Educação na Maçonaria.

O cidadão que bate na porta de um templo da Maçonaria em busca da luz, a educação que leva à sabedoria, aguarda que a ordem maçônica possua um método de ensino que o transformará em homem melhor do que já é. Isto é evidente na redação da absoluta maioria das propostas de admissão. Tempos depois, alguns não encontram este tesouro, desiludem-se e adormecem. Para estes, a almejada luz foi apenas um lampejo. Longe de constituir falha do método maçônico de educação de construtores sociais, a rotatividade é devida principalmente a nestes cidadãos a luz não penetrar, isto porque eles mesmos não o permitem. A anomalia é consequência do condicionamento a que foram submetidos ao confundirem educação com aquisição de conhecimentos na sociedade. É comum não perceberem a sutil diferença entre os dois propósitos. Professor de escola da sociedade ensina, transmite conhecimentos e não educa. São raros os professores das escolas que mostram caminhos e motivam o livre pensamento, e mesmo assim, isto ainda não constitui educação. Em educação existe apenas o ato de educar-se, de receber luz de fora e sedimentar em si novos conceitos, princípios e prática de virtudes. É impossível educar outra pessoa, a não ser que esta, na prática de seu livre arbítrio, consinta e se esforce em mudar a si próprio. No universo dos seres pensantes existe apenas a auto-educação. Qualquer um só pode educar a si próprio.

Ao mestre maçom é dada a atribuição de ensinar. Pelo modelo do mundo, é de sua atribuição transmitir conhecimentos e, pelo da Maçonaria, é induzir o educando a decidir qual caminho deseja seguir em sua jornada. O método da ordem maçônica visa provocar cada um a descobrir seus próprios caminhos. Ler em conjunto as instruções do ritual não faz do mestre um educador maçônico, mas um professor que transmite conhecimento; ele não induz a luz, a educação da Maçonaria, a almejada sabedoria; para tal, ele carece de um condicionamento de auto-formação. O mestre que apenas dá instruções de forma mecânica nem instrui, pois se comporta a semelhança do modelo do mundo, onde os governos propiciam instrução e igrejas conceitos de ação e moral, que na maioria das vezes visa apenas escravizar para o trabalho ou ao fundamentalismo radical. Auxiliar alguém em mudar o rumo de sua jornada, na presença do livre arbítrio, é educação. Romper a "couraça de aço" que envolve o intelecto do educando exige uma expressão de arte, algo quase místico.

Para despertar dentro do educando as potencialidades de seus dons, exige-se do mestre obter conhecimento lato da natureza humana. Para aprofundar-se no conhecimento das características humanas exige-se dele que conheça antes a si mesmo, da forma a mais ampla possível - é a essência do "conhece-te a ti mesmo", de Sócrates. Este autoconhecimento só aflora quando ele atinge a fase de auto-realização em sua vida, o último estágio que um ser humano atinge depois de atender a todas as demais necessidades, e que Abraham Maslow definiu para o indivíduo que procura "tornar-se aquilo que os humanos podem ser, eles devem ser: eles devem ser verdades à própria natureza delas". É neste último patamar que se considera a pessoa coerente com aquilo que ela é na realidade, seu verdadeiro eu, de ser tudo o que é capaz de ser, de desenvolver seus potenciais até o limite. Só então é possível ao mestre conhecer a natureza humana alheia, onde a educação passa a obter característica de arte ao invés de ciência.

É ilusão pensar que pelo fato do maçom ver-se mergulhado numa sociedade de homens bons, livres e de bons costumes, já seja o suficiente para fazer dele um homem bom. Se ele não o desejar e não agir conforme, de nada adiantam os melhores mestres que nunca obterá a sabedoria maçônica; esta luz só penetra num homem se este o permitir. Por mais que o mestre se esforce, ou possua proficiência num determinado tema, se o caminho para dentro do educando não estiver aberto, isto não sedimentará e não se transformará em educação ou em luz maçônica. Se o recipiendário não se abre ao que lhe é transmitido, de nada vale o mais habilidoso educador. O mestre educador exerce apenas um impacto indireto, por uma espécie de indução; um potencial que todos têm latentes em si de influenciar terceiros por um conjunto de atividades intelectuais, afetivas e espirituais. Para romper os bloqueios do educando, o mestre deve encontrar-se primeiro, mudar-se, e só então obterá a capacidade de induzir luz maçônica ao outro - de fazer o outro mudar - momento em que, mente e coração do educando se abrem, e ele mesmo passa a efetuar mudanças em si, exercendo seu potencial de autoeducação. Em todos os casos o educando só muda se o mestre mudar antes. O aprendizado torna-se ainda mais eficiente quando as provocações provêm da ação do grupo sobre o individuo - é o efeito tribal fixado profundamente na mente de cada indivíduo, fenômeno psicológico e social desenvolvido desde os vetustos homens das cavernas - é quando a maioria das barreiras e bloqueios desaba e abre-se espaço para a autoeducação; neste caso, com o objetivo de obter aprovação do grupo e identificar-se com seus semelhantes. Fica mais efetivo quando uma força assemelhada é aplicada a si mesmo, para obter a aprovação própria, algo que lança o homem na obtenção de sua derradeira necessidade: a auto-realização.

Note-se que educação maçônica, a luz, a sabedoria, não têm nada a ver com decorar rituais, conhecer ritualística, ser uma enciclopédia ambulante; é uma arte que adquire contornos quase mágicos, principalmente quando os resultados aparecem e produzem bons frutos ao induzir os outros a mudarem para melhor como edificadores sociais. Enquanto a ciência pode ter tratamento intelectual com a transmissão de instruções, a arte de educar da Maçonaria vai muito além, e alcança intuição cósmica, limitada apenas nas fronteiras que cada um impõe a si próprio. Enquanto o talento analisa e é consciente, o gênio intui e vai muito além da consciência, pode até alcançar o místico.

Abordagens técnicas não furam a couraça do livre arbítrio do educando, mas a alma da educação pode ser alcançada pela "metafísica" da arte de ensinar os caminhos para a luz. É uma mistura equilibrada de conhecimento, emoção e espiritualidade; elementos dependentes entre si. A educação que quebra as barreiras do livre arbítrio apresentará sempre contornos lúdicos na sua indução. Para isto exigem-se do educador maçônico autoconhecimento e autorrealização. Tal personagem porta a capacidade de induzir na mente do educando uma caminhada que o motiva em efetuar mudanças em sua vida; não porque o mestre assim o determina ou exemplifica, mas porque o educando assim o deseja. Quando o mestre adquire esta arte de atingir e motivar o educando pela auto-educação, terá quebrado a barreira da indiferença do livre arbítrio e o educando se modifica porque ele assim se auto-determina. Com isto o mestre alcança a plenitude de sua atribuição. É a razão do educador maçônico nunca ser definitivo em suas colocações e sempre apresentar as verdades sob diversos ângulos, para que o educando possa escolher ele próprio qual é o melhor caminho a seguir. É a razão de propiciar aos educandos a possibilidade de debater num grupo, em família, os temas com que a Maçonaria os provoca e eles mesmos definirem, cada uma a sua maneira, as suas próprias verdades. É a razão de o mestre brincar com os pensamentos, propiciando emoção agradável, conduzindo as provocações apenas na direção certa do tema e onde cada um define suas próprias veredas. Em todos os casos onde o educando sente-se livre para pensar e intuir, ele derruba as inexpugnáveis barreiras do livre arbítrio que o impedem, em outras circunstâncias mais rígidas e ritualísticas, de obter as suas próprias verdades pelos eternos ciclos de tese, antítese e síntese. Da mágica que se segue da absorção da luz pela autoeducação é que surge a razão do maçom nunca iniciar um trabalho sem invocar a fonte espiritual da arte de educar à glória do Grande Arquiteto do Universo, a única fonte de luz da Maçonaria.

Charles Evaldo Boller

Bibliografia:

1. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, 140 páginas, São Paulo, 2007.

Publicado originalmente no Blog Segredo Maçônico.