Ética - precisamos resgatá-la

Vivemos em tempos de revisão de valores, em que muitos paradigmas estão sendo quebrados em função de novos comportamentos e de novas descobertas. 

 

Na Medicina, o avanço científico é tamanho que, ou vivemos nos atualizando ou deixaremos de prestar um atendimento de qualidade, por falta de conhecimento. Mas há um ponto em nosso exercício profissional que está mudando, e para pior: a importância que devemos dar à ética em nosso dia a dia. 

 

Há quase 2.500 anos, ao se tornar o “Pai da Medicina Ocidental”, Hipócrates já nos dava as linhas gerais dos nossos preceitos éticos. Quando nos formamos e fazemos o seu juramento, 

comprometemo-nos com o exercício profissional regido pelo Código de Ética Médica, já que um é reflexo do outro. Mas a modernidade vem corrompendo alguns pontos, e um dos mais afetados, e que compromete profundamente a nossa conduta, é o que diz respeito ao sigilo médico em relação ao paciente. 

 

“Aquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto”. São com essas palavras que, durante o juramento de Hipócrates, todo médico se compromete a manter sigilo sobre o que toma conhecimento na relação com seus pacientes, o que garante a estes a total confiança a quem o está assistindo, sem correr o risco de ser posto em alguma situação de constrangimento, pela revelação indevida de algo que esteja acontecendo com sua saúde. Esse preceito está bem explícito no capítulo nove do Código de Ética Médica, que deveria ser uma matéria no curso de Medicina tão importante quanto as outras. 

 

Só que a cadeira de Deontologia (parte da Medicina Legal que se ocupa das normas éticas a que o médico está sujeito no exercício da profissão, abrangendo a responsabilidade profissional nas esferas penal, civil, ética e administrativa. 

 

Inclui a Bioética e seus princípios - Hercules, 2008) tem, cada vez menos, o interesse dos alunos, estes cada vez mais voltados para as questões práticas e imediatas, sem paciência para questões filosóficas, que levem o pensamento para uma outra percepção da realidade. O resultado disso é uma quebra irresponsável de uma tradição que, mais do que ser mantida, é essencial para a prática médica em toda a sua complexidade. 

 

Os imediatismos e a pouca reflexão da realidade nos levam a uma mudança de comportamento arraigada às novas gerações que, muitas vezes, compromete o cumprimento da ética. 

 

Estou falando das mídias eletrônicas e suas redes sociais, em que informações são repassadas em um clique e de forma leviana – não foram raros, nos últimos meses, os casos de exposição de dados sigilosos de pacientes na comunicação entre amigos de um mesmo grupo virtual, pondo às claras a grave crise por que a prática médica passa. 

 

No exercício de nossa profissão, estamos, antes de mais nada, comprometidos com a saúde de nossos pacientes. É por eles que estudamos horas a fio, dedicamo-nos em consultas e atendimentos e, sempre, buscamos a melhor decisão para deixá-los em uma situação melhor do que quando nos procuraram. 

 

Expô-los em redes sociais ou em qualquer outro meio é quebrar a confiança que todos deveriam ter no médico. 

 

É deixá-los desconfortáveis e vulneráveis em uma relação, que deve ser segura e tranquila para os dois lados. 

 

É antiético, e quem perde com isso tudo é a Medicina e a Saúde do país. 

 

Dr. Roberto Lotfi Jr.

*O autor é Maçom e Conselheiro do CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

 

Fonte: Amem Notícias nº 03 - Ano I - Set/17