Fazendo a diferença

 

 

A história, a lógica, a matemática, a física e todas as outras ciências dizem a mesmíssima coisa:

 

Um simples gesto seu pode ser a gota d’água.

 

Mergulhei de cabeça no tema e cheguei à conclusão que ações individuais contam sim, e muito, apesar da confortável observação de que “uma andorinha sozinha não faz verão”, que é irmã de outra, a “de nada adianta eu fazer minha parte se ninguém colabora”. Ou, ainda, “ninguém vai notar se eu cometer esta pequena infração” (versão luxuosa do “esconder a sujeira embaixo do tapete”).

 

Creio que encontrei pelo menos dois motivos para justificar minha conclusão. Vamos ao primeiro.

 

São as ações individuais que desencadeiam as ações coletivas, que se transformam em comportamento generalizado.

 

Sabemos que a humanidade vive em permanente estado de mudança. Comportamentos, valores, tecnologias, ética e moral, tudo que está relacionado com a vida do homem em sociedade tende a mudar em uma velocidade cada vez maior. O século XXI é o século de toda a História em que mais mudanças ocorreram. E é nesse ponto que surge uma pergunta interessante: quem muda primeiro, o indivíduo ou a coletividade?

 

Se aceitarmos que o coletivo muda antes, explicamos facilmente as mudanças de comportamento de cada um de nós.

 

Podemos dizer que o ser humano não gosta de ser diferente, em função do desconforto que isso provoca. Assim, tendemos a acompanhar a mudança do geral e, portanto, a mudança do individual deve-se à mudança do coletivo.

 

Mas, e a mudança do coletivo, deve-se a quê?

 

Não conseguimos explicar como é que o coletivo muda sem aceitar que haja um indivíduo para iniciar o processo. Ora, alguém, em algum instante, dá o pontapé inicial. Toda mudança do coletivo nasce de uma ação individual, que é absorvida pelo conjunto sem ser percebida – a não ser em poucas exceções. É por isso que ações individuais contam. Porque podem se transformar em ações coletivas.

 

Mas, para que isso aconteça há pelo menos três pressupostos: a coragem, a persistência e a relevância.

 

Coragem porque o Homem, por princípio biológico, é um ser resistente a mudanças.

 

Nosso instinto é o de resistir a toda atividade que consuma energia – até caminhar, se fosse possível.

 

Mudar um comportamento exige, sim, uma dose considerável de coragem, pois quem muda está indo contra uma condição estável. Mudanças incomodam, pois exigem esforço pessoal de desacomodação.

 

Persistência porque as mudanças comportamentais não ocorrem de uma hora para outra. São incutidas através da repetição do estímulo. Você não assume um modismo como comportamento, a não ser que o mesmo seja persistente, quando então deixa de ser apenas modismo.

 

Relevância porque a coragem e a persistência serão toleradas e aceitas se o que se está propondo faça sentido, seja ético e moral.

 

Propostas irrelevantes são as ilógicas ou as injustas, e só podem ser impostas pela força – como, aliás, aconteceu e continua acontecendo nos regimes totalitários de países, empresas, escolas ou famílias.

 

Só que nestes casos o costume não persiste por muito tempo: ele acaba sendo substituído pelo estímulo de um membro da coletividade, alguém dotado de coragem, persistência e relevância.

 

Usando o mais simples dos exemplos, se você vive em um lugar onde as pessoas cultivam o hábito de jogar pequenos lixos na rua, como papéis de bala e tocos de cigarro, você tem duas opções: entra no jogo do geral ou assume uma atitude individual de não sujar a rua.

 

Se você opta pela segunda, conseguirá, de acordo com as estatísticas, contaminar pelo menos uma pessoa. E a partir de então, serão duas a contaminar as demais e assim sucessivamente, até mudar o comportamento do grupo inteiro ou de sua maioria. Nesse caso, estiveram presentes a coragem de fazer diferente, a persistência para resistir à tendência, à acomodação coletiva e a relevância, pois é óbvio que a higiene é um comportamento louvável.

 

Se a situação fosse invertida (você com o hábito de jogar lixo em um ambiente limpo), não conseguiria se impor: a coragem e a persistência não venceriam sem a relevância.

 

Cada um tem em suas mãos a chance de fazer a diferença, reflita.

 

Eugenio Mussak

 

Fundador na Quarto Grau Educação Continuada Ltda

Fonte: https://www.linkedin.com/