Já é hora de dizer não!

Eu sempre gostei de meditação e fiz vários workshops de imersão emocional. Em quase todos o mentor sempre aconselhava: “Seja agradável com seus colegas para eles serem agradáveis com você”. Como se isso fosse a fórmula mágica para sermos queridos pessoal e profissionalmente.
 
Fiquei pensando nisso dia desses. Somos orientados, desde muito novos, para sermos cordiais uns com os outros. É como se a gente só conseguisse sobreviver neste mundo se agirmos desta forma. Durante muito tempo confesso que tinha certa dificuldade de me posicionar em determinadas situações. Afinal, se eu discordar ou negar algo a alguém, me tornaria uma pessoa desagradável?
 
Quando entrei no mercado de trabalho, já como jornalista e, mais tarde, autor de livros e novelas, tive que mudar. Deixei de ser o mais legal da turma, o mais amoroso... Literalmente, virei um “carrasco”. Aprendi a utilizar meus “nãos” com maior frequência.
 
A palavra “não” tem um efeito devastador para alguns. Ela provoca incômodo tanto em quem diz quanto em quem ouve. No ambiente corporativo somos colocados na parede a todo tempo. E o mais engraçado é que quanto mais temos dificuldade em negar, mais algumas pessoas nos demandam. Vejo até como uma espécie de egoísmo, muitas vezes inconsciente, que se instala em quem pede. E isso vai sufocando, até que um dia a gente adoece – porque a angústia se interioriza. Ou também explode. E o final da história todo mundo sabe: amizades se desfazem, laços se estremecem e prejuízos no trabalho acontecem.
 
Como disse, culturalmente somos criados para não desagradar as pessoas. E querer agradar por quê? Porque muitos de nós ligamos nossa autoestima à aprovação do outro. Os psicólogos dizem. É o medo da rejeição, de não ser aceito. E acabam deixando de lado seus desejos e necessidades porque temem ser excluídas. Quando muito, mergulham num processo de auto anulação. Conheço gente assim: arruma de atestado médico a dentadura, só para ajudar os outros. Fico pensando o quanto deve ser sufocante para estas pessoas estarem envolvidas em problemas que não são seus. E que, talvez, elas quisessem o auxílio de alguém para resolver seus próprios problemas ou, até mesmo, alguns momentos de paz. Pior, acabam nas mãos de aproveitadores.
 
Saber dizer não passa pela confiança de si mesmo. O “sim” e o “não” são escolhas. O importante é sabermos qual delas fazer, porque a qualquer momento vamos ter que utilizá-las.
 
Já percebeu que, normalmente, quem tem problema em dizer “não”, não costuma aceitar um “não”?
 
Na vida pessoal ou no trabalho, negar é um grande dilema. Eu bem sei disso. Mas num artigo que li da consultora americana Marla Tabaka, ela afirmou que a arma mais poderosa para que o profissional consiga produzir e não ficar sobrecarregado é aprender a dizer não para si mesmo, para o chefe e colegas de trabalho, para amigos e até mesmo para os clientes.
 
Ela diz que para começar a mudar, devemos conhecer a si próprio, os anseios, limites, necessidades. É preciso ter coragem para lidar com todos os tipos de reações, tendo a certeza que o clima negativo que será gerado passa muito mais rápido do que a angústia que ficará na gente. É a história do tentar negar sendo gentil (quase um “matar sorrindo”). E se a relação se abalar? Bem, neste caso você deve rever se o sentimento que você nutre é recíproco.
 
Falar “não” é tão difícil quanto aceitá-lo. Mas saiba: NÃO é uma palavra mágica!
 
 
Walcyr Carrasco

 

Fonte: lynkedin