É chegada a hora.

Muitas e muitas vezes pensei em mudar a minha vida. Muito sonhei em poder me dedicar ao que eu realmente gosto, muito desejei ter um tempo para mim, para meus tecidos, para minhas leituras, para o prazer de escrever. Mas para ter este tempo, para realizar este sonho, era preciso mudar, e radicalmente. Só que mudar não é fácil, especialmente quando já estamos instalados em uma zona de conforto que vai tornando o sonho cada vez mais distante e, aos poucos, vai enfraquecendo a coragem, tão necessária para que as mudanças se tornem realidade.

Lembro de ter pensado com frequência em como seria minha vida, quando e se eu conseguisse abandonar o confortável, o estabelecido, o seguro. Quando não era o problema, pois este “quando” certamente um dia iria chegar. O problema estava no “se”, que por si só já demonstra que existe uma dúvida, mostra que não temos certeza absoluta e, pior, denota insegurança e medo. Então, por que largar o certo em favor do duvidoso, por que arriscar, se estamos vivendo em segurança, pagando as contas e colocando comida na mesa, se nada nos falta, se os dias correm em paz?

Acontece que estamos em paz, mas não estamos felizes. Acontece também que as oportunidades surgem e não temos forças para agarrá-las, e por medo deixamos que passem. E acontece que o tempo vai passando, a areia vai escorrendo na ampulheta inexoravelmente, e um dia, vemos que o melhor agora, é continuar como estamos, pois o tempo de mudanças passou. O que resta é esperar que se cumpra o tempo necessário para que, então sim, aconteçam as mudanças, só que agora amparadas por um mínimo da segurança que nos vem, depois de anos de trabalho, como um apoio para os dias que virão.

Depois de tantos anos, é chegada a hora, para mim. As coisas foram acontecendo aos poucos, cálculos e consultas à advogada, conversas na empresa, ligações para o contador, os fios se entretecendo, as engrenagens trabalhando, a areia escorrendo, na ampulheta. Achar alguém para ocupar o meu lugar, na empresa. Aos poucos, levar as coisas pessoais. Mais aos poucos ainda, tentar desapegar das pessoas, e dos laços que formamos, E enquanto isto não deixar que a ansiedade ganhe espaço, não deixar que o medo domine, que a insegurança se instale.

É chegada a hora, faltam poucos dias, e não quero despedidas. Vou sair pela última vez como se fosse um dia normal de trabalho, só que sem o “até amanhã”.

Prefiro dizer com confiança, que “sejam felizes”, assim como eu pretendo ser, na minha nova vida.

*Katia Farret.

Jornalista.

katiafarret@hotmail.com

Fonte: Jornal “Notícias do Dia”.