Maçonaria e Religiosidade


 

As afirmações a respeito do que Maçonaria é o que consta ou não de seus ensinos, fundamenta-se na ideia de que esses temas acham-se desenvolvidos nas iniciações dos diferentes graus, suas instruções (aquelas que não tiverem sofrido alterações significativas), e documentos maçônicos tradicionais.

A Maçonaria como instituição tem o objetivo geral de inspirar e estimular os homens a praticarem os ideais da Fraternidade Universal. Muitos maçons dizem:
- Não pode ser só isso! De fato, não é “Só Isso”, é “Tudo Isso”!

Se a os homens aprendessem a pôr em primeiro lugar os princípios da fraternidade, acima de interesses pessoais, religiosos ou políticos, a humanidade viveria em paz, e seus principais problemas seriam resolvidos. Para que isso seja possível, é necessário que cada um “Desbaste sua Pedra Bruta”, o que significa trabalhar para a eliminação, superação, de deficiências pessoais, e ao mesmo tempo acentuar a prática das virtudes, a fazer melhor, mesmo aquilo que já está bom. Ensina a Maçonaria que o aprimoramento pessoal é possível e necessário.

É nisto que reside o trabalho maçônico, também referido como “levantar templos à virtude e cavar masmorras aos vícios”.
Uma consequência desse objetivo, é o fato da Maçonaria tradicional manter-se neutra no campo filosófico/religioso.
Não por desconsiderar ou menosprezar o tema, mas para deixar a mais ampla liberdade de posicionamento de seus membros, que precisam aprender a conviver fraternalmente com homens que individualmente filiam-se a diferentes religiões e partidos políticos, e a trabalhar com eles em harmonia em prol do bem comum.

A Maçonaria não tem objetivos religiosos. Isto é, ela não desenvolve nenhuma doutrina ou procedimento visando produzir ou facilitar o contato de seus filiados com os aspectos transcendentes da realidade.

Também o aperfeiçoamento maçônico proposto, não visa alcançar nenhum estado de beatitude transcendente em um Céu, Paraíso, Nirvana, ou Realidade Superior, mas sim para “Tornar Feliz a Humanidade”.

Admite a existência de um “Princípio Criador”, ao qual nomeia “Grande Arquiteto do Universo”, mas sobre o qual não desenvolve qualquer doutrina sobre sua natureza, atributos ou interação com a humanidade.

De forma semelhante, acredita na “Imortalidade da Alma”, sem propor doutrinas, detalhes conceituais ou definição da natureza dessa alma, ou de como se dá essa “Imortalidade.” Um dos graus superiores do REAA diz que essa afirmação existe porque o homem precisa ter esperança. Assim, não existe “Deus Maçônico” ou “Conceito maçônico de Deus”. O conceito de Deus de cada maçom é aquele da religião, ou escola filosófico/religiosa a qual ele se filia.

Maçonaria não ensina Cabala, nem Teosofia, nem Rosacrucianismo, nem espiritismo, como sugerem alguns maçons.
Quando da formatação dos graus dos diferentes ritos regulares, entre meados do século XVIII e o final do século XIX, seus formuladores buscaram inspiração, símbolos e referências conceituais em diferentes instituições, de épocas e países diferentes.
A todos esses elementos foi dada interpretação maçônica, muitas vezes diversa daquela de seu contexto original. São esses elementos simbólicos que muitos maçons utilizam para projetar diferentes instituições sobre a Maçonaria.

Cabe às lojas, no desenvolvimento dos diferentes graus elucidar o significado maçônico dos símbolos e figuras utilizados para compor o “cenário” e o “figurino” de cada um dos dramas ritualísticos dos graus, e sua correspondente mensagem maçônica.
Concluindo, a liberdade de pensar defendida pela maçonaria permite que cada maçom adote religiões diferentes, escolas de pensamento místico/filosóficas diferentes, partidos políticos diferentes, etc.

Ela não pode ser interpretada, porém, como permissão para cada um interpretar a natureza e objetivos da instituição maçônica de acordo com suas preferências pessoais.

Essas definições existem já configuradas nos documentos e rituais maçônicos tradicionais e, se forem alteradas, estaremos criando algo que pode até manter o mesmo nome, mas não será mais a Maçonaria tradicional.

Eleutério Nicolau da Conceição

Loja "Alferes Tiradentes" Nº 20

Florianópolis-Santa Catarina