Homem Luz.

 

Todos nós temos um trabalho pessoal que consiste em usar nossas habilidades, qualidades, sensações e emoções que são definitivamente nossas ferramentas. Somos “Homens de Luz” potencialmente, para ir criando através de nosso trabalho e exemplo uma Sociedade Fraternal.

Existe uma sabedoria humana básica ancestral que pode nos ajudar a resolver nossos problemas. Esta sabedoria não é própria de nenhuma cultura ou religião determinada, é mais do que uma soma de muitas culturas e muitos momentos no transcurso da História.

“Homens de Luz” ou pessoa valente tem se manifestado no decorrer da História, por exemplo o ideal de “Samurai” representava igualmente uma tradição de sabedoria ou pessoa valorosa. O rei Artur é um exemplo legendário na tradição ocidental depois dos grandes reis bíblicos como o rei Davi, são exemplos de Homens de Luz da tradição judeu-cristã. Em nosso planeta houve muitos exemplos deste espírito.

A chave do caminho do Homem da Luz é não ter medo de ser quem somos definitivamente é a definição da valentia: não se ter medo de si mesmo. Esta visão é o posto ao egoísmo.

Devemos tratar de ver como podemos ajudar. Isto não significa de nenhuma maneira abandonar nossa caminhada mais próxima, se pode começar pela família e os amigos e as pessoas que nos rodeiam. Além do mais, começar por nós mesmos. O importante é dar-se conta de que jamais se deixa de estar a serviço.

Descobrir a bondade fundamental não é uma experiência particularmente religiosa, mas, sobretudo a compreensão de que podemos experimentar diretamente a realidade e trabalhar com ela.

Experimentar a bondade fundamental em nossa vida nos faz sentir que somos pessoas inteligentes e retas e que o mundo não é uma ameaça. O potencial humano de inteligência e dignidade harmoniza com a vivência do brilho de um radiante céu azul, do frescor dos campos na primavera e a beleza das árvores e das montanhas. Temos um vínculo afetivo com a realidade que é capaz: de despertarmos e fazermos sentir que somos básicos e fundamentalmente bons.

A visão do Homem de Luz é conectar-se com sua capacidade de despertar e reconhecer que essa bondade é algo que pode nos acontecer e mais ainda, que é algo que já está acontecendo. Como seres humanos, estamos basicamente despertos e podemos entender a realidade. Não estamos escravizados por nossas vidas; somos livres. Ser livre neste caso significa simplesmente que temos um corpo e uma mente e que podemos elevar e inspirar com o fim de trabalhar na realidade com dignidade e humor. Se começamos a cobrar ânimos encontraremos que o universo inteiro e a Natureza também cooperam poderosamente conosco.

Se servirmos ao mundo, apesar de nosso esforço podemos ajudar a construir uma sociedade fraternal. Em vez de apresentar alguma fantasia utópica referente ao que poderia ser para nós a sociedade, temos que empreender a viagem até nós mesmos. Não podemos limitar simplesmente a especular ou teorizar sobre nosso destino. A cada um de nós individualmente nos corresponde buscar o sentido de nossa vida.

A bondade fundamentalmente é boa porque é incondicional, e está aí, sempre, da mesma maneira que o céu e a terra estiveram sempre aí.  É a situação natural que temos herdado desde o nosso nascimento.

A majestade de conectar com nós mesmos como um rei sentado em seu trono, nos revela a dignidade que se dá quando permanecemos tranquilos em estado de simplicidade. Chegar a sentir ternura para conosco mesmos nos permite ver com precisão tanto nossos problemas como nossas potencialidades. Temos que aceitar nossa responsabilidade pessoal pela edificação de nossa vida.

A prática da meditação consiste simplesmente em treina nosso estado de ser para que mente e corpo possam estar sincronizados. O exercício da meditação nos ajuda a aprender a atuar sem erro nem falha, a ser totalmente autênticos e a estar totalmente vivos.

O medo e a intrepidez.

Reconhecer o medo não é causa de depressão nem de desânimo. Porque possuímos o medo, também potencialmente temos direito à vivência da intrepidez. A verdadeira intrepidez não consiste em reduzir o medo, mas em transcendê-lo.

Começamos a transcender o medo quando o examinamos: nervosismo, angústia, preocupação, etc. Se aprofundarmos, o primeiro que encontramos por debaixo do nervosismo é tristeza. Quando nos relaxamos e aceitamos nosso medo, nos encontramos com a tristeza que é tranquila e doce. A tristeza nos fere no coração e o corpo responde com uma lágrima. Quando nossos olhos estão a ponto de cair em lágrima ou em choro, nos sentimos tristes e sós. É o primeiro surgimento da intrepidez e o primeiro sinal de um autêntico espírito de Homem de Luz. Quando a sensibilidade evoluciona nesta direção, se pode verdadeiramente apreciar o mundo que o rodeia.

Se for tão sensível e está tão aberto que não pode deixar de perceber o que sucede a seu lado. Não ter dúvidas é confiar no coração, confiar em si mesmo. Quando a mente e o corpo estão sincronizados, não se lhe restam dúvidas. Este processo tem duas etapas, às que poderíamos chamar o olhar e o ver. Também poderíamos falar do escutar e ouvir, ou de tocar e logo sentir. Não podemos não olhar; é nosso mundo, é nossa festa. Todos sabem como é sentir diretamente as coisas.

A emoção intensa, a paixão, o apaixonar não tem linguagem: o primeiro lampejo é demasiado intenso. Em troca sentimos que podemos relaxar e perceber tranquilamente, nossa visão pode se expandir, podemos ver no ato de uma maneira desperta, somos capazes de reacionar de maneira certeira e direta, podemos ser absolutamente precisos. Este descobrimento é o primeiro sintoma do que chamamos o despertar do Sol. Este Sol é um sol nascente, mais que um sol poente, de maneira que representa o despertar humano. A sincronização da mente e corpo traz consigo este despertar. O caminho do Sol se baseia na visão de que neste mundo há uma fonte natural de resplendor e brilho, que se concretiza na celebração da vida e no desfrutar dos acontecimentos. Trata-se de enfocar e ver a vida como um processo natural, de se harmonizar com a ordem espontânea que existe no mundo.

O contrário da Luz é a escuridão, alguém às vezes prefere se esconder em suas cavernas e selvas pessoais. Se alguém se dá conta de que está se escondendo na escuridão, quisera acender todas as luzes possíveis. Na realidade não está acendendo as luzes, mas simplesmente abrindo mais os olhos, buscando sem cessar a luz mais brilhante. No entanto, é necessário recordar a escuridão para ver o contraste com o lugar de onde se provém.

O Homem de Luz tem forçosamente que se sentir só e triste em algum momento, por isso é sensível em todos os aspectos. Graças a esta sensibilidade pode persistir no cultivo de nossa disciplina e começar a aprender o que significa a renúncia.

O Homem de Luz renuncia a todo aspecto de sua experiência que constitua uma barreira entre ele e os demais.

O Homem de Luz deve ser ousado para superar seu egoísmo. Uma pessoa egoísta é como uma tartaruga, que para onde vai, leva sua casa nas costas. Em algum momento temos que deixar nossa casa e ir ao encontro de um mundo mais amplo. É o requisito prévio e absoluto para que alguém lhe importe aos demais.

O caminho do Homem de Luz é uma viagem contínua, uma senda ou fio que cuida para toda a vida. É aprender a ser autêntico em cada momento e viver com disciplina, mantendo sempre sua lealdade até os seres que se acham presos no mundo da escuridão, gerando calor humano e alegria para eles. A consciência meditativa que é um aspecto da disciplina, o permite ao Homem de Luz ocupar adequadamente seu lugar. Ensina-lhe como tem de recuperar o equilíbrio quando o perde, e como tem de usar as mensagens do mundo fenomenal para avançar em sua disciplina. A partir do eco da consciência meditativa vai crescendo uma sensação de equilíbrio e se vai se estalando um sentimento de estar permanentemente enraizado, sentindo-se assentado solidamente na terra.

Quando alguém assume adequadamente seu lugar sobre a terra, não necessita testemunhas que lhe confirmem sua validade. Chegado a este ponto, começa alguém a vivenciar a noção fundamental de intrepidez. Está disposto a estar alerta em qualquer situação que possa apresentar-se, e tenha o sentimento de que possa assumir totalmente a direção de sua vida, porque não está do lado do êxito nem do fracasso. O êxito e o fracasso são sua viagem.

Haverá, às vezes, na viagem, em que alguém está tão petrificado que vibraria inteiro na cadeira, com dentes, mãos e pés. Apenas se manteria em sua montaria: estará quase levitando de medo. Mas, inclusive a isto se o considera uma expressão de intrepidez, se alguém tem uma conexão fundamental com a terra firme de sua bondade primordial.

Quando a disciplina começa a ser natural, a ser parte de alguém, é muito importante aprender a soltar. Soltar é vencer completamente a ideia de que a disciplina é um castigo por um erro ou uma má ação que se tenha cometido ou que alguém quisera cometer. Haverá de vencer completamente a sensação de que tem algo fundamentalmente mau em nossa natureza humana e de que, como consequência, necessitamos disciplinarmos para corrigir nosso comportamento. Soltar, tampouco, tem que a ver com passar bem à custa do próximo.

Evidentemente o saltar é algo mais que um simples relaxamento. É um estado que provém de estar em harmonia com o meio, com o mundo. Soltar não tem nada que ver com afastar-se das restrições da vida diária; ao contrário. É se compenetrar mais com sua própria vida, porque alguém entende que, tal como é, sua vida contém os meios para se levantar incondicionalmente o ânimo e se curar da depressão e da dúvida.

Chegado a este ponto, o Homem de Luz é possuidor da elegância natural já que quando comunica, a sinceridade é sua melhor ferramenta. Dizer a verdade não significa que alguém tenha que contar seus segredos mais íntimos ou revelar tudo aquilo do qual se envergonha. Alguém não tem nada do que envergonhar-se. Essa é a base para dizer a verdade. Dizer a verdade se relaciona também com a afabilidade. O Homem de Luz é afável no falar. Uma linguagem afável expressa dignidade, o mesmo que o bom porte de cabeça e ombros.

Para terminar, no Homem de Luz se instala a confiança incondicional, resplendor radiante, é a energia pura. Este tipo de confiança inclui a tenacidade e a alegria, porque confiar no coração nos permite ter mais sentido de humor. Esta confiança pode se manifestar com majestade, elegância e riqueza na vida de uma pessoa para uso, desfrute e regozijo próprio e dos demais.

No meu entender, a Maçonaria em nossos dias representa a construção de uma verdadeira sociedade fraternal. A partir de polir nossas próprias pedras e com nossa ferramentas, vamos nos convertendo em verdadeiros homens portadores de Luz.

O Mestre Secreto representa um elo mais na viagem à Luz.

Também devo dizer que tem muitos e verdadeiros Homens de Luz que estão trabalhando eficazmente e em silêncio e que não pertencem a uma Fraternidade maçônica, mas que são verdadeiros Homens de Luz.

Jordi Casellas.