida em relação à cidade de Tubarão, mas que tem o objetivo de externar a gratidão de todos nós que hoje recebemos uma homenagem tão significativa.

Inicio perguntando a cada um nós aqui:

- Qual o seu sonho? Ou, Quais os nossos sonhos?

Vocês sabem qual era um dos meus sonhos quando, na minha infância, morava em Rio São João, interior do município de São Martinho?

- Vir com o pai e a mãe a Tubarão para comer um pastel e tomar um refrigerante!

Na época, viagens a Tubarão eram bastante comuns, pelo menos em três ocasiões: na compra do material escolar no início do ano, quando chegava o Natal para comprar roupas e para as consultas médicas utilizando a carteirinha do IPESC. Contudo, meus pais tinham um problema: numa família de oito filhos, como trazer todos dentro do fusquinha 1200?

Sair, por um dia, da rotina da roça e comer um pastel, acompanhado de um refrigerante, era o alcance do meu sonho naquele momento da história. Eu esperava muito por esse dia, pela minha vez!

O tempo passou! E, depois, na adolescência, o sonho alcançava patamares ainda mais amplos na minha vida. Aos 14 anos vim morar em Tubarão para estudar no Seminário Nossa Senhora de Fátima. Época em que estudei no Colégio Dehon, no Colégio Gallotti e na nossa Unisul. Era o sonho de residir na Cidade Azul, a “Cidade Grande”!

Aos 18 anos, o sonho se ampliou ainda mais. O sonho de ser professor, na Escola Básica Arno Hübbe, na Escola Básica Noé Abati e no Lar da Menina.

Os sonhos me embalavam e alimentavam a minha vida! Pequenos ou grandes, mas eram sonhos! Que nunca nos esqueçamos do sonho. Parar ou não se permitir sonhar é um grande perigo, talvez um dos grandes males do nosso tempo! Sonhar é combustível para qualquer tempo, para lutar por uma causa, para lutar pela nossa vida.

Sem sonho não há vida! E não há vida sem sonho! Quem não tem sonho envelhece depressa!

Mas sonhar sozinho não basta, senhoras e senhores. De nada adiante, não chega, não realiza, não acontece. Aqui entram em nossas vidas, na vida dos homenageados desta noite, os protagonistas: Tubarão e seus sonhadores, os Tubaronenses!

Obrigado Tubarão, obrigado aos Tubaronenses, por terem permitido que neste chão as pessoas homenageadas nesta noite realizassem seus sonhos com vocês, às vezes simples como foi meu caso lá na infância com um pastel e um refrigerante; mas noutros casos com a geração de filhos, com a vivência em família, o acesso à educação, o trabalho digno em várias áreas, a efetivação do espírito empreendedor, com a atuação política, o zelo pela segurança pública, a doação pela causa esportiva, com o abnegado trabalho à frente de entidades beneficentes ou religiosas, através do ato heroico de salvar vidas, com a arte de retratar a cidade, a organização popular, o sonho de ajudar os outros a terem uma vida melhor... Enfim, gente como a gente, que ajuda e ajudou essa cidade a ter mais vida!

Tubarão, nossa Cidade Azul, assim descrita pelo escritor, político e jornalista catarinense Virgilio Varzea, cresce e se desenvolve a cada dia. Nosso rio e nossas estradas já foram ponto de parada e de passagem para navegantes e tropeiros, que subiam e desciam a região serrana com queijo, charque e outros produtos e faziam a ligação com o Porto de Laguna.

Nossa gente é plural: cidadãos oriundos de diferentes culturas e etnias (índios, açorianos, vicentistas, italianos, alemães, africanos e tantos outros mais). Somos semente e fruto desse movimento de passagem, de ligação e relação com a diversidade cultural e geográfica da nossa região, da diversificação da nossa economia, das possibilidades de locomoção, da proximidade com capitais e tantas outras referências.

Mas, essencialmente, Tubarão é o lugar da acolhida, do encontro, do enraizamento, da fixação de pessoas e de uma cultura que supera a transitoriedade da passagem pela perenidade da vida estabelecida. Tubarão faz de uma catástrofe uma dificuldade momentânea; da destruição, e até do desespero, uma construção solidária de uma cidade fundamentada na valorização da vida!  

E isso tudo foi possível porque as pessoas de Tubarão souberam caminhar juntas, ajudar e serem ajudadas! Desenvolvendo e compartilhando capacidades para edificar essa cidade com valores próprios e, ao mesmo tempo, aprendendo com outros olhares, de outros lugares, muitas vezes diversos e diferentes.

Talvez seja esse o espírito da homenagem prestada hoje. Tubarão nos impulsiona a vencer um dos principais desafios deste e de um próximo tempo: o desafio de conviver de fato com a diversidade de pessoas e culturas; saber receber e ser recebido, agradecer e ser agradecido, transformar nossas casas no mundo e o mundo em nossas casas; receber pessoas de tantos lugares diferentes e fazer com que estas pessoas sintam-se em casa e levando coisas boas das nossas casas a tantos lugares do mundo.

Não poderia finalizar esta fala, ao agradecer o gesto da Câmara de Vereadores, sem concluir a história que comecei. Naquele dia, depois de muito esperar, eu tinha um lugar no fusca: era a minha vez de vir com o pai e a mãe para Tubarão. Durante o trajeto, acho que foi na altura de Gravatal, em Pouso Alto, o motorista (Sr. Ricardo Webber, que também era vereador) e meu pai conversavam sobre fatos e boatos, e lá pelas tantas sobre qual seria a palavra mais bonita do nosso vocabulário. A conclusão de ambos na conversa daquela época: a palavra escolhida foi OBRIGADO!

Senhores Vereadores e Tubaronenses: recebam, de nós homenageados com o título de Honra ao Mérito e de Cidadão Tubaronense, a palavra mais bonita e perene – OBRIGADO!

Relembro essa passagem da minha vida para externar esse gesto humano tão nobre: a gratidão. Um coração grato encontra ressonância noutros corações gratos. Isso é tão verdadeiro para os tubaronenses que a própria cidade ergueu a Torre da Gratidão, construída em memória ao povo trabalhador desta terra que reconstruiu a cidade e em homenagem aos esforços coletivos e a solidariedade em consequência da enchente de 1974.

A Torre da Gratidão segue sólida e presente a cada dia em nossos corações. Como diz Fábio de Mello “Devemos ser gratos a Deus pelos pequenos detalhes. Nos detalhes descobrimos o valor de uma realidade. Olhar as miudezas da vida faz a diferença.” Tenham a mais absoluta transparência e certeza, Senhores Vereadores e pessoas aqui presentes, dentro de cada um de nós, homenageados, hoje eterniza-se uma verdadeira Torre de Gratidão.

Graças a muitos tubaronenses, a organizações tubaronenses de vários tipos... alcancei o sonho de infância... Alcancei aqui muito mais: o sonho da educação de qualidade, o sonho do emprego, a convivência com muitos amigos... e assim foi com cada homenageado desta noite, cada um, a seu modo, está presente na vida da Cidade Azul!

Ao realizar nossos sonhos acabamos encontrando os sonhos de vocês! Os nossos sonhos se encontraram nesta TERRA AMADA E BENDITA, TERRA DE ONDE A VIDA PALPITA, CELEIRO DE PAZ E DE AMOR! Nossas vidas, meus senhores e senhoras, não mais poderão ser separadas!

Obrigado, Tubaronenses, por reconhecerem o valor dos filhos da terra e por nos terem concedido a licença para entrar na vida de vocês, na história dessa cidade!

Estamos aqui sendo homenageados pelo nosso passado e pelo presente. Mas um gesto de tamanha generosidade dos Vereadores desta nossa cidade hão de comprometer-nos, com mais vigor ainda, com o futuro desta cidade!

Sejamos melhores a cada dia com a presença do outro! Parabéns, Tubarão, pelos 145 anos de vida!

Um forte abraço, ajudemos alguém a ser feliz e fiquemos com Deus!

Boa Noite!

Autor

Mauri Luiz Heerdt

Obreiro da ARLS... Alferes Tiradentes Nº 20

Vice-Heitor da Universidade Sul de Santa Catarina - UNISUL.