Especulação e Simbolismo
Segundo William Preston, a Maçonaria Especulativa compreende a ordem oculta do Universo e das coisas secretas, tanto terrenas como celestiais e mais particularmente aquelas de natureza espiritual e intelectual. A maçonaria Operativa direcionou nossos trabalhos à perfeição enquanto a Especulativa nos remete à felicidade. Uma nos direcionou ao discernimento e ao uso dos dons da Natureza enquanto a outra nos possibilita investigar a ordem e o sistema do Universo, adaptando às suas regras as nossas idéias e conceitos de justiça, o único meio pelo qual o homem pode viver em paz com conforto e felicidade no mundo.
Conseguir um progresso diário na Maçonaria é um dever que cabe a cada um dos membros desta Sociedade, e isso é algo que está expressamente exigido em nossas leis. Que propósito pode ser mais nobre que a busca da virtude? Qual motivo pode ser mais atraente do que a prática da justiça? Qual instrução pode ser mais benéfica do que uma acurada elucidação dos mistérios simbólicos que proliferam e enfeitam a mente humana? Tudo aquilo que os olhos alcançam, mais rapidamente desperta a atenção e grava na memória aquelas circunstâncias que vêm acompanhadas de sérias verdades. Assim os maçons adotaram, universalmente, o método de inculcar os princípios de sua Ordem por meio de emblemas e alegorias. Essa prática conseguiu evitar que seus mistérios chegassem ao alcance de todo noviço desatento e despreparado, de quem eles poderiam não receber a devida atenção.
Em seu livro “Uma Interpretação de Nossos Símbolos Maçônicos” J. S. M. Ward escreve:
Podemos sair da Loja e, ao apreciarmos a natureza, perceber que tudo que nos cerca é algo que Deus está a nos ensinar por intermédio de símbolos e alegorias. O Sol que se eleva no firmamento não é uma nítida imagem de sua glória? Ele ilustra o seu poder criativo, e, em seu nascente e seu poente está uma alegoria de nossa existência; a vida e a morte e mais ainda, a ressurreição. A semente plantada no solo nos mostra uma mesma mensagem e até o mais humilde dos animais, no campo, pode nos ensinar importantes lições.
Todas as leis da natureza são as Suas leis, e quanto mais às estudamos, mais compreendemos não se tratar de um mero resultado do acaso, mas a prova de um profundo e abrangente Intelecto, ao lado do qual o intelecto do mais sábio dos homens não passa de brincadeira de criança. Seguramente, um dos principais objetivos de nossa vida na terra é o de podermos tentar compreender, embora de forma tênue, o significado de Seus grandes símbolos. Assim, existe um profundo significado na injunção incumbida a cada maçom: “fazer avanços diários no conhecimento maçônico”.
Isso equivale dizer que é o nosso dever estudar e aprender a interpretar o significado de nossos Símbolos e Alegorias, pois assim estaremos mais aptos a interpretar a grande alegoria da Natureza.
Não devemos esquecer que na composição da maçonaria muitas diferentes tradições e linhas de ensinamento se misturaram no decorrer das gerações; e, assim sendo, é possível que um homem exponha uma linha de interpretação, e outro tenha uma visão um pouco diferente. E, é possível que ambos estejam certos e tudo tenha acontecido pelo fato, que um tenha se concentrado num aspecto e o outro num segundo aspecto, sendo ambos verdadeiros.
No entanto há algo que devemos ter sempre em mente ao estudar o significado e a origem de todos os costumes, práticas ritualísticas e símbolos: com o passar do tempo, os homens são capazes de esquecer a verdadeira origem e significado, e passam a inventar novas e ingênuas explicações. Eles criam novas lendas ao redor de antigos costumes e tradições, ou as importam de alguma outra escola de credo. Esse tipo de tendência pode ser observado de muitas formas na Maçonaria.
Mais de um significado está oculto por trás de nossos silenciosos emblemas, e, normalmente, a aparente explicação dada no cerimonial não é nem o significado original, nem o profundo, a ele agregado.
Trechos da obra “Leaves from Georgia Masonary” se refere à questão geral acerca dos simbolismos e da especulação:
O simbolismo é a chave de todos os mistérios, de todas as religiões, modernas e antigas e a todo conhecimento esotérico. Sem uma compreensão do significado dos símbolos, jamais conseguiremos apreciar a beleza da vida, ou entender aquilo que a nossa fé procura nos ensinar. Porém, assim que o conhecimento dos símbolos começa a nos chegar, cada vez mais nos tornamos livres e iniciados.
Palavras são inadequadas para transportar ou transmitir as verdades espirituais, pois todas as palavras têm origem material e, consequentemente, um significado material. A Maçonaria não emprega palavras para transmitir as mais profundas verdades espirituais, ela utiliza símbolos. Geralmente são simples figuras cujos inícios se ocultam no passado místico e cujos primeiros usuários são desconhecidos.
Estude seriamente os símbolos da maçonaria e escave fundo no entulho do Templo para encontrar as grandes verdades ali enterradas, pois os resultados recompensarão essas buscas. Porem, o estudo dos símbolos, sem a aplicação prática na vida, não passará de um mero exercício intelectual, e se você tentar, simplesmente, entendê-lo sem vivenciá-los, o resultado será mais problemas do que proveitos.
Tão logo tenha aprendido o significado de um símbolo, torne-o parte de sua vida, sorva-o como a água da mais pura das fontes, alimente sua alma com ele, faça com que ele seja um dos guias do seu coração. Assim você estará crescendo em conhecimento, enquanto a sua alma se elevará ainda mais, chegando mais próximo das estrelas e da sabedoria divina que eles encerram.
A sabedoria é um crescimento da alma, e esta recompensa não pode ser adquirida senão pelo igual valor em sacrifício. Cada vez que você progride se sentirá depositando no altar dos sacrifícios, algo que representou o trabalho de suas mãos e do seu coração retribuindo assim aos seus irmãos e a humanidade os benefícios que recebeu livre e gratuitamente.
O desígnio da maçonaria é o de tornar o homem mais sábio e melhor, e, consequentemente mais feliz. Ela estabelece em suas instruções simbólicas os princípios da moralidade que têm inspirado as vidas verdadeiramente grandiosas. Aquele que observa e cumpre os preceitos maçônicos, sempre haverá de encontrar dentro de si um certeiro e infalível monitor, no qual poderá sempre confiar.
O estudante que quiser aprender o que são esses princípios deve estar disposto a vivenciá-los. Como já foi dito, a sabedoria é um crescimento da alma. Os princípios morais de nada valem até que se tornem vivos e direcionados, pela pratica, aos mais profundos recônditos da alma.
A sabedoria é inútil a menos que possa ser posta em pratica.
Se você não estiver disposto a vivenciar a sua Maçonaria, não procure conhecer seus sagrados mistérios, pois esse conhecimento traz em si a responsabilidade do uso e da obediência e é impossível esquivar-se dessa responsabilidade.
No entanto a maçonaria não detém o monopólio da verdade, e nem toda a sabedoria dos antigos sábios. Na verdade, nem ela nem qualquer outra organização podem avocar para si o monopólio dessas qualidades. Esta sabedoria e as grandes verdades da vida estão encerradas dentro de nós e o que precisamos é despertá-las. Em cada homem essas verdades estão ocultas em seu coração, de forma que, ao se deparar com uma delas, ele não se surpreende, pois parece identificar um antigo e familiar conhecimento.
No entanto, as pessoas não conseguem enxergar essas verdades quando levam suas vidas sob falsos padrões ou quando obscurecem o seu julgamento por meio de erros ou vícios.
Essas verdades estão encobertas nas alegorias do mundo, e até mesmo nos contos de fadas que contamos às crianças. Porem as pessoas não consegue ouvir o significado espiritual, tão simples ao conhecedor, até que seus ouvidos estejam sintonizados à harmonia do espiritual.
Esses segredos de inestimável valor estão claramente estampados no Livro da Natureza, aquela prodigiosa Obra produzida e escrita pelo Próprio Grande Criador, mas que somente os homens de valor têm a capacidade de decifrar e entender as palavras.
Um TFA a todos os meus IIr.’.
* Francisco de Assis de Góis
A .’. R.’. L.’. S.’. Cavaleiros da Sublime Verdade nº 3526
Extraído de: O Simbolismo na Maçonaria – Colin Dyer.