Das Diversidades

 

Desde tempos muito antigos, a humanidade cultivou o prazer pelo diálogo a alegria de encontrar pessoas e conversar, trocando ideias sobre os mais variados assuntos, desde os mais prosaicos até os de maior importância. 

 

Esses encontros cumprem funções importantes em nossas vidas. Exercitam a empatia, a fraternidade, o afeto por nossos semelhantes, o enriquecimento de conhecer novos pontos de vista e muitas vezes o consolo de saber que todos têm dificuldades e preocupações como nós temos. Quantas vezes saímos aliviados e confortados desses encontros. Objetivamente, nada em nossa vida mudou, mas nos sentimos acolhidos, mais leves e confiantes. 

 

Ouvir com atenção e respeito ideias diferentes das nossas não significa rendermo-nos incondicionalmente a elas

Encontros realizados pelo prazer de dialogar, trocar ideias e refletir sobre elas ocorreram desde a antiguidade. No entanto, recentemente parece que desaprendemos essa arte, tão singela e tão fundamental, de falarmos, de ouvirmos e sermos ouvidos. 

 

Ouvir com atenção e respeito ideias diferentes das nossas não significa rendermo-nos incondicionalmente a elas. É apenas o reconhecimento de que nenhum de nós tem o conhecimento completo e que nos enriquecemos a cada momento, a cada encontro com outra pessoa, com outra visão da realidade.

 

A diversidade de ideias, de concepções da realidade, não deve ser encarada como uma ameaça. Ao contrário, a diversidade de pensamento nos enriquece sobremaneira. Exercita a crítica e a autocrítica. Nossa história nos narra os tristes momentos em que apenas uma corrente de pensamento foi imposta a uma nação. 

 

Esta é a diversidade mas preciosa, a liberdade mais fundamental. Infelizmente, num tempo em que lutamos muito justamente pelo respeito e acolhimento às diversidades, temos sido muitas vezes intolerantes e agressivos diante de ideias diferentes das nossas. 

 

Que o nosso século não assista ao desapreço pela dialética. Que sigamos dialogando e aprendendo uns com os outros. 

 

Alberto Mantovani Abeche

Médico e professor da Universidade de Medicina da UFRGS

aabeche@hcpa.edu.br