Das trevas para a Luz
O Iluminismo surgiu com a promessa de oferecer aos homens as luzes da emancipação. Nosso principal desafio, agora, é superar os desvios cometidos após o advento dessa doutrina filosófica, saber lidar com a própria liberdade e construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Inicialmente, as ideias do Iluminismo foram disseminadas por filósofos e economistas que se diziam propagadores da luz e do conhecimento. Julgavam que a via para se adquirir o conhecimento era através da razão, e para isso, o estimula ao questionamento sobre a origem ou a ordem das coisas que se fazia presente em suas discussões; utilizavam-se da pesquisa e da investigação para entender, na natureza, a sociedade, a economia, a política e o próprio ser humano – o antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão.
Considerado como uma doutrina filosófica, o Iluminismo marcou a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Teve seu inicio na Inglaterra, no século 17 e seu auge na França, no século 18. A doutrina teve como “pai” o filósofo John Locke, além de René Descartes, pai do racionalismo, que possibilitou acontecer esse movimento.
Podemos resumir o Iluminismo em uma única frase, pode-se dizer que ele é, segundo Kant, a “saída do ser humano do estado de não emancipação em que ele próprio se colocou. Essa não emancipação é a incapacidade de fazer uso da razão sem recorrer a outros”. A partir dessas máximas, o Iluminismo precedeu e possibilitou a Revolução Francesa e suas consequências influenciaram também a história dos Estados Unidos e até mesmo do Brasil, além de influenciar a sociedade até hoje, afinal, todos os cidadãos que vivem em uma democracia são livres, iguais e tem o direito de adquirir uma propriedade.
Os princípios iluministas eram o racionalismo (duvidando-se de tudo é que se chega à verdade absoluta), individualismo (cada um deve ser responsável pela sua evolução) e a liberdade religiosa (eram contra a religião, mas não contra Deus – consequência da Reforma Protestante). Esses princípios refletem hoje em nossa sociedade, onde as pessoas não têm mais tanto afinco com as religiões.
Esse movimento intelectual defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. Defendiam a liberdade da escolha e a igualdade perante a lei, até mesmo religiosa. Opunham-se às ideias do absolutismo e de todas as suas características que privilegiava a nobreza e o clero, além de críticos fervorosos do mercantilismo, da Igreja católica e de seus métodos, respeitando, porém a crença em Deus. Por meio dessa liberdade, a proposta do Iluminismo se estendia também ao direito a educação para todos, assim com essa visão mais solidária, e menos separatista, encontraram facilmente a adesão, das suas ideias na população, principalmente porque o povo se sentia aprisionado e limitado. Essa vertente acaba por atingir e intimidar alguns reis absolutistas que, com medo de perderem o governo, passaram a aceitar algumas ideias do movimento. Esses eram chamados Déspotas Esclarecidos (tentavam conciliar o Iluminismo com o absolutismo).
Consequência do movimento
O movimento causado pelo Iluminismo promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Principalmente por ter apoio da burguesia, pois os pensadores e os burgueses tinham interesses comuns.
Alguns representantes do despotismo esclarecido foram: Frederico II, da Prússia; Catarina II, da Rússia; e Marquês de Pombal, de Portugal, cuja obra de reconstrução e melhoria em Lisboa após o terremoto, o tornaram símbolo de liberdade, cuja estátua está presente hoje na Avenida da Liberdade em Lisboa.
O Iluminismo sintetiza diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas. Considerado uma atitude geral de pensamento e de ação, os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição e possuem o poder de tornar este mundo melhor – mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social. Um dos mais conhecidos expoentes do pensamento iluminista, Immanuel Kant, em um texto escrito precisamente como resposta à questão sobre o que é o Iluminismo, descreveu: “O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo”.
A fraternidade humana, os direitos de igualdade, o respeito pela diversidade étnica, religiosa e os valores humanos da atualidade são frutos da separação ocorrida em decorrência desse movimento, mas creio que o poder que ainda persiste na atualidade não preserva como deveria os direitos humanos.
A incapacidade de sair das constantes repetições de padrões, ciclos que não permitem uma evolução, a falta de uma ética aplicada no cotidiano e a moral para que haja respeito, demonstra que possuímos algum tipo de obstáculo que impede a nossa evolução, embora tenhamos o conhecimento de ética, moral e respeito, pouco se percebe implantado com a intensidade que deveria. Hoje em dia, embora tenhamos muita informação, enfrentamos as limitações da consciência humana e seu ego destrutivo e suicida.
Possuímos hoje a sonhada liberdade, o neoliberalismo e a intensa e massiva informação. Dotados de maior liberdade de escolhas, o próprio ser humano se aprisiona, antes vítima de um poder e agora vítima de todos os poderes, inclusive o seu próprio e solitário; não consegue integrar a sociedade humana como um todo: cria divisões, partidos, times de futebol, entre vários outros grupos, mantendo o separatismo que existia antes do próprio Iluminismo. O ser humano hoje, e depois do Iluminismo, percebe claramente que ele sempre foi o seu pior inimigo, e embora livre, não sabe lidar com a sua própria liberdade, falta à consciência amorosa e o respeito a todos os níveis deste por si próprio, até para com os outros, para que assim possamos transitar e atingir o que os iluministas tentaram que foi o sair das trevas e ir para a luz.
Carlos Florêncio
Fonte: Revista CP Filosofia
Publicado no Blog: https://opontodentrocirculo.com/