Interpretação dos Símbolos

Caro Irmão, não compete a mim, oferecer a minha interpretação dos símbolos, a não ser como um roteiro, para você encontre a sua interpretação, única que pode ser válida para você, porque experiência não se transfere. 

Um símbolo sugere variedade de interpretação e evolui, no tempo e no espaço. Esta capacidade do símbolo, contém em si uma alta lição de Maçonismo. Ela nos mostra que o maçom deve afastar-se das radicalizações. 

O símbolo deve constuir um meio de união. Não nos cabe zangar, porque nosso irmão decifra um símbolo e encontra solução diferente da nossa. Ao contrário, devemos humildemente examinar se ele não está com a razão. 

Quando nos empenhamos na decifração de um símbolo, nosso trabalho aguça nossa sensibilidade, fecunda nossos pensamentos, sugere nossas ideias, que afinal, podem até vir a parecer-nos estranha, quando afloram ao nosso consciente, porque elas estavam no cerne de nossa psique, mas nós não as percebemos. 

Em nossas Lojas, os símbolos estão à vista de todos. Para fazer um bom curso maçônico, devemos, em cada grau da Iniciação, assimilar, apenas a mensagem dos símbolos correspondente ao nosso grau. Não nos precipitemos. 

O Ritual aponta o caminho, as suas instruções dão o impulso inicial, mas a marcha nós é que a devemos realizar. O processo de decifração exige o reconhecimento do símbolo, a meditação e a interpretação de acordo com as regras e a prática de nosso Ocio, a fim de evitar equívocos. 

O primeiro passo será o reconhecimento. Devemos cerficar-nos de que realmente trata-se de um símbolo e que não estamos diante de um instrumento de arquiteto, de uma ferramenta de pedreiro, de uma figura geométrica, de uma alfaia da Loja, de um emblema, ou de uma alegoria, ou de um simples sinal convencional, ou de um toque, ou de uma palavra de passe, ou de uma palavra sagrada. Se virmos um compasso e um esquadro, na mesa de desenhista, na prancheta de um arquiteto ou de um engenheiro, na oficina de um marceneiro, ou na obra de um canteiro é claro que não estamos diante de um símbolo e sim diante de dois instrumentos de trabalho desses profissionais. 

Agora, se virmos um esquadro e um compasso sobre o altar de um Loja Maçônica, é também claro que estamos diante de um símbolo e mais: o significado desse símbolo variará segundo as pontas do compasso estejam por baixo do esquadro, uma ponta por baixo e a outra por cima, ou as duas pontas por cima do esquadro. 

No primeiro caso não são símbolos, porque possuem a capacidade de evocar e representarem um conteúdo abstrato. Da mesma forma, se associamos o compasso e o esquadro e dele fazemos um adorno para lapela de nosso paletó, já não estamos mais diante de um símbolo e sim diante de um simples emblema. 

O símbolo resulta de uma relação natural, da qualidade essencial da cousa. O emblema, que inicialmente era uma figura de mosaico e depois passou a ser um medalhão e por último qualquer adorno que sirva de insígnia, é, apenas o sinal distintivo de uma dignidade, de um cargo, de uma associação. Enquanto o símbolo tem uma significação primária, o emblema tem a significação secundaria, derivada do símbolo, de uma alegoria, ou de uma divisa. 

Os emblemas são sempre objetos decorativos: anéis, figuras de relevo no fundo de pratos, ou de jarras, berloques pendentes de pulseiras chaveiros correntes alfinetes de gravata, distintivos para lapela, broches para blusa. Não podemos e não devemos confundir símbolo com emblema, porque enquanto o símbolo reúne em si um conjunto de condições que determinam um ser parcular e admite múlplas interpretações; o emblema, embora seja um objeto concreto que representa uma ideia abstrata, tem significação conhecida fixa e constante. 

Fixemos, caro irmão, para evitar confusões, que na Maçonaria, são emblemas ou ornamentos, as alfaias da Loja, as joias, as comendas, que indicam o grau, o cargo ou a qualidade dos Maçons, durante celebração das cerimônias litúrgicas, ou, ainda, as joias e bijuterias que certos Maçons usam no mundo profano. 

Assim, não podemos confundir símbolo com emblema, porque, enquanto no símbolo a analogia é natural, baseada na significação primária do representado; no emblema o relacionamento é convencional e o significado decorrente da significação secundária do representado. 

Nossos Irmãos do passado sabiam muito bem o que faziam, ou então foram conduzidos pela intuição, por uma inclinação inelutável do espírito humano, quando lançaram sobre a simbólica os fundamentos do esoterismo iniciático. 

Com efeito, a linguagem simbólica possui raízes tão profundas na alma humana que, nos momentos críticos da História da Humanidade, foi necessário apelar para a simbólica, pois o símbolo vence nossas inibições e expressa tudo aquilo que temeríamos até desejar.

André Bessa
Fonte: Jornal do Aprendiz - Fevereiro de 2023