Dois mundos.

 
Querido mundo, faz tempo que conversamos pela última vez. Se é que já falamos direito algum dia. O cotidiano faz essas coisas com a gente: quando olhamos o relógio, falta muito tempo para o que desejamos fazer; quando tornamos a olhar, o sol já se pôs no horizonte. Mas nem por isso há pouca coisa para dizer nessa curta passagem por você.

Há algum tempo venho observando seu espaço, do lugar onde estou. Às vezes venta forte e não é possível escrever com tantas palavras embaralhadas na mente. Outras tanta, não há uma simples brisa que force algum movimento na caneta sob o papel. Quando encontrei o seu canto perfeito, encantei-me tanto que as palavras vieram fazer visita sem nenhuma cerimônia.

Sabe, mundo, é impossível não reparar no tanto de tempo que você destinou à criação desse lugar. Aqui existem mares que oscilam entre ondas ferozes e a calmaria da praia. Oscilações que acontecem diante de nós, todos os dias, para que lembremos de nossas sacudidas pessoais mesmo que não estejamos perto da água. A vegetação abundante impressiona pela imensa gama de cores e tonalidades: de um lado um verde profundo que parece formar um tapete invisível que cobre o chão e as montanhas. Em outro lugar, dunas que escondem e revelam contornos misteriosos, assim como nossos pensamentos mais particulares.


Quando somos jovens, o makior desejo é o de abraçar o mundo com toda a paixão. Sentir e vivenciar tudo que nos for permitido.


Há outros lugares maravilhosos, claro, mas é inquestionável o capricho nesse pedaço de terra perdido no mar. Tirando a areia dos olhos é possível ver claramente o que o poeta Zininho quis dizer quando escreveu que jamais a natureza reuniu tanta beleza.

Quando somos jovens, o maior desejo é o de abraçar o mundo com toda a paixão. Sentir e vivenciar tudo que nos for permitido. Os dias passam e, cansado de andar com mochilas nas costas, você começa a querer encontrar o seu lugar. Quando encontra, cria raízes e se fortalece como uma árvore frondosa. Nesse dia, encontra o seu canto, a sua praia. 

Hoje, talvez, seja o tempo de sonhar viver em dois mundos. Talvez muitas pessoas nutram essa vontade, ainda que não confessem. Ao fim do dia, o sol começava a se pôr, no mar ou no horizonte asfaltado da cidade. Entre dois mundos, veio uma sensação de tranquilidade: onde quer que eu esteja, como na canção de amor à ilha, a lua consegue espelhar de onde vim.

É querido mundo, a passagem por você nos deixa, muitas vezes, sem palavras para dizer tudo que realmente sentimos. Tira-nos o fôlego ao lembrarmos que estamos vivos nesse que é o único mundo que conhecemos. E enquanto eu me despedia de mais um dia, compreendi que todos nós esgtamos enxergando apenas o que é possível - mas não tudo o que ainda há para ser visto.
* Thaís Ferreira Gattás
thaisferreiragattas@gmail.com