De volta à câmara de reflexões
No começo, ouvi piadas sobre a pandemia Covid19. É sempre assim no Brasil − esse espírito folgazão e jocoso do clima tropical, da lassidão e do pouco compromisso com as coisas sérias. Arredios ao raciocínio, zomba-se de tudo. Mesmo no âmbito da maçonaria (como instituição), entre gracejos e pilhérias, alguns destituídos dos “sãos princípios da razão”, debocharam do isolamento com achismos sobre o que seria uma pandemia. Achismo, achismos, achismos... se soubéssemos tanto quanto dizemos nos bares ou na internet, não teríamos chegado neste ponto.
Por fim, instalada a crise na saúde – somada à desinformação, mais a contrainformação, acrescidas dos paroxismos políticos e econômicos, mais os desastres financeiros que se anteveem, a maçonaria (como instituição) através de seus dirigentes, houve por bem, suspender as reuniões. Em momento oportuno vieram Decretos, Atos e Circulares interrompendo tudo que dependa de “aglomeração” − termo até agora não definido com precisão jurídica: aglomeração pode ser: (a) uma grande quantidade de pessoas; (b) um agrupamento; (c) um aglomerado; (d) uma multidão, ou (e) simplesmente o ajuntamento de pessoas independente de quantas forem; trabalhos suspensos e ninguém mais se dispôs a fazer piadas. Pela primeira vez na história da humanidade todos os templos de todas as religiões, cultos e sociedades iniciáticas estão fechados – nenhum ritual, nenhuma coleta, nenhum sermão, nenhuma circunvolução, nenhum toque secreto ou marchas... e nenhuma palavra:
“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu.” (Apocalipse 8:1)
Não precisamos discutir se o vírus é cibernético, oriundo de morcegos ou extraterrestres; não interessa se o “novo corona” vem de uma imaginária dinastia Xia Shang ou das pirâmides Teotihuacanas e Zapotecas; agora pouco importa se é arma de guerra ou estratégia política desse ou daquele demônio − medrosos e valentes, sábios e idiotas estão retidos em casa; e os arruadores, “chorando na cama que é lugar quente”, como dizia minha avó. Até mesmo os extraterrestres, salvadores do planeta em seus admiráveis discos-voadores, deram no pé.
Conjecturar sobre o futuro é o melhor que poderíamos fazer durante esse retiro.
Há quem possa se aventurar no campo da ficção e imaginar todos os maçons aproveitando o tempo “LIVRE” para ESTUDAR MAÇONARIA − mesmo que seja “pelo WhatsApp” (como preferência revelada em recente pesquisa). Que seja!, vivemos tempos de distopia maçônica, cada um no seu canto imaginário em condições de sujeição imposta pela força dos fatos ou império do medo.
Infelizes dos que, neste momento, não tem VIDA INTERIOR; e se alguém perguntar “o que é Vida Interior”, é porque não tem ou nunca teve VIDA INTERIOR.
Esquecemo-nos, contudo, que esse isolamento social – dure mais seis ou nove meses – traz um questionamento fundamental.
Nessa câmara de reflexão que é a quarentena, estamos como que, mais uma vez, encarcerados numa masmorra, cercados dos “emblemas da mortalidade” e pensamentos que nos compelem a refletir sobre o significado da vida. “Se queres bem viver, pensa na morte!” É nesse ponto da concentração do espírito sobre si próprio que desponta a mais importante de todas as perguntas:
− Do que realmente estou sentindo falta?
Até agora, bastaram 30 ou 40 dias de isolamento e os padrões mentais mudaram. Limitados no ir-e-vir, vamos menos aos shoppings e supermercados: compramos menos e comemos menos; aprendemos a ser previdentes e providentes; ficamos mais atentos à saúde e aos hábitos de vida (pois uma ida de urgência aos hospitais tem que ser evitada); tornamo-nos mais atentos ao que somos como pessoas e voltamos a valorizar aqueles que, até agora, distanciamos de nós porque “tínhamos horários, reuniões e compromissos”.
E descobrimos um jeito novo de viver.
− Do que realmente estamos sentindo falta? O que mudou? O que é essencial? ... O que não é?
Que lugares estávamos simplesmente acostumados a ir (ou a não ir)?
Quais são os Irmãos?... e quais são “apenas membros” inscritos numa sociedade que se proclama fraterna?
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