De fininho

 

Aqui no Patropi, adotamos a expressão "sair à francesa" quando queremos sair de um evento sem longas despedidas. Normalmente, em eventos com muita gente conhecida — para não atrapalhar —, como em aniversários, batizados, casamentos etc. Na realidade, segundo os entendidos, a expressão surgiu na França quando os franceses adotaram o hábito inglês de sair das festas sem se despedir de ninguém. Apesar de ficarem horrorizados com aquele costume inglês — mau costume, diziam —, sempre que queriam sair sem serem notados, diziam eles lá que iam "sair à inglesa".

 

Mas o tempo passa e as expressões mudam quando um evento muito marcante acontece. Principalmente um evento traumático, acontecido com gente importante em cidade muito importante. Muito importante pra gente do lugar, claro. Foi o que aconteceu em uma bela cidade do interior aqui de Goiás, próxima ao Distrito Federal.

O Bio, nascido Severino em Pernambuco e ninguém sabe como foi parar lá naquela cidade, era um dos mais conhecidos frequentadores das casas das luzes vermelhas. Daquelas casas mais frequentadas pelos honrados pais de família da cidade.

 

De repente, quase sumiu da boemia, dos bares e das casas das "primas". Saía de casa muito raramente. Tinha encontrado a mulher de sua vida. Assim, meio por acaso. Madrugava quando ia voltando pra casa e se deparou com uma bela morena descendo de um caminhão, com uma trouxa pesada nas mãos. Ofereceu ajuda. Papo vai, papo vem, a morena chamada Tereza disse que estava ali pra trabalhar e procurava um lugar onde ficar, mas acabou tomando umas saideiras com o Bio e aceitou o convite de dormir na casa dele. Nunca mais saiu dali e viveram felizes para sempre.

 

Até que um dia, como dizia o poeta, o "pra sempre sempre acaba" e Tereza simplesmente sumiu. Dizem as más línguas que fugiu, de madrugada, em um caminhão. Acabrunhado, Bio voltou a frequentar a boemia assiduamente e, claro, todos os amigos perguntavam o que tinha acontecido. E chegavam à pergunta fatal:

— E aí, cumpadre, cadê Tereza?

O Bio, os olhos cheios d'água, voz embargada, baixava a cabeça e sempre respondia:

— Tereza foi embora, não deixou nem um adeus!

Daí em diante, naquela próspera cidade goiana, quando alguém quer sair de uma festa sem se despedir, diz apenas:

— Olha, não repara, não. Vou sair igual Tereza.

 

Fernando Gurgel Filho

Fonte: https://blogdopg.blogspot.com/

 

Bônus: A beleza em Tereza

 

"Todo mundo se admira / da mancada que a Terezinha deu / que deu no pira / e ficou sem nada ter de seu. / Ela não quis levar fé / Na virada da maré." ~ Baden Powell e Paulo César Pinheiro