Luvas

 

 

 

O porte de luvas é uma tradição desde tempos imemoriais tanto no que nos diz respeito à vida profana como na transmissão de valores  maçônicos.

Na Maçonaria, as luvas são brancas e são entregues, dois pares ao Aprendiz, no dia de sua Iniciação. Obedecendo a uma antiga tradição, o Ir.’. Mestre de Cerimônias faz entrega: 

Um é para vós; e pela sua alvura vos recordará a candura que deve reinar no coração dos Maçons, e, ao mesmo tempo, vos avisará de que nunca devereis manchar vossas mãos nas impurezas do vício e do crime. O outro será para oferecerdes àquela que mais estimardes e que mais direito tiver ao vosso respeito, a fim de que ela vos recorde, constantemente, os deveres que acabais de contrair para com a Maçonaria. Este oferecimento tem por fim, também, prestar homenagem à virtude da Mulher que, Mãe, Esposa, Irmã ou Filha é quem nos traz consolação, conforto e alento, nas amarguras, nas atribulações e nos desfalecimentos de nossa vida”.

 

As luvas são entregues pelo neófito, à uma mulher, seja ela esposa, filha ou mãe do Irmão, sendo esta de grande importância em sua vida e  quem seu coração escolheu como a mais cara dentre todas. 

Se o neófito não encontrar dignidade na mulher que deveria premiar (sem que isto possa constituir em desprezo ou demasiada rigidez), resta sempre a solução maior, que é a Genitora; sim, porque uma mãe há de merecer do filho o respeito, o amor e a gratidão.

Que gentileza esta lembrança. A Maçonaria ratifica, como um puro ato de amor, a candura que deve reinar no coração da família de seus adeptos. Um preito às virtudes da mulher. Um convite que faz a Maçonaria ao exercício do sadio relacionamento familiar.

 

Sabemos de um Iniciado que não encontrara nenhuma mulher merecedora para receber o par de luvas, uma vez que já não tinha mãe viva. Católico, foi até uma igreja e lá com muita reverência, depositou aos pés da imagem de Nossa Senhora, o par de luvas brancas.

 

Goethe, iniciado em Weimar em 23 de junho de 1780, homenageou Madame Von Stein com luvas simbólicas, e fê-la sentir que se o mimo era de aparência ínfima, apresentava, contudo, a singularidade de não poder ser oferecido por um franco-maçom senão uma única vez em sua vida.

 

Na idade média os juízes da corte inglesa usavam luvas, demonstrando que as suas mãos eram puras e não sujeitas a quaisquer tentações, e entre estas, principalmente, o suborno. Naquela época um prisioneiro absolvido costumava dar ao “representante” da justiça, como paga pela sua absolvição, um par de luvas.

E quando posteriormente, ao invés das luvas, este pagamento era feito em dinheiro, este tinha o nome de “dinheiro de luvas”, expressão que entre nós se conservou até os nossos dias, embora de significação moral bastante deturpada.

Também se emprestava às luvas brancas do maçom o sentido de que suas mãos estavam limpas, por não haverem participado do assassínio de Hiram Abiff.

 

Por isso as luvas, devem ser brancas. Usadas pelo homem, devem relembrar-lhe a mansidão e a pureza a que está obrigado, e aquelas entregues à mulher simbolizam que o Maçom deve ter consideração pelo belo sexo, presenteando-as não à mulher que mais ama, mas àquela que considera mais digna de ser amada.  

 

Amor, união e pureza são, portanto, os significados maiores daquele  par de luvas brancas dedicado à mulheres da família maçônica.

 

Com esta lembrança ritualística a Maçonaria ratifica o amor e a candura que devem reinar no coração da família de seus afiliados. Uma homenagem à presença, à pureza, à segurança, à confiança e a todas as demais virtudes da mulher. O primeiro par de luvas que o Aprendiz deve oferecer àquela que mais estima, exprime que, liberto dos prejuízos profanos e livres das paixões que perturbam o espírito do homem, o Maçom é inacessível às considerações ou às influências passionais que inspiram as manifestações exteriores de um respeito convencional..

 

O Maçom só é obrigado ao respeito justificado pelo valor intelectual ou moral daqueles cujos trabalhos, a vida, a mentalidade e a atitude forçam “a estima” e merecem a homenagem deste sentimento que deve ser, para nós, o que há de mais precioso e de maior. 

O segundo par de luvas deve ser usado em Loja, durante os trabalhos ritualísticos. Para ser digno de eles participarem, o Maçom deve ter as mãos limpas de toda mancha...

Hoje, embora certas Maçonarias tenham deixado cair este costume no esquecimento, sendo apenas exigido ao “Porta Bandeira”, quando da entrada e saída do Pavilhão Nacional, a grande maioria das Oficinas espalhadas através do mundo, não admitiriam em seus trabalhos um Irmão que não estiver enluvado de branco.

Diz Kurt Prober “Só nas sessões fúnebres é contra a boa ética “usar luvas”, da mesma maneira como um Venerável NÃO DEVE USAR LUVA, pelo menos na destra (mão direita), especialmente ao fazer a sagração do Iniciado. O malhete, por sua vez, na mão do Venerável é o símbolo do poder, como o cetro o é na mão de um rei, e ambos devem estar em mão despida”. 

 

 José Castellani (Dicionário Etimológico Maçônico) ensina: “Rigorosamente, as luvas brancas deveriam ser usadas por todos os membros do Quadro de uma Loja, sempre que houvesse Sessão no interior do Templo. Como o seu uso embola o tato, prejudicando a atuação de alguns Oficiais e Dignidades que dele necessitam, por dever de ofício, principalmente nas Sessões administrativas, econômicas, as luvas acabaram ficando restritas às Sessões Magnas, quando devem ser usadas por todos os Obreiros”.

“O Venerável como supremo dirigente da Oficina, deverá sempre portar as luvas, pois elas reforçam a imagem da retidão de caráter evocada pelo Esquadro (que é a Jóia do Venerável Mestre); o mesmo deve acontecer com o Grão-Mestre”.

Diz o Professor Raimundo Rodrigues (Cartilha de Mestre – Editora “A Trolha”): “As luvas brancas completam o traje do Maçom. O que está faltando realmente é levar-se em conta o que preceituam os Rituais e obedecer ao que ali vem escrito. Temos debaixo dos olhos um Ritual de Aprendiz e estamos vendo que, na parte em que trata da indumentária, traz o seguinte:

“Nas Sessões Magnas é exigido o traje a rigor ou o Social completo de cor escura, gravata preta e Luvas brancas”.

“O lamentável de tudo isto é que a grande maioria daqueles que nos governam são os primeiros a dar o mau exemplo, não obedecendo às determinações dos Rituais”.

 

Concluindo - As luvas entregues ao candidato para o seu próprio uso pretendem ensinar-lhe que os atos de um Maçom devem ser puros e imaculados como as luvas que acabam de lhe oferecer...

 

Quando contemplamos nossas mãos lembramo-nos que devem sempre manter-se limpas, e que jamais nossa visão possa vislumbrar máculas comprometedoras.

Em várias Lojas bem organizadas, os membros são regularmente revestidos com suas luvas brancas. O simbolismo das luvas que se poderá admitir é, de fato, apenas uma complemento do avental...

Mesmo que se trate de um simples Símbolo, a Maçonaria preza muito a sua preservação porque constitui imagens da Arte Real.

 

Ao receber as luvas, uma vez que o Mestre de Cerimônias havia lhe cingido com o Avental, o Neófito tratou de calçar o par de luvas que lhe era destinado, mas foi interrompido porque ele ainda não havia sido “proclamado” como Aprendiz Maçom e Membro do Quadro da Loja.

 

* Valdemar Sansão

    vsansao@uol.com.br

 

    Fonte de consulta“Depois da IniciaçãoCartilha aguardando publicação (Valdemar Sansão).