História da Maçonaria Mineira

 

Esta pergunta é feita diariamente por milhares de pessoas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, quer sejam maçom, ou não. Na verdade pouco se sabe sobre a origem da maçonaria que se perde na origem da história ocidental. O grande marco conhecido, que formatou a maçonaria como ela é hoje, foi o humanismo Francês. Nos primórdios da humanidade o conhecimento era restrito a grupos de pessoas que dominavam as artes, as técnicas construtivas, a escrita, as leis humanas e divinas. Estas pessoas, com o intuito de aprimorar e compartilhar seus conhecimentos se agruparam em torno de corporações voltadas para a arte da construção. Aliás o termo maçom é uma palavra que significa pedreiro. Na antiguidade os maçons foram os construtores do mundo. A partir do iluminismo Francês e em contra ponto ao obscurantismo da idade média, com o objetivo de manter vivo e efervescente o conhecimento, os filósofos e pensadores se aproveitaram das corporações de construtores para criar o que denominaram de maçonaria especulativa. Seriam os construtores não mais de obras, mas sim do homem e, por conseguinte da humanidade.

No Brasil a história da maçonaria se confunde com a própria história do país. Ao defender e difundir os conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade a maçonaria plantou nos Brasileiros e nos povos da América conceitos de democracia e da coisa pública definidos na antiga civilização Grega. Estes conceitos criaram as repúblicas ocidentais, os sistemas econômicos, a teoria evolucionista, a filosofia cartesiana, a democracia, enfim as bases estruturais da cultura e do desenvolvimento ocidental. Por indução da maçonaria e iniciativa de maçons, ocorreram a inconfidência mineira, a independência, a revolução farroupilha, a lei do ventre livre, a libertação dos escravos e a criação da república. Foram maçons, Álvares Maciel, Padre Feijó, José Bonifácio de Andrada, Dom Pedro I, Duque de Caxias, Bento Gonçalves, Garibaldi, Barão de Mauá, Marechal Deodoro, Gonçalves Ledo, Joaquim Nabuco, frei Caneca, Quintino Bocaiúva, dentre tantos outros.

Em uma maneira simplista podemos dizer que a maçonaria é um país dentro de outro país. Um país onde não há analfabetos, não há fome e onde se cultua a liberdade de expressão, o livre arbítrio, o conhecimento, a fraternidade e a igualdade de todos perante a lei. Um país que busca constantemente a verdade na sua forma direta e objetiva, sem paixões políticas, religiosas ou pré-concebidas. É à busca do homem em si mesmo. O grande segredo da maçonaria não existe e, pela lógica cartesiana, não há como divulgá-lo. Ao nos irmanamos em busca da verdade e da liberdade temos como ponto de partida o conhecimento de nós mesmos e obviamente, este conhecimento próprio é restrito ao indivíduo. Existe um antiquíssimo mito no Nilo em que Osíris, que representa a vida universal, morre e sua irmã Lis o faz engolir o olho do gavião e, mal o olho penetra no cadáver, Osíris renasce porque nele entra a visão. Viver é, antes de nada, ver-se a si mesmo. Em síntese ninguém, a não ser nós mesmos e o criador nos conhece. Para se ter uma noção de nossos princípios, Péricles em 431 anos antes de Cristo disse:
"Somos amantes da beleza sem extravagâncias e amantes da filosofia sem indolência. Usamos a riqueza mais como uma oportunidade para agir que como motivo de vanglória; entre nós não há vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não fazer o possível para evitá-la. Ver-se-á em uma pessoa ao mesmo tempo o interesse em atividades públicas e privadas, e em outros entre nós que dão atenção principalmente aos negócios não se verá falta de discernimento em assuntos políticos, pois olhamos o homem alheio as atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios interesses, mas como um inútil;  decidimos as questões públicas por nós mesmos, ou pelos menos nos esforçamos por compreendê-las claramente, na crença de que não é o debate que é empecilho á ação, e sim o fato de não estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação. Consideramo-nos ainda superiores aos outros homens em outro ponto: somos ousados para agir, mas ao mesmo tempo gostamos de refletir sobre os riscos que pretendemos correr; para outros homens, ao contrário, ousadia significa ignorância e reflexão traz a hesitação. Deveriam ser justamente considerados mais corajosos aqueles que, percebendo claramente tanto os sofrimentos quanto ás satisfações inerentes a uma ação, nem por isso recuam diante do perigo. Mais ainda em nobreza de espírito contrastamos com a maioria, pois não é por receber favores, mas por fazê-los, que adquirimos amigos. Enfim, somente nos ajudamos aos outros sem temer as consequências, não por mero cálculo de vantagens que obteríamos, mas pela confiança inerente à liberdade".

Neste sentido a maçonaria sempre constante e presente na luta para fortalecer o conhecimento individual de tal sorte que ele produza um conhecimento e uma mobilização coletiva, tem estado presente em todos os rincões do país e do mundo fazendo prevalecer a máxima do homem como símbolo de pensamento e bem estar, como obra do Grande Arquiteto do Universo.

Hoje continuamos reféns das encruzilhadas da vida que nos fazem prisioneiros do nosso próprio desenvolvimento, pois, crescemos nos descuidando dos conceitos de justiça social, de liberdade e de igualdade de oportunidades. Como disse Marx, na célebre Carta ao Povo: "O domínio do homem sobre a natureza é cada vez maior; mas, ao mesmo tempo, o homem se transforma em escravo de outros homens ou de sua própria infâmia. Até a pura luz da ciência parece só poder brilhar sobre o fundo da tenebrosa ignorância. Todos os nossos inventos e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças materiais, enquanto reduzem o ser humano ao nível de uma força material bruta".

Se o comunismo não prosperou por não criar um mecanismo eficiente de produção de riquezas, o capitalismo encontra-se em xeque por não conseguir criar um eficiente mecanismo de distribuição das riquezas produzidas. É perversa a nossa posição de bem sucedidos em contraponto dos milhares de marginalizados. Chega a ser uma afronta à nossa inteligência e é absolutamente irracional.

Neste sentido começamos a perceber que isto não conduzirá a humanidade a um bom lugar. O nosso desafio se consiste em inserirmos todos nas riquezas que as tecnologias eficientemente conseguem produzir. Hoje já podemos dizer que temos tecnologia para produzir de modo sustentável riquezas suficientes para saciar todos. O que nos falta é entendermos que nisto se apoiará á paz, a harmonia e a felicidade tão necessárias aos indivíduos, quanto imprescindíveis para a humanidade.

Neste momento histórico está sendo lançada a Ação Maçônica Internacional aqui, em Belo Horizonte e, pela primeira vez o Grande Oriente do Brasil transfere o Poder Central da Maçonaria Gobiana para, irmanado com as Grandes Lojas Maçônicas e o Conselho Maçônico Brasileiro, discutirem uma proposta, e uma ação da maçonaria no intuito de formar uma nova e necessária consciência dos ricos em relação aos pobres, quer como países, quer como indivíduos.

Temos a convicção de que não se trata apenas de um problema dos governantes mas sim de um problema daqueles que detêm o conhecimento e as fórmulas econômicas e tecnológicas para aplicá-lo e distribuí-lo a todo o planeta. Em suma é um problema de toda a sociedade organizada, é um problema nosso.

Hoje já podemos, dentro do seio da maçonaria, falar em organização da sociedade civil de interesse público, em parcerias público-privadas, em organizações não governamentais como uma clara vontade dos cidadãos em auxiliar o estado numa tarefa que transpõe suas fronteiras e sua capacidade administrativa.

Se nós maçons, privilegiados que somos, nos furtarmos a tal empreitada, com certeza estaríamos traindo nossos princípios basilares. 

* Eduardo Teixeira de Rezende
Grão Mestre adjunto do Grande Oriente do Brasil - Minas Gerais.