Crianças e Adolescentes na era digital
Estamos vivenciando a emergência de uma sociedade conectada. As crianças e adolescentes vivenciam essas transformações de forma ainda mais intensa, com profundas mudanças na forma como se relacionam com o mundo a sua volta. Mas o que sabemos sobre os potenciais riscos para cérebros em desenvolvimento? Este é ainda um campo de estudo muito recente, com muitas indefinições.
Questões específicas da adolescência, tal como falta de maturidade psicológica, torna-os mais vulneráveis ao uso excessivo e aumenta a propensão para o desenvolvimento de comportamentos de dependência online, que podem ter um impacto negativo sobre os relacionamentos da vida real, desempenho acadêmico e estabilidade emocional. Os sintomas assemelham-se aos de abuso de substâncias, perda de interesse por outros entretenimentos, relacionamentos, oportunidades de educação ou carreira. Como se trata de uma questão de saúde pública, foi incluído numa das principais classificações para transtornos mentais, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, como “condição para futuros estudos”. Ou seja, mais investigação e experiência são necessárias antes que possa ser considerado um transtorno formal. Mas já sabemos que o comportamento de dependência da internet gera: conflitos familiares, pior rendimento escolar e maior incidência de transtornos como depressão e de déficit de atenção.
Como os pais podem lidar com isso? As crianças estão preparadas para assumir as consequências de tal privacidade/liberdade? Um grande desafio é minimizar situações de risco em um cenário em que as facilidades tecnológicas online surgem precocemente. Precisamos de ações que levem em conta o envolvimento e a capacitação de pais, educadores, gestores de programas, designers de softwares, tanto em relação a políticas públicas quanto a iniciativas privadas, no contexto de elaboração de regras para otimizar atividades online com segurança e reduzir riscos sem restringir os jovens de usufruir dos benefícios para a sua formação. Mas, certamente, o mais importante: quanto maior o envolvimento dos pais na relação dos filhos com as tecnologias, menores as chances de terem problemas em decorrência desse uso.
Lilian Schwanz Lucas
Psiquiatra da infância e adolescência e membro da Associação Catarinense de Psiquiatria.
Fonte: Diário Catarinense