ÉTICA, ESCÂNDALO E AUTOCRÍTICA

 

O escândalo acontece enquanto os homens não alinham o passo com a ética e autocrítica. 

 

Conceituação – Ética é a virtude, que por definição é um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas. Signiica a ciência da moral individual e social. E a arte de criar um caráter moral, de contrair hábitos de que resulte, naturalmente, um porte conforme as leis do dever. A ética pode ser definida como a disciplina crítico-normativa que estuda as normas do comportamento humano, mediante as quais tende o homem a realizar na prática o valor do bom. E preciso aprender amar, amadurecer e crescer, na medida em que procuramos forças para sair de nós mesmos, pelo empenho e dedicação na reforma íntima. Não se confunde com o direito, com a religião, nem com a arte, cujos valores a realizar são diversos. 

 

Ética na sociedade atual – Na sociedade que se vive atualmente, as pessoas encontram dificuldade em aprender a viver, a amar e perdoar. E nessa convivência que se observam as nuances da falta de sinceridade que leva à desconfiança e o esfriamento nas relações pessoais. 

 

A Ética hoje está totalmente abandonada na maioria dos setores da sociedade, sendo vista em algumas organizações de classe, mais como um código de honra. 

 

No mundo contemporâneo, não há espaço, nem tempo para discussões filosóficas. A moral do cidadão foi inteiramente substituída pelo seu sucesso financeiro. Uma gorda conta bancária representa o melhor atestado que um homem pode apresentar. A Sociedade atual, que é uma sociedade de consumo, é lamentavelmente uma sociedade aética. E é essa sociedade que fornece as Pedras Brutas que irão formar a catedral maçônica. Estas pedras hoje disponíveis são de matéria-prima de excelente qualidade, mas com ângulos e arestas, formados por "sucessos” exteriorizados por bens e posses. 

 

Ética maçônica – No contexto maçônico destacam-se as seguintes virtudes: 

Tolerância, Ética, Justiça e Liderança. 

 

Maçonaria é uma instituição fundamentalmente ética, onde a reflexão filosófica sobre a moralidade, regras, códigos morais que orientam a conduta humana são tópicos essenciais para elaboração de um sistema de valores, impondo ao Maçom um comportamento ético e exigindo-lhe que mantenha sempre uma postura compatível como um homem de bem. 

 

A Maçonaria admite a Ética como uma disciplina crítico-normativa quando estuda as “Normas de Comportamento” dos seus obreiros, nos quais orienta estes na prática do bem, ainda que haja ressentimento, nota-se também um claro anseio pelo resgate do amor fraterno. A Maçonaria caracteriza a Ética como uma ação que sintetiza e explica o conjunto de normas individuais, cujo conteúdo é a moralidade positiva, como símbolos e fatos que se transformam em valores; entende e compreende a Ética e a interlaça nos ritos. 

 

Escândalo 

 

O escândalo, representando na visão maçônica qualquer desvio à ordem, deve acontecer enquanto homens não aceitam a conduta moral e ética esperada daqueles pretendentes a alcançar a tranquilidade de consciência. Quando o escândalo se materializa, surge para o autor, enquanto consciente de seu desvio, um turbilhão de sentimentos: vergonha, descrédito em si mesmo, humilhação, incertezas atrozes, remorso, angústia, depressão, solidão, entre outros passando a atormentar o infrator. A vida do transgressor passa então a ser um desenrolar de dúvidas e questionamentos, no sentido de tentar esclarecer ou entender por que causas ou motivos chegou à quele desfecho. Passa, então, a viver como se estive dentro de um pesadelo interminável, nas profundezas de um mar sem fim. Observemos a natureza: ela expressa em suas diversas fases do ano algo semelhante ao que acontece rotineiramente em nossas vidas, ou seja, há o verão, o outono, o inverno e finalmente a primavera. Normalmente o inverno não é muito apreciado, pois o frio intenso provoca desconforto e representa, fazendo um paralelo nesta análise, o perı́odo no qual vivemos as indefinições provocadas pelo escândalo cometido. No inverno tudo fica cinzento, as muitas situações se colorem de tons sem vivacidade, tudo permanece sem graça, as árvores se despem de suas folhas e flores multicoloridas. 

 

O mesmo se passa entre os transgressores da Ordem. Dependendo da falta cometida e da forma como enfrentam a situação, cogitam mesmo em abrir a traiçoeira e condenada porta da agressão física e, quando assim procedem, se arrependem amargamente mais à frente, suportando admoestações severas, em resposta ao ato mais grave que um Irmão pode cometer contra o seu Irmão. 

 

O escândalo, quando chega, abre a caixa de Pandora, liberando todos os males do mundo passíveis de alcançar o violador da lei. A Maçonaria, como em qualquer situação, possui orientações seguras e precisas nestes casos, e não poderia ser diferente, dadas as favoráveis condições ainda vigentes neste mundo viabilizando a ocorrência de desacertos morais, em suas muitas modalidades, ela recomenda:

 

1. Colocar mãos no serviço de preferência em direção aos menos felizes;

2. Colaborar na edificação do bem e da verdade, em favor de si mesmo;
3. Dedicar-se aos estudos e meditações recordando e fortalecendo o entendimento fraterno; 

4. Servir, sem questionar, à queles que se apresentarem necessitados;

5. Não se afastar da Loja Maçônica onde milita e frequenta, pois sozinho pode não encontrar forças renovadoras; 

6. Buscar o atendimento fraterno para repensar, ponderar, conversar sobre a situação;

7. Refazer o passo e buscar o equilı́brio pelo pensamento;

8. O sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal-entendidos, desconfianças e hostilidade;

9. As feridas que aı́ se lhes abrem, passe a considerá-las simples arranhaduras;

10. Orar e pedir forças novas ao Grande Arquiteto do Universo.

 

Estas são medidas simples e estão todas ao nosso alcance, podendo auxiliar na retomada da caminhada, pois 

desertar nunca será a melhor opção. Martirizar-se, igualmente não resolverá, só agravará a situação, deixando o infrator mais exposto aos rigores do “inverno”. 

 

Desta forma, se o escândalo alcançar nossa particular jornada, seja de que monta for, elevemos o nosso pensamento ao Criador dos Mundos, solicitando sinceramente o perdão, e prossigamos decididos, agora mais sábios diante da experiência vivenciada, certos de que Deus não pune seus filhos eternamente, pelo contrário, é o Seu desejo que nos libertemos de nossas limitações e marchemos rumo à perfeição, nossa meta essencial a alcançar, hoje ou amanhã. Não deixemos nos envolver pelo frio inverno da incerteza e da tristeza, a primavera sempre retornará, colorindo de flores mais uma vez os caminhos de nossa existência, nos convocando a seguir em frente, resolutos, agora e sempre. 

 

Autocrítica - Imperioso modificar a própria conceituação, em torno do adversário, a fim de que se apague da mente, em definitivo, o fogo da aversão. Isso porque o ofensor pode ser alguém: 

 

  • que age compelido pelo seu lado fraco, que se encontra inabilitado a agir corretamente; 
  • que experimenta deploráveis enganos e se acomoda na insensatez; 
  • que não pode enxergar a vida, no ângulo que você a observa; E que nenhum de nós encontre motivos para reportar-lhe o desajuste, porquanto nós todos ainda suscetíveis de incorrer em falhas lamentáveis, como sejam: 
  • cair sob obediência à criatura a quem devemos obediência, carentes de equilı́brio; 
  • Iludir-nos, a nosso próprio respeito, quando não praticamos o regime salutar da autocrítica; 
  • entrar em calamitoso desequilı́brio, por efeito de capricho momentâneo; 
  • assumir atitudes menos felizes, por deficiência de evolução, à frente de Irmãos; 

 

Conclusão - Reflitamos na absoluta impropriedade de qualquer ressentimento e recordemos a advertência do Mestre-Maior, quando nos recomendou a oração pelos que nos perseguem. O Mestre dos Mestres, na essência, não nos impele tão-só a beneficiar os que nos firam, mas, a proteger a egrégora do grupo em que fomos chamados a atuar e servir, imunizando os Irmãos, relativamente ao contágio da mágoa, e frustrando a epidemia da queixa, sustentando a tranquilidade dos outros, tanto no amparo a eles quanto a nós. Os que não mudam de opinião de opinião não são capazes de mudar coisa alguma. Em síntese, para sermos desculpados é preciso desculpar.

 

P.S. “Deus não dá prova superior às forças daquele que a pede; só permite as que podem ser cumpridas”. – Santo Agostinho. 

As provas rudes são quase sempre indício de um fim de sofrimento. Obediência, resignação, esperança, paciência, são elementos com as quais encontramos a incógnita desejada: a perfeição relativa! 

 

Valdemar Sansão

valdemar.sansao@gmail.com

 

Fonte: Jornal do Aprendiz Nº 122