Juramento Maçônico

Um juramento é uma afirmação de um facto ou de uma promessa, geralmente feito perante ou sobre algo ou alguém que quem o faz considera sagrado ou respeita como tal, como testemunha da natureza vinculativa desta promessa ou da veracidade desta declaração ou facto. Jurar é assumir um compromisso, uma promessa solene, supostamente irrenunciável e inquebrável.

O Juramento Maçónico é um ponto de viragem: faz de um profano, um Aprendiz, de um Aprendiz um Companheiro e de um Companheiro, um Mestre Maçom. De facto, todo percurso maçónico de um qualquer Maçom, é marcado por juramentos.

A promessa solene feita por um Maçon quando da sua admissão em qualquer Grau é sinónimo de dever. O juramento é aquilo que vincula um homem a praticar um acto, cujo cumprimento se torna assim o seu dever. Pelos seus juramentos, o Maçom fica ligado ou vinculado à sua Ordem.

Antes da cerimónia, não existe qualquer laço que ligue o candidato à Ordem de modo a torná-lo parte dela; depois da cerimónia, o laço foi completado, e o candidato torna-se imediatamente um Maçom, com todos os direitos e privilégios e sujeito a todos os deveres e responsabilidades que decorrem desse carácter. O momento “mágico”, o passar das trevas à luz, o momento em que um profano passa a Maçom, é o momento em que jura, porque isso significa não só o assumir da sua condição de Maçom, como o assumir das responsabilidades que lhe estão subjacentes.

Os juramentos são tão antigos como a humanidade e eram utilizados pelos pagãos e bárbaros para garantir a certeza de uma prova ou o cumprimento de uma promessa. Os juramentos eram comuns nos tempos do Antigo Testamento. Nos primórdios da Inglaterra, desde o rei Alfredo até Eduardo I, todos os anos era prestado um juramento de fidelidade ao rei por todos os homens livres. O próprio Rei prestava juramento e, posteriormente, todos os oficiais da Coroa e todos os juízes e jurados. Actualmente, o mundo é mantido unido por juramentos e obrigações. Todos os governantes e administradores, legisladores e funcionários executivos de alto e baixo grau no Estado e nos municípios, e em todas as fases da sociedade humana, estão vinculados pelos seus juramentos de posse. Sem juramentos, o mundo cairia na desordem, na confusão e na anarquia.

Na sociedade civil, verificamos que os laços e as obrigações unem todos os homens. Falamos do vínculo ou laço matrimonial; todas as ordens fraternas, boas, más e indiferentes, são construídas sobre obrigações formais; assim como todas as ordens e sociedades religiosas. O baptismo é uma forma de obrigação e o mesmo acontece com muitas cerimónias da Igreja. Se deixássemos de administrar juramentos ou obrigações, a própria sociedade dissolver-se-ia e, naturalmente, toda a justiça e o bom trato.

O juramento nas “Antigas Cartas” era muito breve:

“Há várias palavras e sinais de um Maçom que vos serão revelados e que, como respondereis perante Deus no grande e terrível Dia do Juízo Final, devereis manter em segredo e não os revelar a ninguém, nem a qualquer pessoa, exceto aos Mestres e companheiros da dita Sociedade de Maçons. Que Deus me ajude“.

Uma obrigação maçónica era originalmente tomada “Pelo conteúdo sagrado deste Livro e da Santa Igreja”, ou “Que Deus me ajude e o conteúdo sagrado deste Livro”.

E contudo, algumas das dificuldades que a Maçonaria enfrentou desde o seu início, originam-se precisamente nos seus juramentos.

Em 1738, foi feita uma objeção a um juramento de segredo feito sobre a Bíblia Sagrada e, alguns anos mais tarde, em 1757, um Sínodo na Escócia condenou a Ordem Maçónica com base em cinco fundamentos, a saber: que é um juramento de segredo; em segundo lugar, que tal juramento é considerado pelos Maçons como sendo superior às leis do país; em terceiro lugar, que esses juramentos são administrados antes de os segredos da Maçonaria serem comunicados; em quarto lugar, que são acompanhados por certas cerimónias censuráveis e, por último, que a cada um deles está associada uma pena que é ridícula e absurda. Haverá alguma base nestas críticas?

Consideremos as objecções apresentadas:

“Os maçons exigem juramentos de segredo”

Um juramento não pode ser censurável ou criticável a não ser que seja imoral; nem simplesmente porque impõe segredo, ou o desempenho de uma boa ação, ou requer que a pessoa que o faz se abstenha de algo censurável, ou obriga a fazer algo que não é proibido pela lei divina ou humana. Quando o tempo, o lugar e as circunstâncias não envolvem leviandade, profanação ou crime, um juramento de segredo, ou de obediência, ou de ser verdadeiro, e invocar Deus para ser testemunha ou para punir alguém pela sua violação não pode ser considerado criminoso ou imoral. Invocar Deus para testemunhar é uma parte reconhecida de todos os juramentos, e invocar a ira de Deus pela sua violação está implícito, mesmo que não seja expresso.

Os juramentos maçónicos são “mais importantes do que as leis dos países”

Para nós, como maçons, esta é uma acusação absurda, pois a observância da lei e da ordem e o dever de patriotismo são deveres primários impostos a todos os maçons. A Maçonaria é patriotismo organizado, defendendo leis justas, lealdade e cooperação. Não há lugar na Maçonaria para a traição ou deslealdade. A Maçonaria é inimiga da anarquia; não tolera o enfraquecimento da virtude pública ou da estabilidade social; e não tem lugar para o homem que conspira por detrás da bandeira que o protege. Uma loja maçónica é uma garantia de boa ordem e força para a comunidade, representa a moralidade e a lei e a cidadania cumpridora da lei. Existem hoje milhares de maçons em cargos de confiança e responsabilidade no Estado. Não se conspira uma rebelião numa loja maçónica, pois a obrigação maçónica liga-nos à rectidão e ao trato justo.

“O juramento é exigido antes que os segredos da Maçonaria sejam revelados.”

Isto também é igualmente absurdo, pois é óbvio que se os segredos fossem revelados primeiro, o candidato teria a opção de o fazer ou não. Se um juramento de segredo é em si mesmo apropriado, então o momento apropriado para tal juramento é antes da revelação e não depois. Se quisermos contar um segredo a um amigo, devemos primeiro exigir-lhe uma promessa de não o contar.

“Os juramentos maçónicos são acompanhados de certas cerimónias”

Todos nós sabemos que todos os juramentos, em todos os países, em todas as organizações, são acompanhados de ritos peculiares, obviamente para aumentar a solenidade da ocasião.

Um hebreu antigo colocava a mão sobre a coxa da pessoa a quem a promessa era feita. Abraão disse ao rei de Sodoma: “Levantei a minha mão para o Senhor e não tomarei nada do que é teu.”

Os gregos colocavam as mãos nos chifres do altar ou tocavam no fogo do sacrifício, ou estendiam a mão direita para o céu e juravam pela terra, o mar e as estrelas. Os romanos punham a mão sobre a mão daquele a quem era feita a promessa. Na China, partir um pires ou apagar uma luz é considerado como um acto de maior solenidade. Actualmente, o juramento judaico em tribunal é feito com o chapéu na cabeça, seguido de um beijo no Antigo Testamento. Nos tribunais ingleses, desde 528 d.C., levanta-se a mão, e beija-se ou coloca-se a mão direita sobre a Bíblia.

“as penas são absurdas e ridículas”

A Maçonaria recorre frequentemente a alegorias como forma de passar ensinamentos e de criar momentos que levem à reflexão, como forma de conseguir a transformação – a tal passagem da pedra bruta a uma pedra menos bruta. É verdade que somos muito criativos nas penalidades a aplicar em caso de violação do juramento: gargantas cortadas, mão cortadas e atiradas para trás das costas, etc… mas talvez por isso mesmo, é fácil perceber que são simbólicas e que pretendem unicamente reforçar a importância do acto de jurar.

Em 1986, uma resolução da UGLE decretou que os chamados ‘juramentos de sangue’ ou as ‘penalidades simbólicas’ seriam daí em diante dispensados das obrigações assumidas pelos Candidatos a qualquer dos três graus ou à Instalação como Mestre da Loja.

Para concluir, vale a pena reflectir sobre a frase: “a importância do acto de jurar”. Será que, nos nossos rituais, nas nossas sessões, conseguimos que quando é feito um Juramento, ele seja mais do que meras palavras? Eu dividiria os nossos juramentos em duas partes: a parte em que se pede segredo sobre o que fazemos, e esta parte parece ser razoavelmente assumida. A segunda parte, é todo o restante.

Os juramentos da Maçonaria são muito antigos e podem ser encontrados vestígios deles nas “Antigas Cartas”. Ao interpretá-las, deve ter-se em conta que estão escritas em linguagem e palavras cujo significado mudou ao longo dos anos. Ultimamente, tem havido alguma controvérsia sobre as cláusulas penais e a sua redação. Qualquer avaliação destas cláusulas deve ser feita à luz do seu contexto original, que remonta aos tempos medievais, ao tempo dos pedreiros operativos. Nessa altura, havia basicamente dois tipos de crimes, a heresia e a traição. A heresia incluía todas as violações dos princípios religiosos vigentes, da moral e dos ideais da igreja. A traição incluía todos os crimes contra a autoridade política e legal do Estado. A pena tradicional para a heresia era a fogueira, ou uma variante da mesma, e para a traição a pena era o enforcamento. Estes dois tipos de castigo eram tão familiares e comuns que se tornaram sinónimos de crimes.

À laia de conclusão, não se esqueçam: o juramento é algo interior e é precisamente nessa interioridade que reside o seu valor – sentirmos ou não o que dizemos, assumirmos ou não o que dizemos, estarmos ou não conscientes da importância do que dizemos,faz a diferença entre um juramento e umas meras palavras, e só cada um de nós pode avaliar o espírito com que as profere.

Duas perguntas finais:

Será que valorizamos devidamente os nossos juramentos?
Será que quando juramos, estamos conscientes do que estamos a fazer?
Ficam as perguntas.

António Jorge,
Mestre Maçom

Fontes
Leitura de diversos rituais
Elementos dispersos recolhidos na Internet

Publicadohttps://www.freemason.pt/