Jovens, jovens e jovens

Estávamos a ouvir um grande Irmão, quando terminada a sua fala, ele retorna e lê uma frase que afirmou ter ouvido de outro grande Irmão. Ela havia lhe tocado muito e ele desejava que também ocorresse o mesmo com todos nós. Infelizmente não recordo exatamente das palavras, tão somente do sentido. A gratidão habita no coração.

A lembrança de fato era muito oportuna, visto que estamos vivendo uma época em que as células da Ordem, em nome da "qualidade", vêm expurgando dos seus quadros os obreiros que não apresentam assiduidade regular às sessões de trabalho ou/e para com a tesouraria. São os obreiros ditos adormecidos. É o chamado fenômeno da evasão de obreiros que normalmente irrita por demais os mais jovens. Jovem não em idade física, mas em nível de consciência.

Não perceberam ainda o significado de que "todos os membros da organização são voluntários que foram convidados a fazer parte de uma Ordem secular". Todavia, ao entrarem perceberam que, enquanto instituição, não existe a tal una Ordem secular justa e perfeita. O que de fato existem são organizações soberanas, muitas delas fundadas no Brasil nos anos oitenta do século vinte, que se constituíram em nome do respeito a um conjunto de preceitos limitadores estabelecidos no século XVII. A qual eles foram convidados a tomar parte é apenas uma delas, cuja influência na sociedade local é bastante limitada, às vezes até irrisória.

Um antigo obreiro me revelou que conhece o destino de qualquer obreiro na Organização apenas observando o olhar dele quando da iniciação do mesmo. É possível. Já constatei olhares aflitos e desesperados quando lhes foram retirados às vendas. Como também constatei olhares serenos e conciliadores. Olhares que revelavam que não era bem isto o que esperavam vê, mas que iriam trabalhar para melhorar um pouco o que viam. Todavia, não constato, hoje, que apenas os primeiros fazem parte dos que formam a evasão atual. Muitos do segundo grupo prestaram relevantes serviços à organização, foram elogiados e, quando o peso da idade se fez presente e não puderam mais participar de forma significativa como antes, foram esquecidos... A gratidão parece não habitar o coração dos mais jovens.

Recentemente ouvi de um jovem a frase lapidar: não interessa o seu passado na organização, o que me interessa é o seu presente.

Reconheço o entusiasmo como ele agia na sua missão de primar pela "qualidade dos obreiros". Olhando para aquele jovem senti o sentimento proibido: a piedade. Como é possível delegar a um jovem um papelão desproporcional ao seu nível de consciência? Como não encontrei resposta, retirei-me. 

Também já fui muito jovem e possivelmente já desempenhei igual papel. O sentimento proibido mais uma vez tentou expulsar do meu coração a gratidão. Impossível. 

Sou grato por tudo que a vida me proporcionou. Inclusive a opção de ficar ou de sair da minha casa. Fico cada vez mais, em respeito as minhas limitações atuais, e o faço sem saudades dos tempos em que gostava muito mais de estar noutro lugar.

Hiran, oráculo da Linhagem de Melquisedec.