Entre Símbolos e Irmãos: Um Caminho

Nunca pensei que escrever sobre Maçonaria fosse escrever sobre mim. A bem da verdade, quase tudo que vale a pena escrever acaba sendo sobre a gente, mesmo quando falamos de outra coisa. Foi assim com as viagens que nunca fiz, com os amigos que perdi e com as madrugadas em que escrevi sem saber se estava falando comigo ou com o mundo.

A Maçonaria me aconteceu sem pressa. Como acontecem as coisas que chegam na hora certa, ou na hora em que cansamos de correr. Não havia urgência, nem epifanias. Só uma inquietação qualquer, dessas que moram entre o peito e a nuca e que vez ou outra sussurram: “tem mais”. E eu, que sempre escutei vozes discretas com mais atenção do que gritos estridentes, resolvi atender o chamado.

O curioso é que eu não esperava nada de místico, nem segredos escondidos atrás de cortinas. Esperava, talvez, um pouco de ordem. E encontrei, mas não da forma como a vida costuma nos ensinar. Não era a ordem das agendas cheias, das metas bem traçadas ou dos discursos motivacionais. Era outra coisa. Silêncio. Simbolismo. Gente de terno falando pouco e escutando muito. E eu, no meio, sem saber direito o que fazer com aquilo tudo.

A primeira coisa que aprendi ali foi o valor de simplesmente estar. Estar presente, estar atento, estar sem disfarce. Ninguém ali queria saber se eu era bem-sucedido, se tinha opiniões geniais, se sabia frases em latim. Bastava estar inteiro, mesmo que incompleto. E isso já era muito.

Outra descoberta: símbolos. Um esquadro aqui, um compasso acolá, uma pedra, ora bruta, ora cúbica, esperando por um olhar menos apressado. Não se explicavam. Sugeriam. Como certas pessoas, como certos livros. E eu fui deixando que falassem comigo no seu tempo, como quem aprende a escutar o silencio de uma igreja vazia num dia de semana.

Lá fora, o mundo me ensinou a parecer. Ali dentro, estavam mais interessados no ser. Confesso que achei isso desconfortável no começo. A gente se acostuma com a armadura, e andar desarmado parece perigoso. Mas, com o tempo, percebi que ninguém ali estava pronto para o ataque. Estavam todos construindo. De si mesmos, uns dos outros, daquilo que chamavam, com uma certa reverência contida, de Templo.

E foi ali, nesse tal Templo, que reencontrei algo que pensei ter esquecido: a calma. A Maçonaria não tem pressa. Seus ritos caminham como quem sabe para onde vai. E isso, para um sujeito que andava rodando em círculos, foi quase um alivio. Descobri que é possível obedecer sem se perder. Que disciplina não é submissão. E que até o silêncio pode ser instrutivo, desde que bem pontuado por um olhar atento ou uma mão estendida.

Talvez o mais bonito de tudo tenha sido reencontrar a figura dos mais velhos. Homens que falam pouco e dizem muito. Que já viram de tudo, mas ainda se emocionam quando um novo Irmão entra pela primeira vez. São homens de fala mansa e olhos profundos, daqueles que não precisam provar nada para ninguém. Não ensinam por vaidade, mas por fidelidade a algo que vem de longe. E ao vê̂-los, me ocorreu que talvez o mundo ainda tenha jeito, desde que tenha memória.

Um dia, entendi. A Maçonaria não me queria salvo. Queria me ver acordado. Me deu ferramentas, nenhuma solução mágica, mas algumas boas pistas. E a tarefa: lapidar a pedra, que no caso era eu mesmo. Não para virar monumento. Mas para caber no conjunto. Com ângulo justo, medida certa e alguma humildade.

Desde então, sigo. Entre um símbolo e outro, aprendi que o tempo pode ser um aliado. Que a lentidão pode ser sábia. E que, mesmo sem entender tudo, é possível fazer parte de uma Obra maior. Uma Obra que não se vê com os olhos, mas com o coração quieto. Uma dessas coisas que não se explicam para impressionar, mas se vivem para transformar.

E talvez, no fim das contas, a grande descoberta seja essa: o Templo que se ergue ali não é só de pedra e rito. É também de carne, de memória, de propósito. Um Templo interior. Invisível aos apressados, mas indispensável aos que, como eu, cansaram de correr sem sair do lugar.

Agora, quando me perguntam o que encontrei na Maçonaria, eu sorrio sem dizer muito. Porque não se trata de o que encontrei. Mas de quem encontrei.

E entre esses encontros, com o silêncio, com os Irmãos, com os símbolos, reencontrei a mim mesmo.
E foi aí, justamente aí, que tudo finalmente começou...

Sérgio Copstein
A.·.R.·.L.·.S.·. "Resistência" Nº 536 - Or.·. de Porto Alegre/RS - GORGS
Fonte: Revista Cultural Virtual “Cavaleiros da Virtude” , ano XII, Nº 080, Outubro 2025